O amigo Luiz Mário Teixeira Moreira, carinhosamente conhecido como Pimpinho, psicólogo social e pós-graduado em neuropedagogia e psicanálise, nos saúda desde lá da Cidade do Sol (Jequié-Bahia) e envia esclarecedor artigo a seguir.
Difícil seria fazer uma abordagem daquilo que se entende por inteligência – ou inteligências – sem recorrer à etimologia da palavra intelligere, de origem latina que quer dizer: inter = entre; ligere = escolher, separar. Para tanto, é igualmente necessário fazer uma co-relação entre a origem do homem cristão, bíblico, e as inteligências múltiplas, propostas pelo psicólogo Howard Gardner.
Em Conversando com Deus, de Neale Donald Walsch, o autor levanta um questionamento pertinente a Deus. Quer saber a respeito da origem dos seres, e Deus responde:
“Certa vez, existiu uma alma que sabia que era a luz. Sendo uma alma nova, ansiava por experiência. “Eu sou a luz”, dizia repetidamente. Mas todo o seu conhecimento e todas as suas palavras não podiam substituir a experiência de ser a luz. E na esfera onde essa alma surgiu, só havia luz. Todas as almas eram sublimes e magnificentes, e irradiavam o brilho da Minha grande luz. E por isso a pequena alma em questão era como uma vela sob o sol. No meio da luz maior – da qual era parte – não podia ver a si mesma, experimentar-se como Quem Realmente Era (WALSCH, 1994, p.24)”.
Assim, o trecho do livro nos remete ao intelligere, a escolha ou separação entre o divino e o humano, aquilo que É daquilo que não-É. A origem do indivíduo. A gênesis daquele que deixa a plenitude divina para experimentar o fruto proibido da árvore do conhecimento.
Ora, sabe-se que o homem vivia no paraíso, imortal, livre de todo e qualquer infortúnio, mas por que o tal fruto o tiraria desta condição? Alimentar-se da árvore do conhecimento permitiu o homem levantar questões a respeito do Mistério, que até então era inseparável, Uno com tudo que existe, consigo mesmo; o permitiu ainda portar a chama individual, não mais acoplada ao grande Sol, para que pudesse experienciar-se, enxergar sistematicamente cada parte que compõe o Todo Absoluto. Inteligir, portanto, como faculdade daquele que intermedeia-se entre a divindade e a besta.
Desta maneira, o fruto do conhecimento trouxe, intrínseco, a necessidade de representar, na tentativa de entender o Todo desconhecido.
Assim, a linguagem surge como ferramenta primordial do ato de conhecer.
A ciência, por sua vez, posiciona-se como detentora do conhecimento, o Lúcifer, ou aquele que porta a luz do saber, observando, quantificando, mensurando, inteligindo. Criando conceitos classificatórios baseados em números ou qualidades, arbitrariamente atribuídos, representados sistematicamente através de uma linguagem própria, normatizada.
Durante algum tempo, acreditou-se – e há quem acredite ainda – na possibilidade de medir a inteligência através de testes que avaliam capacidades lógicas ou lógico-linguisticas, como o famoso teste de QI. Entretanto, observou-se que habilidades outras não eram contempladas em ferramentas como esta, o que dificultava a compreensão de indivíduos fenomenais em certas atividades. A partir disto, o conceito de inteligência ganhou roupagens e entendimento mais amplos, o que se vê, por exemplo, através da teoria das inteligências múltiplas, de Howard Gardner, que propõe sete tipos de inteligência (musical, corporal-cinestésica, lógico-matemática, lingüística, espacial, interpessoal, intrapessoal), interligados entre si e existentes em todos os indivíduos.
Partindo deste pressuposto, não seria difícil visualizar um homem portando uma lamparina, nela contidos as sete cores do arco-íris, carregando aquilo que compreende como conhecimento, ou ferramentas essenciais na busca da Grande Verdade. O Bhagavad Gita, livro sagrado da religião hindu, ilustra magnanimamente tal comentário:
O intelecto é um invólucro ligeiramente translúcido – mas somente a razão espiritual é um cristal transparente, que permite a passagem da luz do espírito e sua manifestação benéfica na vida do homem. Quando a luz incolor passa por um prisma triangular, faz aparecer do outro lado as sete cores do arco-íris – quando a luz incolor do espírito atravessa o prisma do tríplice ego humano, então a incoloridade essencial aparece na multicoloridade existencial; e, quando o homem sabe que todas as cores da sua existencialidade têm origem no incolor da eterna essência, então a sua vida humana se transfigura maravilhosamente (KRISHNA, 2005, p.103).
Coincidência ou não, sete são os tipos de inteligência propostos por Gardner, nomeados a partir de uma linguagem que só poderá ser representada tridimensionalmente, assim como as cores do arco-íris que atravessam o prisma triangular. Portanto, não seria tanta ousadia de nossa parte, finalmente, imaginarmos a substância primordial da inteligência, a tal incoloridade, silenciosa, em estado de religare
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