Poetema: Morcego

Encontraram-se outro dia , por acaso em um bar
No horário de almoço, mal puderam conversar.
Eram velhos conhecidos, pela vida separados
Namorados na infância, mas agora bem casados.

Neste dia o destino lhes pregou uma surpresa
Pois por falta de lugares, os sentou a mesma mesa
Logo se reconheceram, já na hora da salada
Ele murmurou baixinho: Mas você não mudou nada.

Ela riu, olhou pra ele , disfarçando a emoção
‘Nem você , devo dizer-lhe, continua sendo um pão
E como está de vida, já casou, tem quantos filhos
Sente-se realizado? Tudo anda sobre trilhos?’

Perguntando , o fitava com aquele mesmo olhar
Que havia alguns anos, o fazia suspirar.
“ Estou muito bem de vida, adorando nosso papo’
Ao brindar a mão tremia e manchou o guardanapo.

‘O trabalho me absorve, como sempre sou ativo
Consegui fazer carreira, hoje sou executivo’
E falou sobre a esposa, o emprego, as crianças
Evitando, com cuidado, mencionar velhas lembranças.

‘E você, sempre bonita , como se saiu na vida?
‘Bem, para ser bem sincera sinto-me desiludida.
Dou um duro desgraçado, consegui um bom emprego
Meu marido diz , brincando, que pareço um morcego

Cubro a vida noturna por deveres do ofício.
Mas seguindo este ritmo, eu acabo num hospício.
Vou em tudo que é boate e de modo indiscreto
Imitando o morcego entro e… grudo no teto.

E de lá vou observando o ambiente, os casais
E publico a coluna ‘Socialaite’ nos jornais.
Perco a noite e de dia vou a caça de fofocas
Não trabalho mais sozinha. Contratei diversos focas.

Conversaram mais um pouco, mas no fundo o presente
Pouco ou nada lhes dizia, era-lhes indiferente
Relembraram a escola, onde ambos eram ‘crânios’
Ao pedir a sobremesa, eles eram dois estranhos

Ele quis pagar a conta, quase resultou em briga
Dividiram meio a meio, despediu-se da amiga
Ela se afastou com pressa, entre mesas ondulando
Ele se quedou imóvel e permaneceu sonhando.

Tinha sido um impacto, mesmo sem mexer no ego
Sim, gostara da menina, e agora do morcego.
Quando a reencontraria em um mês ou em um ano
Ele então a chamaria BAT, se fosse americano.

CHAUVE SOURIS a chamaria , se na língua de Chirac
Se a visse na Romênia chamaria de LILIAC.
Ou MURCIELAGO na Espanha, no Peru ou Argentina ,
Mas porque sempre distante? .Era essa sua sina?

Personagem de opereta, ela era FLEDER MAUS
Ela lhe pertenceria se seu nome fosse Strauss
Se gritasse PIPISTRELO em Milano ou em Palermo
Talvez ela lhe curasse o seu coração enfermo.

Mas assim, esse encontro tinha sido tão sem graça
Só algumas calorias e um bom prato de massa.
Mas jamais a perderia, concluiu com ar hilário
“A encontrarei , querida, mesmo se num dicionário”.


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