Não sou um pessimista, creiam. Ao menos se no pessimismo localizamos desesperança. Mas costumo cultivar a idéia de Gramsci do pessimismo da inteligência, otimismo da vontade. Não alimento nenhuma visão idílica do mundo, especialmente se olho o entorno e vejo anúncios da barbárie, para dizer de modo quase inocente.
Se cultivo Gramsci, pelo menos nesse aspecto recorro também com alguma freqüência, e o fiz recentemente nesse espaço, a Walter Benjamin, que via no progresso sempre os sinais evidentes da barbárie.
Recentemente, li matéria que me deixou perplexo.
Na Folha de São Paulo, assinada por Ricardo Bonalume Neto, noticiava-se que os EUA estavam desenvolvendo duas armas novas com princípios diferentes: uma voltada para causar dor e matar com mais precisão; outra, para causar dor com precisão, mas sem matar. Esse é o capitalismo norte-americano, com seu complexo industrial-militar, há tanto tempo um dos centros de acumulação do grande irmão do Norte.
A pesquisa científica ali não é inocente. Tem interesses a atingir. Está voltada para a morte e a dor. Para provocá-las. E tem sempre bilhões de dólares à sua disposição. Como será que se sentiram os inventores da bomba atômica? Simples instrumentos da barbárie. À história pouco interessam os seus dramas existenciais.
O projeto do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, garantiu que os mísseis Trident lançados de submarino terão mais precisão e eficácia. Já um outro grupo de militares e civis desenvolveu uma espécie de arma de microondas capaz de causar intensa e angustiante dor sem o objetivo de matar a vítima. Ainda em fase experimental, é conhecida, vejam só como o discurso é sofisticado, como Programa de Demonstração de Tecnologia do Conceito Avançado do Sistema Ativo de Negação. Ou ADS.
Trata-se de uma arma que emite feixes de energia com comprimentos de onda milimétricos capazes de inflamar as terminações nervosas, fazendo a pessoa sentir como se estivesse queimando.
Armas não-letais, mesmo as mais comuns, podem causar dano e até morte se atingirem a pessoa em pontos delicados do corpo.
A arma, que levou 12 anos para ser aperfeiçoada, está sendo agora testada operacionalmente nos EUA. Ela foi desenvolvida pela empresa Raytheon, a mesma que cuidou do programa brasileiro Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
Existe uma versão comercial, que garante a eficácia do feixe de dor a mais de 250 metros de distância. A versão do Pentágono alcançaria até 500 metros.
Será tudo verdade? Desconfio que não. Que pode ter havido algum equívoco. Que não se perderia tanto tempo para tanta barbárie. A ciência a serviço da dor e da morte. Mas, como há exemplos anteriores, tão bárbaros como este, penso que pode ser tudo verdade. Uma verdade contra a qual nós devemos lutar de modo muito obstinado.
pessimismo da inteligência nos convida à luta, ao otimismo da vontade. Nos chama à luta política para uma humanidade solidária, amiga da vida e não da morte e da dor. Para que a barbárie não vença.
*Por Emiliano José é professor aposentado da Faculdade de Comunicação (FACOM) da Universidade Federal da Bahia (UFBA. Em 1999, defendeu a tese “A Constituição de 1988, as reformas e o jornalismo de campanha”, tornando-se doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas. Começou a carreira jornalística na Tribuna da Bahia, passou pelo Jornal da Bahia, O Estado de S. Paulo, O Globo, e pelas revistas Afinal e Visão. Foi um ativo integrante da imprensa alternativa nos tempos da ditadura.
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