Surpresa. A mídia baiana divulga visita do presidente de Cuba com isenção e (quase) sem ranço ideológico | Por Oldack Miranda

Oldack Miranda fez parte da resistência democrática e foi preso e torturado por prepostos da ditadura militar.
Oldack Miranda fez parte da resistência democrática e foi preso e torturado por prepostos da ditadura militar.

A bem da verdade, não só a imprensa baiana noticiou com isenção a visita do presidente de Cuba, Raul Castro, a Salvador nesta quarta-feira (22/07/2009). A Folha de S. Paulo deu a manchete: “Após giro pela África, líder cubano faz escala na Bahia e cumpre agenda turística”. O texto assinado pelo jornalista Matheus Magenta começa assim: “O dirigente máximo cubano Raul Castro…”. Adiante informa: “Bem humorado, o líder cubano posou para fotos…”.

Bem, não cheguei a ler os jornais mais reacionários, como Estadão e O Globo. Faço o registro porque tradicionalmente a imprensa brasileira trata o presidente, líder, dirigente de Cuba como “ditador”, numa agressão ideológica e desrespeito à soberania do povo cubano. Como se todo mundo fosse obrigado a escolher a “democracia representativa ocidental” que, aliás, não anda muito bem das pernas.

O jornal A Tarde publicou a manchete: “Castro come acarajé e elogia mulher baiana”, seguida de uma frase de apoio: “Presidente de Cuba aproveita parada técnica para visitar Salvador, onde percorre o Centro Histórico”. O texto do jornalista Vítor Rocha informa: “Uma paradinha para curtir o Pelourinho, comer um acarajé e encontrar um amigo. Foi assim a visita do presidente de Cuba, Raul Castro, a Salvador…”.

A Tribuna da Bahia noticiou: “Raul Castro, presidente de Cuba, visita o Pelourinho”.

O Correio da Bahia lascou:”Faxina no Pelô para visita do presidente cubano” e o texto tem presidente pra cá, líder pra lá.

O ranço ideológico ficou por conta de alguns poucos colunistas. Vera Magalhães, da coluna Painel da Folha de S. Paulo fez um comentário sobre a “ajeitada” que o prefeito e o governador deram no Pelourinho. Como se ela mesmo recebesse alguma visita no seu apê luxuoso em São Paulo com a casa desarrumada e suja.

A exceção mesmo partiu do colunista e ex-vereador carlista Emerson José, do jornal Correio da Bahia: “Se para um ditador houve essa mordomia, imagine se passar por aqui algum democrata”. O novo colunista porta-voz da direita baiana se esqueceu que seu líder maior, o falecido ACM, recebia sempre com pompas e festas o comandante Fidel Castro. Aí ele ficava caladinho lá na Câmara Municipal.

*Por Oldack de Miranda é jornalista, escritor (foi co-autor do livro biográfico Lamarca, Capitão da Guerrilha), é Assessor de Comunicação e Ouvidor Especializado do DESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A.


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