Jovem cineasta brasileiro desponta na indústria audiovisual norte-americana ao integrar a equipe da Ridley Scott and Associates, em Los Angeles, enquanto desenvolve projetos autorais e planeja também atuar no mercado cinematográfico nacional.
Felipe Machado, 22 anos, trabalha atualmente na Ridley Scott and Associates, uma das produtoras mais respeitadas de Hollywood, e projeta ampliar sua atuação tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Natural de Curitiba (PR) e criado em Joinville (SC), o jovem cineasta vive nos EUA desde os 12 anos e trilha um percurso que combina formação acadêmica, experiência internacional e projetos autorais reconhecidos em festivais de cinema.
No início de 2009, Felipe se mudou para Los Angeles, impulsionado pelo desejo de estar próximo da maior indústria cinematográfica do mundo. O estágio de quatro meses na empresa de Ridley Scott abriu portas: ele atuou como assistente de produção, participou de gravações de comerciais de TV e videoclipes e passou a produzir materiais próprios que chamaram a atenção da equipe. O jovem relata que “gostaram do que fiz”, sinalizando que seu trabalho conquistou credibilidade dentro da produtora.
Felipe é o único brasileiro na equipe e reconhece que a diversidade cultural pode ser um diferencial positivo em Hollywood. Segundo ele, profissionais da empresa afirmaram que ter origem estrangeira contribui ao trazer “outro ponto de vista”, ainda que o cineasta considere que mais determinante é a dedicação técnica e criativa de cada profissional.
Trajetória internacional e primeiros reconhecimentos
Antes de chegar à Califórnia, Felipe estudou cinema no Fitchburg State College, em Massachusetts, onde ampliou sua formação em direção, roteiro e produção. Ainda durante a graduação, produziu filmes de curta-metragem que o colocaram no circuito de festivais.
O drama “Sarah”, escrito e dirigido por ele, foi selecionado pelo Mosaic Film Festival 2009, em Los Angeles, e exibido no Short Film Corner do Festival de Cannes em 2008, espaço dedicado ao incentivo de novos talentos. A obra aborda temas como medo e amor, dois eixos recorrentes no cinema autoral contemporâneo.
Felipe também acumula experiência com documentários, gênero no qual explora histórias intimistas. Entre eles, destaca-se a produção sobre um professor em processo de aposentadoria, apresentada na cerimônia de fim de ano da instituição onde estudou.
Estilo, referências e ambições no cinema
Felipe transita entre dois polos expressivos de sua criação: dramas densos e comédias de humor absurdo. Ele afirma que suas comédias são “meio malucas”, estruturadas em situações inusitadas e personagens excêntricos, enquanto seus dramas exploram conflitos psicológicos e emoções intensas. Para os documentários, a escolha de personagens é feita de forma meticulosa, priorizando histórias humanas e afetivas.
Entre suas referências centrais está o próprio fundador da empresa onde trabalha: Ridley Scott, diretor de clássicos como Blade Runner, Thelma & Louise e Gladiador. O jovem brasileiro vê na trajetória do cineasta britânico um exemplo de rigor estético, disciplina e capacidade de construir narrativas universais.
Além da carreira internacional, Felipe manifesta o desejo de, no futuro, atuar também no mercado audiovisual brasileiro. Segundo ele, “talvez algum dia ir para o Brasil e ser diretor lá também”, indicando que sua formação multicultural pode dialogar tanto com Hollywood quanto com o cinema nacional.
Projetos atuais e perspectivas
Entre os novos projetos, Felipe está escrevendo um curta-metragem sobre o caso Eloá Pimentel, que resultou na morte da jovem em 2008 após o mais longo sequestro e cárcere privado já registrado em São Paulo. O crime teve repercussão nacional e internacional e permanece como um dos episódios mais marcantes da crônica policial brasileira.
A produção do filme depende da arrecadação de fundos, seja no Brasil ou nos Estados Unidos, mas o cineasta afirma manter confiança no projeto. O objetivo é transformar o curta em uma obra capaz de dialogar com audiências amplas, preservando a gravidade dos fatos e explorando dimensões emocionais e sociais do caso.
Felipe considera que o caminho para se consolidar em Hollywood é longo e exige perseverança. Como ele sintetiza, “não acontece da noite para o dia”. Ainda assim, acredita firmemente que verá seus projetos nas grandes telas, nos EUA e no Brasil.
A formação de talentos brasileiros no exterior
A trajetória de Felipe Machado revela a crescente presença de jovens brasileiros qualificados na indústria do audiovisual internacional. Sua formação fora do país, combinada com experiência prática em uma produtora de alto nível como a Ridley Scott and Associates, reforça a valorização global de competências técnicas e repertórios culturais diversos. Ao mesmo tempo, evidencia a dificuldade de jovens diretores encontrarem, no Brasil, caminhos estruturados para formação e financiamento.
O caso também levanta questões sobre a circulação de talentos: profissionais qualificados buscam oportunidades em mercados mais previsíveis, enquanto o cinema brasileiro enfrenta ciclos de expansão e retração. A intenção declarada de Felipe de atuar no Brasil sugere que um ambiente institucional mais estável poderia atrair de volta jovens criadores que hoje se destacam no exterior.
Por fim, sua escolha de adaptar o caso Eloá demonstra sensibilidade ao impacto social da narrativa. Esse tipo de projeto, se tratado com responsabilidade estética e ética, contribui para aprofundar debates públicos ao transformar eventos traumáticos em reflexões cinematográficas.
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