Para que serve um intelectual?

Baiano de Salvador, Juarez Duarte Bomfim é sociólogo e mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor em Geografia Humana pela Universidade de Salamanca, Espanha; e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).
Baiano de Salvador, Juarez Duarte Bomfim é sociólogo e mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor em Geografia Humana pela Universidade de Salamanca, Espanha; e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).
Para que serve um intelectual?
Para que serve um intelectual?

O cientista político francês Raymond Aron certa vez, parodiando o profeta da Biblioteca do Museu Britânico, cunhou célebre frase: “o marxismo é o ópio dos intelectuais”. Continua atual.

Um dos grandes enigmas filosóficos — com o qual usualmente me deparo — é buscar entender porque colegas e amigos da minha geração, de uma geração anterior (a chamada “geração 68”), e de uma geração posterior — isto quer dizer que há uma reprodução geracional — por que gerações de brasileiros, quiçá jovens e adultos do mundo inteiro, têm fascínio, admiração e atração pela já caduca “revolução cubana” e seu líder, Fidel Castro.

E quando vão visitar a ilha, mesmo vendo in loco a triste realidade de penúria material e privação de liberdades do povo cubano, voltam tecendo loas ao regime castrista.

Lembro de certo professor, teólogo e filósofo, com uma proeminente pança que denunciava a sua inclinação por um bom prato, retornar ao Brasil fazendo franciscanas declarações de que tinha aprendido uma importante lição em Cuba: de que é possível viver sem ter muito, ou tendo muito pouco, inclusive pouco alimento, pois a escassez alimentar crônica desenvolveu naquele país uma população de “delgados” (pessoas magras), o que, salvo a fome, não é uma coisa tão ruim.

O cientista político francês Raymond Aron certa vez, parodiando o profeta da Biblioteca do Museu Britânico, cunhou célebre frase: “o marxismo é o ópio dos intelectuais”. Continua atual.

A já célebre blogueira cubana Yoani Sánchez descreve no seu blogwww.desdecuba.com/generaciony o seu cotidiano na cidade de Havana, e suas aspirações de cidadã, que são as mesmas de qualquer “classe média” brasileiro que viveu sob a ditadura militar: bem-estar material associado a liberdades democráticas.
Como se trata de um regime totalitarista, de partido único, com a tentativa de supressão total de qualquer pensamento divergente à propaganda oficial, com rara sensibilidade a articulista trata da opressão cotidiana, da condição de menoridade da população tutelada pelo Big Brother; ideologização exacerbada de todos os setores da vida social, particularmente no sistema de ensino. Isso tudo descrito com exemplos vivos, corriqueiros.

Faço este preâmbulo para comentar, com assombro, recente artigo do conhecido político e teólogo Frei Betto, desqualificando esta blogueira e dissidente política cubana Yoani Sánchez, colocando suspeita sobre a veracidade da denúncia de perseguição política que ela e seus amigos sofrem naquela ditadura insular, e o recente espancamento que Yoani sofreu, perpetrado pela Gestapo local.

O Frei Betto levanta até uma surpreendente “teoria da conspiração”, de que a jovem senhora, dona de casa e mãe do garoto Téo, é financiada por organismos de segurança internacionais, como a CIA, para tentar desestabilizar o regime cubano.

E o Betto frei afirma que é ingênuo quem acredita na blogueira… Bem, se o eminente teólogo não age de má fé ao tecer essas considerações, devolvemos a pergunta: quem, de fato, é o ingênuo ao escrever sobre a triste realidade do alegre povo cubano?

É um acinte à inteligência dos leitores o tal Frei Betto escrever coisas como que “11 milhões de habitantes de um país pobre” vivem “com dignidade”, quando a penúria material e a opressão política cristalizada a cinquenta anos roubou o corpo e a alma daquele pobre povo.

E o falacioso Betto contrapõe o seu idealizado paraíso terrenal (Cuba dos Castros) ao “capitalismo, que exclui 4 bilhões de seres humanos de seus benefícios básicos”, buscando criar uma antítese para uma falsa tese, pois do que aqui se trata é da contraposição entre ditadura e liberdade, prosperidade e miséria, independente da ideologização tendenciosa de categorias políticas e econômicas.

O dito Frei Betto tem muitos méritos, sejamos justos: é um escritor e palestrante admirável, tem uma ética e reputação tida como ilibada, testada quando se afastou do governo Lula no episódio do mensalão, escrevendo um livro narrando como os antigos companheiros de militância iam com muita sede ao pote da corrupção, uma vez instalados em funções públicas. Mas não deu nome aos bois nem foi muito contundente. O que até se entende, devido à sua lealdade ao governo que serviu.

Escritor profícuo, Frei Betto tem mais de cinqüenta livros publicados, entre eles um mistificador “Fidel e a Religião”, que tenta provar que Fidel Castro é o mais cristão entre os cristãos, apesar de cruel tirano totalitarista.

Para que serve um intelectual? Utilizar a sua mente supostamente brilhante para a criação de uma falsa realidade, certamente não serve. É o que nos mostra Frei Betto em mais um sofismático artigo.

Para saberem mais leiam:

Frei Betto, a blogueira e uma Cuba imaginária. Por Samarone Lima

A blogueira Yoani e suas contradições. Por Frei Betto

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=120797&id_secao=6


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