Índice de inovação aponta que Brasil melhorou, mas ainda inova pouco

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À frente da Índia, mas atrás do Chile, inovação no Brasil ainda deixa a desejar. Apesar da produção científica ter dado um salto, país falha em transformar conhecimento em negócios, aponta Índice Global de Inovação.

Inovar é a chave do crescimento econômico e prosperidade, prega o Índice Global de Inovação (GII, na sigla em inglês), que acaba de lançar o ranking 2011. Saltando do 60º lugar, em 2010, o Brasil aparece este ano na 47ª posição, à frente de países como Rússia, Índia e Argentina, mas atrás de China (29º), Portugal (33º), Chile (39º) e Costa Rica (45º), numa lista de 125 países.

As primeiras colocações não são de causar espanto: a Suíça lidera o GII, a Suécia vem logo em seguida, os Estados Unidos aparecem em sétimo e a Alemanha em 12º lugar. Se a inovação sempre foi responsável pelo relativo sucesso desses países, agora, numa realidade de crise e corrida pela estabilidade, “mais do que nunca, ela é ainda mais decisiva”, avalia Ben Verwaayen, do conselho do GII, que tem entre seus membros diversos órgãos das Nações Unidas e a Comissão Europeia.

O Brasil tem um contexto bastante peculiar. Apesar da acelerada evolução do conhecimento científico no país, toda essa sabedoria produzida em território nacional não foi transformada em riqueza na mesma proporção. O secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério de Ciência e Tecnologia, Ronaldo Mota, admite as dificuldades. “Os contrastes do imenso Brasil também se refletem no campo da ciência”, disse em entrevista à Deutsche Welle.

Ainda assim, Mota se diz otimista quando considera o perfil do brasileiro. “Somos um povo criativo, mas isso não quer dizer inovador. Inovar é transformar esse potencial de criatividade em negócios. Associar isso à geração de produtos, processos, definir novas funcionalidades para produtos antigos. Há um espaço enorme para o Brasil crescer, temos potencial.”

Abismo e divórcio

Nos anos de 1990, o Brasil era responsável por apenas 1% da produção científica global. No final da década de 2010, a participação cresceu para 2,7%. “Isso é muito bom. Significa que o país, em todas as áreas teve um crescimento significativo na sua capacidade de produzir conhecimento”, afirma Mota, acrescendo que a produção científica brasileira cresce em ritmo cinco vezes maior do que o mundial.

Mas nem todo esse saber encontra um fim que impacte o sistema produtivo e ajude a nação a gerar riquezas. Esse abismo que separa o meio acadêmico do empresarial também se deve à desconfiança com que muitas instituições de ensino veem a presença de empresas nos campi universitários – é quase um divórcio, descontrai Mota.

“Exatamente o que a Alemanha tem de mais interessante, que é a definição ou influência das suas linhas de pesquisa tendo em vista as demandas provenientes da sociedade, especialmente dos empresários, isso no Brasil ainda é uma cultura em implantação, numa velocidade que poderia ser mais acelerada”, comenta o secretário. O maior exemplo dessa política alemã, que contribui para que o país inove sempre, é o Instituto Fraunhofer, que conta com 80 centros de pesquisa em todo o território alemão.

Do lado empresarial brasileiro, Paulo Mol, gerente executivo de estudos e políticas industriais da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), admite que “a conversa entre indústria e universidade não é bem feita.” E talvez seja esse um dos grandes desafios que o Brasil tem à sua frente, rumo a um crescimento sustentável e permanente.

Um caso de sucesso

Por outro lado, o agronegócio brasileiro conseguiu transpor esse vão e dar ao país a posição de liderança em muitos setores, como grãos, exportação de carne bovina e de sucos. E isso aconteceu não só porque o solo brasileiro é bom, como destaca Mota: “Mas essencialmente porque foi uma área em que soubemos transformar a tecnologia de ponta e inovação em negócios. Esse mesmo sucesso não repercutiu igualmente no setor industrial.”

Por anos a fio, o setor industrial brasileiro se abasteceu de importações de tecnologia. O investimento no chamado setor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) é relativamente recente. Segundo Paulo Mol, quando se compara com o resto da América Latina, o Brasil não está tão mal: o investimento em inovação chega a 1% do PIB brasileiro. No entanto, nos países ricos essa cifra chega a 3%. Sobre a diferença de resultados em comparação com o agronegócio, Mol comenta: “O nível de complexidade na indústria é muito maior.”

Para inovar, o empresário brasileiro precisa vencer burocracia – e enfrenta atualmente ainda a questão dos altos custos. “O produto mais caro: recursos humanos. O custo de um pesquisador brasileiro, frente a outros países, é muito alto. Isso se deve também à valorização do real”, aponta Mol.

Ainda assim, o representante da CNI se mostra animado quanto a um futuro mais inovador. “Estou otimista porque percebo um movimento de aproximação dos dois setores, acadêmico e industrial. Mas há muito trabalho pela frente.” Recentemente, a IBM instalou no Brasil seu centro de P&D, um pouco depois de GE e da Rhodia. A alemã Siemens também disse ter intenção de pesquisar e inovar em solo brasileiro.

*Com informação : Deutsche Welle | Autora: Nádia Pontes | Revisão: Carlos Albuquerque


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