Educação profissionalizante está em baixa na Alemanha

A aprendizagem comercial e industrial atrai cada vez menos jovens no país. O setor de ofícios, que depende de mão-de-obra qualificada pela formação profissionalizante, é afetado pela falta de aprendizes.

Após resistir relativamente bem à crise econômica de 2009, o atual desafio do setor de ofícios da Alemanha é a falta de aprendizes e trabalhadores especializados. O tema preocupa os participantes da Feira Internacional de Ofícios, a ser visitada a partir desta quarta-feira (03/03/2010) até o próximo dia 9 de março em Munique, com mil expositores de 30 países.

O setor de ofícios, um dos mais importantes da economia alemã, emprega quase cinco milhões de trabalhadores e fatura mais de 490 bilhões de euros por ano. Ele é formado por empresas que prestam serviços em ramos nos quais o trabalho manual está no centro das atividades, como o ourives, o eletricista ou o cabeleireiro.

Isso se expressa também na denominação Handwerk (Hand quer dizer mão e Werk, obra, ou seja, obra feita com as mãos). O segmento engloba na Alemanha cerca de um milhão de pequenas e médias empresas, responsáveis pela formação de um terço dos aprendizes do país.

Segundo Holger Schwannecke, secretário-geral da Confederação dos Ofícios Alemães, a crise econômica e financeira afetou de forma desigual as empresas do setor: “Temos problemas claros nas áreas próximas à indústria, que são fortemente orientadas para a exportação. Ali a queda na produção industrial refletiu-se claramente nas encomendas e nos lucros. Já outros setores foram beneficiados pelos pacotes conjunturais do governo federal”.

Futuro ameaçado por falta de jovens

Não apenas a questão financeira preocupa os empresários do setor. Um problema sentido há vários anos é a falta de jovens interessados na aprendizagem industrial e comercial. No ano passado, quase 10 mil vagas deixaram de ser preenchidas.

Nenhum outro segmento da economia alemã oferece tantas vagas de educação profissionalizante. A aprendizagem na Alemanha é regulamentada segundo o chamado “sistema dual”, fundamentado na formação prática na empresa e a teórica numa escola profissionalizante.

O aprendizado de dois ou três anos encerra-se com uma prova que concede o grau de “oficial” ou “profissional especializado”. Após mais um período de três a cinco anos de prática, o profissional pode submeter-se a provas práticas e teóricas para obter o grau de “mestre”. Na Alemanha, o Meisterbrief (documento que outorga o título de mestre) é precondição para se abrir uma empresa e para se formarem aprendizes.

Produto de exportação

Esse setor típico do mercado alemão de trabalho virou produto de exportação. O Senior Experten Service (SES), uma fundação sem fins lucrativos, envia a cada ano milhares de alemães para a capacitação de jovens nas mais diferentes partes do mundo.

Em 2008, os mais de 7.800 aposentados registrados na SES, cuja média de idade é de 68 anos, participaram de 1.510 missões em 93 países. Em geral, eles passam uma semana por ano no exterior para transmitir seus conhecimentos.

Cada um tem longas histórias para contar, seja o ex-mestre confeiteiro que ajudou no aprimoramento da qualidade de produtos na Bulgária, ou o engenheiro aposentado que ajudou um pequeno fabricante colombiano na produção de peças metálicas para móveis e cercas.

A demanda por mão-de-obra especializada alemã é bastante requisitada na América Latina, explica Susanne Nonnen, diretora do SES. Segundo ela, espera-se que a ajuda alemã contribua para a recuperação do mercado interno, enfraquecido devido à queda das exportações para os Estados Unidos.

Ela conta que um engenheiro especializado em madeiras, vindo da região do Sauerland, ajudou uma pequena marcenaria de oito funcionários no México a fabricar módulos para cozinhas. A forma de produção era desconhecida nessa região. Ainda durante a estadia do alemão no local, a marcenaria recebeu uma grande encomenda, o que forçou a ampliação das suas instalações.

Há alguns anos, a África é uma das prioridades do SES. No ano passado, o número de contatos aumentou. “Principalmente pequenas empresas privadas, como um açougue em Ruanda, uma gráfica na Mauritânia ou uma fábrica de calçados na Etiópia, que receberam ajuda e assim puderam tornar a produção mais eficiente”, relata Nonnen.

Preocupados com o futuro do setor de ofícios, já que 20% dos jovens interrompem a formação profissional, o SES elaborou um novo projeto visando o acompanhamento desses jovens.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.