O alarme já havia soado forte no primeiro turno. O segundo turno, por sua vez, abrigou uma certa esperança de barrar Nicolas Sarkozy. Porém, com mais de 53% dos votos, não cabe apelo à vitória da direita. Uma direita dura, ultra-liberal, revanchista e que não hesita em reivindicar as pautas da extrema-direita chegou à Presidência. Para todos aqueles, milhões do mundo do trabalho e dos bairros populares, que temem a política que se anuncia, para todos os democratas, mulheres e homens de esquerda desse país, é um choque, uma péssima novidade, difícil de aceitar.
Nicolas Sarkozy levou à vitória uma direita sem vergonha de sê-lo, que colocou como objetivo a reconquista ideológica e que, de forma incontestável, marcou alguns pontos nesta batalha. Uma direita que procura a divisão e a obstrução para promover suas soluções individualistas e racistas. Uma direita que também mente muito, que fez seu candidato passar por um homem de ruptura, quando a única ruptura que incorpora seriamente é aquela que ele aspira impor contra as nossas conquistas sociais. Uma direita que fez os assalariados, que vivem com a corda no pescoço, acreditarem que ganhariam mais se trabalhassem mais, quando se tratava, na realidade, de explorar mais. Uma direita que fala com orgulho nacional quando se trata de preparar a submissão ao capitalismo globalizado. Essa direita prometeu muito. Será necessário estar ao lado de todos aqueles que vão pagar caro com a implantação dessa política reacionária.
Esta vitória da direita é também uma derrota muito dura para a esquerda. É a terceira derrota consecutiva da esquerda em uma eleição presidencial. E será necessário à esquerda, a toda esquerda, fazer uma análise profunda para superar essa conjuntura. Ao escolher uma estratégia ultrapresidencialista, despreoucpada, face a uma direita na ofensiva, o debate de fundo, projeto contra projeto, fez com que as pessoas considerassem mais importante o voto útil do que a confrontação política. O Partido Socialista fez uma escolha pela qual toda a esquerda vai ter que pagar, e logo. As forças sociais e políticas que, à esquerda, alertaram para esse perigo, como o Partido Comunista, não conseguiram, entretanto, fazer frente ao desafio e escapar da armadilha. Lições devem ser tiradas também.
Longe de ajudar a esquerda, a ascensão do centrista François Bayrou embaralhou ainda mais situação. Contar com esta novidade nas eleições legislativas será um erro terrível. Este debate, contudo, deve ser travado pois Ségolène Royal já nunciou que vai tentar seguir por esse caminho. Além das batalhas do cotidiano que a política da direita estará pautando, as eleições legislativas se anunciam muito importantes. Marcadas para daqui a cinco semanas, na sequência das eleições presidenciais, elas são concebidas dentro do espírito de promoção da lógica presidencialista, como uma repetição amplificada da votação que acaba de terminar. Mas os eleitores podem por fim a essa lógica e não dar à direita de Sarkozy plenos poderes. Os milhões de eleitores e eleitoras de esquerda que perderam a batalha presidencial têm a responsabilidade de eleger um grande número de deputados de esquerda e, particularmente, de deputados comunistas, determinados a resistir à política anti-social que se anuncia e capaz de levar adiante soluções alternativas.
A paisagem política do quinquênio que segue não será diferente do caminho que a ser definido pela eleição do legislativo, em 10 e 17 de junho. É a primeira etapa de uma indispensável e necessária contra-ofensiva.
Pierre Laurent é jornalista francês.
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