Surpreende a insensibilidade das sacoleiras brasileiras frente a um bem cultural da mais alta qualidade – como o Taj Mahal ou o Templo Akshardham, por exemplo – os quais não merecem sequer um breve olhar contemplativo, preocupadas que estão em encher as malas de insignificantes badulaques.
Uma enfermidade acomete brasileiras e (alguns) brasileiros em visita à terra de Bharata (Índia): aquisitite ou “japramala”.
Aquisitite é a compulsão para a compra (aquisição) de qualquer bugiganga ou quinquilharia que lhes ofereçam os milhares de vendedores ambulantes – ou que estejam expostos nas portas das precárias lojas de lembranças para turistas.
Japramala é um neologismo originado do substantivo masculino “japamala”, o rosário indiano. Após a aquisição do badulaque, as mulheres adictas às compras os empurram para as já abarrotadas malas de viagem.
Brasileiras e brasileiros passam a ver aquele exótico e cativante país como uma grande feira livre, uma continental Ciudad del Este (Paraguai) asiática. Daí a origem do termo “Indiaguai”.
Surpreende a insensibilidade das sacoleiras brasileiras frente a um bem cultural da mais alta qualidade – como o Taj Mahal ou o Templo Akshardham, por exemplo – os quais não merecem sequer um breve olhar contemplativo, preocupadas que estão em encher as malas de insignificantes badulaques.
A visita dos excursionistas brasileiros a Jaipur (Índia) e outros patrimônios culturais da humanidade foi prejudicada pela compulsão às compras de algumas poucas sacoleiras infiltradas no grupo. O precioso tempo era perdido em locais de artesanato sofrível, enquanto eram canceladas as visitas a importantes monumentos de interesse histórico, arquitetônico, artístico e cultural. Agruras do turismo em grupo.
O câmbio aparentemente vantajoso (22 rupias para um real) dá a ilusão de que tudo é baratíssimo, mas algumas surpresas não muito agradáveis podem alcançar as neo-sacoleiras brasileiras.
Em não sendo sacoleira profissional e não tendo competência e paciência para a pechincha, fazendo uma ligeira contraproposta ao que o vendedor estabelece como preço inicial do seu produto, numa forma de leilão as avessas, a iludida compradora pode levar para casa um produto de má qualidade por um valor superfaturado.
Isto se não exagerarem ao ponto de, na hora do check in para a viagem de retorno ao Brasil, serem informadas do alto preço a pagar por excesso de peso da bagagem, e serem obrigadas a abandonar e descartar em pleno saguão do aeroporto indiano aquelas inúteis mercadorias.
Não existe ética nos negócios dos vendedores de bugigangas nos locais de visitação turística na Índia. O preço inicial do produto é anunciado sempre acima do preço real. O que é ofertado por 100 rupias, por exemplo, de fato pode valer 30, e muitas afoitas brasileiras acreditam que fazem bom negócio em adquiri-las por 80 rupias.
Ao verem o olhar de desejo das hipnotizadas turistas pelas suas dispensáveis mercadorias, alguns vendedores passam a persegui-las obsessivamente, o que talvez até gostem, porém para insatisfação e desgraça da resignada vítima (isto é, namorado, marido) que porventura acompanhe tal compulsiva compradora.
As indefectíveis conversas sobre compras são centrais entre as mulheres excursionistas, o desejo de consumo de umas contaminando as outras.
Turismo histórico-cultural? Turismo religioso? Nem pensar. Ou é secundarizado. Para as sacoleiras do Brasil a Índia se tornou um grande paraíso de compras. Uma “Indiaguai”.
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