Bahia mestiça

Baiano de Salvador, Juarez Duarte Bomfim é sociólogo e mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor em Geografia Humana pela Universidade de Salamanca, Espanha; e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)
Baiano de Salvador, Juarez Duarte Bomfim é sociólogo e mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor em Geografia Humana pela Universidade de Salamanca, Espanha; e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)

A economia do Brasil Colônia se estruturou através do sistema de monocultura açucareira, latifúndio e trabalho escravo, com a imposição por Portugal de novos padrões econômicos e culturais, com os europeus buscando impor os seus valores, as suas crenças e as suas práticas, submetendo os índios e os negros africanos ao trabalho escravo nas plantações.

Desse encontro de culturas e na forma como se deu – a migração forçada de africanos, a escravização dos índios e a vinda organizada de homens degredados portugueses – formou-se na cidade do Salvador, berço da cultura brasileira, uma “população polícroma, interessante no viver, no vestir, nos hábitos e costumes, gente onde havia brancos, índios e negros, cristãos novos, judeus, ciganos ou mouros, soldados do presídio, degredados, indivíduos com os estigmas do crime, desorelhados uns, mutilados nos dedos outros, escravos seminus ferrados no rosto, falando uma meia língua, misto do português com o africano ou com o tupi”, nas argutas palavras de Theodoro Sampaio.

E como resultado das contingências do lugar e do momento, estabeleceu-se um intenso intercurso sexual interétnico, não interrompido nem quando o padre Manuel da Nóbrega, preocupado com a prática da poligamia indígena adotada pelos europeus recém-chegados, escreve uma carta ao rei de Portugal solicitando o envio para cá de mulheres brancas.

Segundo o poeta Antonio Risério “o sonho lusitano da transplantação cultural não teve como vingar. Toda uma ativa – intensa e extensa – simbiose biológica e cultural cruzou, de uma ponta a outra, o primeiro século da vida brasileira. E a projetada ‘Nova Lisboa’ se converteu, então, em algo que não fora previsto. Numa entidade original. Assim, ao fim do século XVI, a Cidade da Bahia é uma cidade tropical de feitio essencialmente luso-afro-ameríndio”.

Dessa maneira, já no século XVI se formava a sociedade mestiça baiana, extremamente colorida e variada. A mestiçagem brasileira não encontra paralelo em nenhuma outra parte do império português e é impar no mundo. E é dessa simbiose, mescla e sincretismo, que influenciará até a própria arquitetura colonial, com técnicas construtivas e materiais de construção “ameríndios” usados sob projetos e desenhos europeus, que nasce a cidade do Salvador.


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