Amizade de político | Por Carlos Lima

Campo cheio de incertezas e decepções

Na abertura do meu programa na Rádio Povo resolvi falar sobre a amizade dos políticos, (com raras exceções) a qual se situa entre o obscuro e o irrelevante, e tem origem em situações vividas por mim e por outras pessoas que tiveram a oportunidade de passar por diversas experiências nesse campo cheio de incertezas e decepções.

Os conceitos de amizade e inimizade transitam no da política com certa desenvoltura e falsidade. Aliás, o realismo político desconfia muito da amizade. Ela pode ser ocasionalmente incensada, conservada, aceita, aquecida, disfarçada e até menos prezada, a depender dos interesses de ocasião ou colocada em evidência para atender interesse eleitoral, e quando é importante demonstrar publicamente que o grupo permanece unido em torno de uma ação partidária ou de uma mesma tendência.

Daí vem à pergunta: Governar com amigos ou com adversários? (veja que eu não disse inimigos)

A pergunta não deixa de ser provocativa. É sem dúvida uma verdadeira questão legítima, principalmente quando se comparada a real prática política, gostemos dela ou não.

Existe uma infinidade de ditos, máximas e aforismos nas obras e ações políticas de todos os tempos, de todos os partidos políticos, de todos os políticos que se constitui numa verdadeira enciclopédia versando sobre a temática do inimigo, do adversário, do eleitor e do amigo na política.

O pensamento realista, o individualismo na busca do poder, pelo político partidário, demonstra e confirma que o homem, prefere sempre lidar com interesses a lidar com sentimentos.

Interesses são definidos, são quantificáveis (dinheiro) e suscetíveis de negociação.

Sentimentos são volúveis e exigem reciprocidade que não podem ser ofertadas por eles. É melhor soluções quantificáveis, essas podem ser controladas, do que posições sentimentais que são plenamente instáveis.

A atmosfera do poder, se não torna a amizade impossível, por certo lhe impõe tensões muito desagradáveis. No mundo em que o governante desenvolve suas atividades não há muito espaço para amizades.

Veja os casos de Eliana Boaventura, Jairo Carneiro e agora Fernando de Fabinho, esses os mais recentes e que estão envolvidos diretamente com a política feirense. Desses três políticos o que menos surpreendeu foi Eliana Boaventura. A deputada nunca teve afinidades pessoais e políticas com Tarcízio Pimenta. A posição surpreendente politicamente ficou por conta de Fernando Fabinho, tendo em vista que sua amizade política e familiar com José Ronaldo de Carvalho, jamais (…) indicaria um rompimento político (…) pessoal só o tempo vai dizer, isso depois de se analisar a intensidade desse terremoto.

A verdade é que amigos(…) políticos exigem muito e esperam demasiado, na forma de atenção, consideração e compreensão. Eles atribuem um significado ao conceito de lealdade dos seus correligionários e eleitores para com eles, que costuma extrapolar em muito os limites consideráveis tolerantes.

Na verdade os políticos que chegam ao poder, na maioria deles, esquecem os amigos mais simples e exigem lealdade. Esquecem que a moeda tem dois lados.

Trocam de posição política sem consultar seus eleitores, eles são procurados para votar. Votam acreditando em tudo o que foi dito durante a campanha, mas no momento de mudar de partido o eleitor não existe, a não ser como densidade eleitoral (votos), que podem ser facilmente cambiado para a nova sigla partidária.

Os antigos adversários políticos passam a ser “amigos correligionários”, para os seus eleitores eram desafetos do líder, que anteriormente provocaram brigas, inimizades, agressões verbais e físicas. Os seguidores ficam abandonados sem saber o que fazer ou dizer, os seus inimigos de outrora, antigos adversários do seu líder político, agora são amigos e correligionários.

Tudo isso por que eles desenvolveram uma amizade exagerada, acreditaram no que não devia acreditar gerando uma expectativa que nunca seria alcançada. A moeda política é uma caixa de pandora, compra os ambiciosos e destrói os fracos de caráter.

É por esses e outros motivos que aqueles que se consideram amigos do poder estão sempre com um pé na beira do precipício da decepção. São eles considerados onerosos aos governantes.

É preciso saber distinguir a amizade na vida privada e na vida pública. Na vida privada são poucos, mas são valiosos. Na vida pública os políticos só procuram as amizades e fazem questão de afirmá-las quando o telefone deixa de tocar e o capim cresce na sua porta.

Enquanto puder atrair adversários, retirá-los da oposição para fazer parte do governo e, no limite, cooptá-los, sempre foi, e será, uma poderosa tentação que desafia os governantes, ao montarem seus governos.

Concluída a eleição, o novo governante, munido de sua legitimidade de poder, passa a ser o governante de todos: dos que o apoiaram e dos que se opuseram. Com essa autoridade, pode até convidar ex-adversários para integrar sua administração. Tudo depende dos interesses políticos ou quantificáveis.

Ora, a adesão de um adversário sempre significa um enfraquecimento do bloco de oposição, senão quantitativo, por certo qualitativo. Aos olhos do povo, o apoio de um adversário, valerá muito mais do que o mesmo apoio de um aliado fiel.

No final das contas, e são muitas contas, os adversários políticos são mais úteis que os amigos. Será?


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