O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, decidiu não divulgar imagens do corpo do líder da rede Al Qaeda, Osama Bin Laden, segundo informou nesta quarta-feira (04/05/2011) o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.
Carney leu uma transcrição da entrevista concedida por Obama ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em que o presidente afirma ter tomado a decisão por acreditar que a divulgação das imagens criaria um risco à segurança nacional.
“Eu acho que, devido à natureza muito impactante dessas fotos, [a divulgação] criaria um risco à segurança nacional”, disse Obama na entrevista, segundo Carney.
O presidente disse ter discutido o assunto com os secretários de Defesa, Robert Gates, de Estado, Hillary Clinton, e com as equipes de inteligência da Casa Branca. “Todos concordaram”, afirmou Obama.
“Nós discutimos isso internamente. Tenham em mente que nós estamos absolutamente certos de que era ele. Nós fizemos testes de DNA. Então, não há dúvida de que nós matamos Osama Bin Laden”, disse Obama.
O líder da Al Qaeda foi morto no domingo (01/05), com um tiro na cabeça, quando forças especiais americanas invadiram a mansão onde vivia escondido na cidade de Abbottabad, a cerca de 100 quilômetros da capital do Paquistão, Islamabad.
Bin Laden levava dinheiro e um número de telefone costurados na roupa ao ser morto
O líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden, levava presos ao corpo o equivalente a 500 euros em dinheiro e dois números de telefone, ao ser morto, no Paquistão, no último domingo (1º/05). As cédulas e o papel com os números telefônicos estavam costurados na roupa dele no momento que foi alvejado pelos militares norte-americanos.
As informações são da rádio pública da França, a RFI. Os dados foram divulgados por autoridades que participaram de uma reunião do alto escalão do serviço de inteligência dos Estados Unidos com parlamentares norte-americanos, em Washington.
Para o diretor da Central de Inteligência Americana (CIA), Leon Panetta, costurar o dinheiro com o número de telefone demonstra que o líder estava pronto para fugir a qualquer momento e acreditava que seria alertado antes de um ataque.
As informadas oficiais sobre a morte de Bin Laden são anunciadas a conta-gotas pelo governo norte-americano, o que tem gerado controvérsias e dúvidas.
O líder da Al Qaeda foi morto durante uma ação militar norte-americana, no Paquistão, a 100 quilômetros de Islamabad, há três dias. A morte dele foi anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em cadeia nacional de televisão.
Morte de Bin Laden foi ato legítimo de autodefesa, dizem EUA
O secretário de Justiça dos Estados Unidos, Eric Holder, disse nesta quarta-feira que a morte do líder da rede Al-Qaeda, Osama Bin Laden, durante uma operação de forças especiais americanas no Paquistão, foi um ato legítimo de autodefesa.
“Ele era o líder da Al-Qaeda, uma organização que conduziu os ataques de 11 de Setembro. Ele admitiu seu envolvimento. A operação contra Bin Laden foi justificada como um ato de autodefesa nacional”, disse Holder, em audiência na Comissão de Justiça do Senado americano.
“Ele era, na minha opinião e na opinião do Departamento de Justiça, um alvo militar legítimo, e a operação foi conduzida de maneira compatível com a nossa lei, com os nossos valores”, afirmou o secretário, ao responder perguntas dos congressistas sobre detalhes da operação de 40 minutos que levou à morte de Bin Laden.
“Se ele tivesse se rendido, tentado se render, eu acho que nós obviamente deveríamos ter aceito. Mas não havia indicação de que ele quisesse fazer isso, e por isso sua morte foi apropriada.”
Bin Laden foi morto no último domingo, quando forças americanas invadiram a mansão onde vivia escondido na cidade de Abbottabad, a cerca de 100 km da capital do Paquistão, Islamabad.
O líder da Al-Qaeda ocupava o primeiro lugar na lista dos mais procurados pelos Estados Unidos e era acusado de ser o mentor de diversos atentados contra alvos americanos e ocidentais, entre eles os de 11 de setembro de 2001, que mataram quase 3 mil pessoas em Nova York e Washington.
Detalhes
Os congressistas americanos questionaram Holder sobre a legalidade da ação, depois que o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, disse na terça-feira que Bin Laden não estava armado, mas mesmo assim teria tentado resistir à captura, e foi morto com um tiro na cabeça. Carney não deu, porém, detalhes de como Bin Laden teria resistido sem armas.
A declaração do porta-voz foi feita um dia depois de o principal assessor da Casa Branca para assuntos de segurança nacional e contraterrorismo, John Brennan, ter dito que Bin Laden foi morto em uma troca de tiros com as forças americanas.
Brennan também afirmou que o líder da Al-Qaeda teria usado uma de suas esposas como escudo humano, e que a mulher havia sido morta.
Essa informação foi desmentida por Carney, que disse que uma mulher tentou confrontar as forças americanas e levou um tiro na perna, mas sobreviveu.
Segundo o governo americano, o corpo de Bin Laden foi enterrado no mar, em um funeral ministrado pelas forças americanas de acordo com os ritos religiosos islâmicos, e testes de DNA confirmaram sua identidade.
Desde o anúncio da morte de Bin Laden, feito no fim da noite de domingo em um pronunciamento do presidente Barack Obama transmitido pela TV, a Casa Branca vem sofrendo crescentes pressões para divulgar fotos do corpo.
O governo americano teme, porém, que a divulgação das imagens possa inflamar ainda mais os apoiadores de Bin Laden no Paquistão e em outros locais, que já prometeram lançar novos ataques contra alvos americanos e ocidentais. Segundo Carney, as imagens são “terríveis” e poderiam ter um efeito “incendiário”.
Lista de suspeitos
Em seu depoimento, Holder disse que o material recolhido pelas forças americanas no esconderijo de Bin Laden poderá levar os Estados Unidos a incluir novos nomes na lista de pessoas proibidas de viajar e sob observação por suspeita de terrorismo.
“À medida que coletarmos informações a partir desse material, nós tomaremos as decisões apropriadas sobre quem pode ser incluído em listas de suspeitos de terrorismo e de proibição de viagens”, disse o secretário.
Entre o material recolhido, estão documentos, DVDs, dez computadores, dez telefones celulares e cerca de cem pen drives.
Uma força-tarefa especial foi encarregada de analisar o material, para identificar possíveis pistas sobre planos de novos ataques contra os Estados Unidos.
Segundo fontes do governo americano, também foram encontrados presos à roupa de Bin Laden dois telefones celulares e 500 euros (cerca de R$ 1,2 mil), o que indicaria que o líder da Al-Qaeda estava preparado para uma fuga rápida.
Paquistão diz que mundo ‘fracassou’ na busca por Bin Laden. Casa onde Bin Laden foi morto fica perto da maior academia militar do Paquistão
O primeiro-ministro do Paquistão, Yousuf Raza Gilani, disse que os serviços de inteligência do mundo dividem a culpa pelo fracasso de seu país em capturar Osama Bin Laden, que foi morto no domingo durante uma operação americana.
“Houve um fracasso da inteligência do resto do mundo, incluindo os Estados Unidos”, disse Gilani a jornalistas em Paris. Ele acrescentou que o Paquistão precisa “do apoio do mundo todo”, para combater militantes.
“Estamos lutando e pagando um preço alto”, disse o primeiro-ministro, acrescentando que seu governo está “lutando não apenas pelo Paquistão, mas pela paz, prosperidade e progresso do mundo todo”.
“Estamos na guerra contra o terrorismo, e temos a determinação, temos a habilidade, e temos a vontade de lutar contra o extremismo e terrorismo”, afirmou Gilani.
O Paquistão vem sendo criticado por não ter localizado Bin Laden, que vivia a poucas centenas de metros da maior academia militar do país, em Abbottabad.
A visita do primeiro-ministro paquistanês à França tinha como tema principal o comércio entre os dois países, mas o anúncio da morte do líder da Al-Qaeda fez com que as atenções se voltassem para o terrorismo.
O ministro do Exterior francês, Alain Juppé, disse que é difícil acreditar que as autoridades paquistanesas não soubessem que Bin Laden estava vivendo no país.
Gilani ainda vai se encontrar com o presidente Nicolas Sarkozy e deverá enfrentar questionamentos ainda mais pesados sobre a presença de Bin Laden no Paquistão.
‘Desconcertante’
Mais cedo, o ministro do Exterior paquistanês, Salman Bashir, criticou declarações feitas por autoridades americanas de que o país não era confiável e por isso não foi informado dos detalhes da operação que matou Osama Bin Laden.
O diretor da CIA, Leon Panetta, disse que nenhuma informação de inteligência foi compartilhada com o Paquistão devido a temores de que o sucesso da operação fosse colocado em risco.
Bashir disse à BBC que esta visão é “desconcertante” e que seu país teve um “papel fundamental” na luta contra o terrorismo.
O chanceler paquistanês também disse que Panetta tem direito a suas opiniões, mas que o Paquistão cooperou amplamente com os Estados Unidos.
Ele disse que o complexo em Abbottabad, onde Bin Laden foi encontrado e morto no domingo, já havia sido identificado como suspeito há algum tempo pelos serviços de inteligência do Paquistão (ISI), mas que foram necessários os abundantes recursos dos Estados Unidos para determinar que se tratava do esconderijo do líder da Al-Qaeda.
“Na maioria das coisas que aconteceram em termos de luta global anti-terrorismo, o Paquistão teve papel fundamental”, disse Bashir.
‘Incompetência’
Na terça-feira, o Ministério do Exterior do Paquistão defendeu o ISI e divulgou uma longa nota expressando “profundas preocupações e reservas” sobre a ação americana.
O Ministério insistiu que ações unilaterais não podem se tornar norma e enfatizou que a inteligência paquistanesa vinha compartilhando informações com os Estados Unidos nos últimos anos.
“Em relação ao complexo em questão, ISI tem compartilhado informações com a CIA e outras agências de inteligência desde 2009.”
De acordo com analistas, se Bin Laden estava realmente escondido no local há cinco anos, como se suspeita, as autoridades paquistanesas foram incrivelmente incompetentes ou estavam protegendo o líder da Al-Qaeda.
Detalhes
A Casa Branca vem divulgando detalhes da operação que matou Osama Bin Laden, incluindo o fato de que ele estava desarmado quando foi alvejado, após resistir à prisão.
Dois de seus mensageiros e uma mulher morreram no ataque, enquanto uma das esposas de Bin Laden ficou ferida.
Os Estados Unidos não fizeram comentários sobre ninguém que foi capturado, revelaram apenas que o corpo de Bin Laden foi sepultado no mar.
No entanto, a declaração divulgada pelo Ministério do Exterior paquistanês dizia que o restante da família de Bin Laden “está agora em segurança e sendo tratada de acordo com a lei”.
Autoridades americanas vem discutindo como e quando divulgar as fotos do corpo de Bin Laden como forma de jogar por terra teorias que defendem que ele não morreu.
O porta-voz da Casa Branca Jay Carney disse que a imagem “pavorosa” poderia ofender algumas pessoas, mas Panetta disse que não há dúvidas de que, em algum momento, ela terá de ser trazida a público.
Conheça o grupo que matou Osama Bin Laden. Grupo é utilizado em operações altamente sigilosas ao redor do mundo
Os homens designados para capturar ou matar Osama Bin Laden são parte de uma lendária unidade de forças especiais da Marinha dos Estados Unidos, os Seals. Mas quem são eles?
A ação levou anos para ser planejada, mas foi executada em apenas 40 minutos. Mais de dez membros das forças americanas foram deixados perto da casa de três andares e muros altos nos arredores de Abbottabad, no noroeste do Paquistão.
Depois de um breve tiroteio, cinco pessoas foram mortas, incluindo Osama Bin Laden, que segundo relatos levou um tiro abaixo de seu olho esquerdo.
Todos os soldados americanos escaparam ilesos, apesar de problemas técnicos com um helicóptero, que foi deixado para trás. E a despeito dos perigos, coletaram computadores, DVDs e documentos antes de deixar o edifício.
Grupo de elite
Do ponto de vista americano, a missão, batizada de Geronimo, dificilmente poderia ter sido melhor, resultado da preparação e das habilidades dos homens que a conduziram.
Embora não tenha havido confirmação oficial, acredita-se que o grupo envolvido na missão tenha sido o Seal Team Six (ST6), oficialmente conhecido como o Naval Special Warfare Development Group, também chamado de DevGru. Eles são um grupo de elite treinado para conduzir operações altamente sigilosas.
Os Seals são parte do Comando de Guerra Especial da Marinha e também integram o Comando das Operações Especiais dos EUA. Eles são frequentemente deslocados pelo mundo em operações para proteger os interesses americanos.
Há 2.500 Seals no total, e o nome (que em inglês significa “focas”) deriva das iniciais dos locais em que estão treinados para trabalhar – mar, ar e terra. Mas a característica pela qual são mais conhecidos é a sua alta especialização para atuar na água.
Suas missões podem ter naturezas bastante diversas e incluem combates, resgate de reféns e ações antiterrorismo.
‘Cavalos treinados’
Segundo Don Shipley, que passou duas décadas na Marinha americana como um Seal, esses soldados são os melhores do país.
“Esses caras que se tornam Seals têm visão perfeita, inteligência acima da média e são geneticamente construídos para suportar muita punição, apanhando muito. Esses são os caras que estão preparados para entrar (no treinamento), mas os que saem são como cavalos treinados para correr.”
Costuma-se descrever o treinamento como o mais duro para quaisquer forças em qualquer lugar do mundo. A taxa de desistência varia entre 80% a 85%.
Stew Smith, que foi um Seal por oito anos, agora oferece treinamentos físicos no Estado de Maryland para pessoas que cogitam entrar no grupo.
Ele diz que os primeiros seis meses de treinamento na unidade, conhecidos como Demolição Básica Subterrânea, são os mais duros. Eles incluem um treinamento que dura 120 horas seguidas e envolve nadar, correr, cursos de obstáculos, mergulho e navegação.
“Nunca pensei em desistir. As pessoas me perguntam por que não, e eu digo que você tem de ir lá com um espírito de competidor, não apenas de sobrevivência”.
Após a conclusão do curso, o soldado torna-se oficialmente um Seal e é alocado numa equipe, mas precisa passar outros 12 meses em treinamento com os novos colegas antes de ser enviado para uma missão, diz Smith.
Para ele, o que torna os Seals únicos é sua versatilidade. “Por confiarmos no barco e termos uma relação com a Marinha, nós respeitamos a mãe natureza e percebemos que quando se está no meio do oceano, você é só um pontinho.”
Segunda Guerra
Os Seals surgiram na Segunda Guerra Mundial e são sucessores de grupos como a Unidade de Demolição de Combate Naval, que se envolveu na invasão do Norte da África em 1942.
A criação ocorreu graças a um pacote de US$ 100 milhões aprovado pelo presidente John F. Kennedy para fortelecer as forças especiais americanas.
Posteriormente, eles se envolveram no Vietnã, Granada e no Panamá, onde quatro Seals foram mortos ao tentar impedir que o líder Manuel Noriega escapasse.
O episódio também ficou conhecido por um incidente alguns dias depois, quando rock em alto volume foi tocado durante dias e noites para forçá-lo a deixar seu refúgio na Cidade do Panamá.
Mais recentemente, os Seals foram bastante empregados em missões no Afeganistão e no Iraque. Mas o papel deles na morte de Osama Bin Laden inaugura um novo capítulo na história do grupo.
Barack Obama já anunciou que tentará se reeleger em 2012
Uma pesquisa divulgada nesta terça-feira pelo Pew Research Center e pelo jornal The Washington Post revela um aumento dos índices de aprovação do presidente americano, Barack Obama, imediatamente após a morte do líder da rede Al-Qaeda, Osama bin Laden.
Os resultados da pesquisa – realizada na noite de segunda-feira, menos de 24 horas depois de Obama ter anunciado a morte de Bin Laden em uma operação de forças especiais americanas no Paquistão – revelam que 56% das pessoas consultadas aprovam a atuação do presidente.
Segundo o Washington Post, o resultado representa um aumento de nove pontos percentuais em relação a uma pesquisa anterior, feita em abril também em conjunto com a rede de TV ABC, e é o melhor índice de aprovação recebido por Obama desde 2009.
A pesquisa revela que 69% dos entrevistados aprovam a maneira como Obama está lidando com a ameaça de terrorismo, um aumento de 13 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior.
Quando a pergunta é sobre a situação no Afeganistão, 60% aprovam a atuação do presidente, aumento de 16 pontos percentuais sobre a pesquisa anterior.
No entanto, apenas 40% dos entrevistados disseram aprovar a maneira como Obama está lidando com a economia, uma redução de dois pontos percentuais sobre a pesquisa de abril.
Os Estados Unidos enfrentam uma lenta recuperação após a crise econômica mundial, com grande deficit e alta taxa de desemprego.
Segundo a pesquisa, houve um aumento de dez pontos percentuais no índice de satisfação dos americanos, chegando a 32%. Apesar disso, 60% dos entrevistados ainda se dizem insatisfeitos com a situação atual do país.
Crédito
Quando questionados sobre a morte de Bin Laden, 76% dos entrevistados disseram que Obama merece crédito e 51% afirmaram que o ex-presidente George W. Bush merece crédito.
Entre os republicanos, 61% disseram que Obama merece pelo menos algum crédito, e 81% puseram Bush na mesma categoria.
O resultado mostra ainda que 97% dos americanos afirmam que as forças militares do país merecem crédito pela morte do líder da Al-Qaeda, e 89% dão crédito à CIA (central de inteligência americana) e a outras agências de inteligência.
Quase metade dos entrevistados disse que a morte de Bin Laden os deixa mais confiantes de que os Estados Unidos podem atingir seus objetivos na guerra do Afeganistão e 68% afirmaram que deverá contribuir para a segurança americana no longo prazo.
No entanto, apenas 5% afirmam acreditar que a morte de Bin Laden acaba com a ameaça de terrorismo, e 67% se dizem preocupados com a possibilidade de ataques da Al-Qaeda contra alvos americanos em retaliação.
A pesquisa mostra ainda pouca mudança no percentual de americanos que querem a retirada das tropas de seu país no Afeganistão: 48% são favoráveis à saída dos militares, resultado quase igual aos 50% registrados no levantamento anterior.
Morte de Bin Laden ‘exorciza fantasma’ que assombrou EUA por dez anos. Para analista, reação ‘visceral’ e ‘eufórica’ dos americanos é sintomática
A morte de Osama Bin Laden gerou demonstrações de júbilo por todos os Estados Unidos. Tanta emoção indica que não se tratava apenas do homem por trás dos ataques de 11 de setembro, mas de uma figura tenebrosa que por dez anos assombrou a psique nacional americana.
Seu rosto se tornou um dos mais conhecidos do mundo. Para bilhões de pessoas, Osama Bin Laden era uma cara mais familiar que o vizinho, escreveu certa vez o sociólogo britânico Anthony Giddens.
Ao autorizar os ataques em Nova York e Washington, que mataram cerca de 3 mil pessoas há dez anos, Bin Laden imediatamente se tornou o homem mais procurado – e um dos mais vilipendiados – do mundo.
Sua capacidade de evasão, apesar dos esforços americanos para capturá-lo, e os vídeos sinistros liberados durante o período em que esteve escondido, também alimentaram sua fama.
Mortos os homens que realizaram o sequestro dos aviões, os ataques passaram a ser sinônimos do homem que os concebeu e que apareceu em filmagens vangloriando-se do número de mortos.
À medida que os atentados se sucediam em Bali, Madri e Londres, espalhava-se ao redor do mundo o medo de que Bin Laden pudesse atacar em qualquer lugar e a qualquer hora, apesar da pouca evidência de que ele estivesse por trás daquelas atrocidades.
‘Bicho-papão’
Mas a notícia de sua morte ecoou mais fortemente nos Estados Unidos, a superpotência que ele fez tremer. Havia um sentimento de vingança e alívio nas multidões que se reuniram espontaneamente comemorar o fato, tarde da noite, não apenas em Nova York e Washington D.C., mas também em Miami, Kentucky, Illinois, Kansas, Texas e por todo o resto do país.
Sua morte produz um incrível sentimento de catarse e aqui em Nova York há um gigantesco sentimento de alívio, um sentimento de que ‘pegamos o monstro’. É assim que muitos americanos vão se sentir por algum tempo.
Hussein Rashid
“Para os americanos, Bin Laden se tornou a personificação do bicho-papão, aquele monstro mítico que é a fonte do medo”, avaliou o intelectual muçulmano Hussein Rashid, que promove a integração entre as diversas comunidades e credos que convivem nos Estados Unidos.
“Sua morte produz um incrível sentimento de catarse e aqui em Nova York há um gigantesco sentimento de alívio, um sentimento de que ‘pegamos o monstro’. É assim que muitos americanos vão se sentir por algum tempo.”
Para Rashid, a euforia americana com a morte de Bin Laden não é diminuída pelo fato de o líder já não ser o comandante operacional da Al-Qaeda, ou “a cabeça da serpente”, como descreve o acadêmico.
Os vídeos do extremista sopraram os ventos do medo ao empregar uma linguagem e uma simbologia que alienou os americanos, avalia Rashid, como certa vez em que comparou o ex-presidente George W. Bush a Hulagu Khan, o líder mongol que conquistou um império islâmico.
“Era uma linguagem à qual os americanos não tinham acesso. Muitas vezes, precisei explicar às pessoas por que Khan foi tão importante para os muçulmanos.”
Para o colunista da revista New Yorker Adam Gopnick, a morte do homem mais procurado do mundo há uma década tem um significado muito importante para a nova geração.
“Meu filho de 16 anos me ligou na noite passada em estado de euforia porque este foi a sombra sob a qual ele cresceu, esse espectro temeroso do 11 de setembro.”
Muitos dos que foram para as ruas celebrar no domingo à noite eram jovens. O estudante Rashawn Davis, calouro da Universidade de Maryland, explicou que se sentia “em um mundo mais calmo agora que o homem se foi”.
Mas seria um erro achar que Bin Laden era apenas um bicho-papão, diz Gopnick. Era uma pessoa em carne e osso, dotada de um fanatismo magnético que o elevava acima do patamar dos usuais ditadores. Notícia veio em ‘boa hora’, dez anos após atentado em NY, diz analista
“Este tipo de figura carismática é diferente, portanto carrega mais significado para as pessoas. Quando o mal é movido pela ganância e o desejo de poder, é o tipo de coisa que vemos o tempo todo. Mas quando é movido pela ideologia e o fanatismo religioso, tem mais poder.”
Injeção de patriotismo
Para Gopnick, a duração da caçada a Bin Laden e o número de pessoa que acreditavam que ele já estivesse morto complementaram o mito.
“O que estamos tentando entender é por que as reações (à sua morte) foram tão viscerais, e todas essas razões contribuem. Mas a razão principal é que ele era o malvado que fez uma malvadeza que traumatizou muito, muito, este país. E ele tem um enorme significado tanto real quando simbólico”, disse o colunista da New Yorker.
Agora que ele está morto, Gopnick diz esperar que “isto exorcize o espectro do medo, que era o seu grande aliado, muito mais do que a sua capacidade de infligir dano”.
Os gritos de “U-S-A!” ouvidos na Lafayette Square, em frente à Casa Branca, indicam que a morte de Bin Laden injetou nos americanos uma nova dose de patriotismo.
Robin Niblet, diretor do centro de estudos sobre política internacional Chatham House, em Londres, diz que a morte do líder da Al-Qaeda deve revigorar o orgulho americano, ainda que não possa aliviar todos os efeitos concretos da crise econômica.
“Se o décimo aniversário do 11 de Setembro tivesse passado sem que Bin Laden tivesse sido apanhado, teria sido algo que permaneceria preso na garganta dos americanos”, afirmou Niblet.
“Isto (a morte de Bin Laden) reafirma o senso do poderio americano, mas de certa forma isto tem menos a ver com a sua posição internacional e mais com dormir tranquilamente à noite.”
O especialista crê que isto trará a satisfatória sensação de vitória que até agora lhes foi negada na guerra do Afeganistão.
À moda do Velho Oeste, observa, os americanos juntaram seus homens, saíram à caça e abateram o inimigo.
*Com informações da BBC Brasil
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