Países do Brics debatem criação de banco e negócios em moedas locais

Países do bloco querem criar um banco para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento em países pobres e emergentes. Quarta reunião de cúpula também aproxima brasileiros e indianos.

Brasil, Rússia, Índia, China, Rússia e África do Sul devem responder por 56% da expansão da economia mundial em 2012, segundo o FMI. Essa proporção cresce vertiginosamente – em 2011, era de 19%. O crescimento econômico do Brics ganha força na agenda do quarto encontro de cúpula, que começa nesta quinta-feira (29/03/2012) em Nova Délhi, na Índia, especialmente neste momento de fragilidade na Europa.

A expectativa do anfitrião, o primeiro-ministro Manmohan Singh, é melhorar ainda mais essas estatísticas com relações comerciais mais fortes, por meio de contratos fechados em moedas locais. Os negociadores dos cinco países trabalham em ritmo acelerado para o que o anúncio desse acordo saia até o fim da cúpula.

No entanto, para a pesquisadora indiana Ravni Thakur, a principal relação entre os Brics não é a econômica. “Esses países estão numa posição de criar uma alternativa de governança global para o mundo. E os líderes emergentes seriamente têm falado sobre isso”, declarou à DW Brasil.

O perigo de ser do contra

Na pauta do encontro de cúpula “Parceria do Brics para Estabilidade Global, Segurança e Prosperidade”, um dos temas em destaques é a reforma dos mecanismos de governança global – os novos candidatos a potência mundial querem adequá-los “à nova realidade política”, diz o texto.
Ou seja: os países do Brics brigam por mais espaço e mais voz em instituições como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Esse continua sendo um tópico quente desde o primeiro encontro, em 2009.

A professora Ravni Thakur, da Delhi University, recomenda cautela. “Os Brics precisam tomar cuidado com os objetivos que formulam. Seria negativo se o grupo se tornasse um bloco contra o Ocidente, contra os Estados Unidos. Seria prejudicial para as economias dos países do Brics e também para a recuperação da economia global”, comentou.

O próprio discurso do grupo nesse terreno ainda precisa ser afinado. Um episódio no último processo de sucessão do FMI deixou evidente uma certa falta de articulação. Embora o Brics tenha dito que manteria uma postura coordenada sobre um novo nome, a China apoiou a francesa Christine Lagarde em troca do terceiro cargo mais importante na instituição.

Dinheiro emergente

Os países do Brics seguem animados com a ideia de fundarem um banco de desenvolvimento. É esperado que o primeiro-ministro indiano apresente uma proposta nesta quarta cúpula – o processo de criação se daria a longo prazo. A instituição investiria em projetos de infraestrutura e no desenvolvimento dos países mais pobres.

“Mesmo que as discussões ainda estejam no início, é possível prever dificuldades com relação às formas de financiamento e à definição daqueles habilitados a usufruir os créditos, assim como outros inúmeros obstáculos”, afirma o pesquisador Diego Santos Vieira de Jesus, do Instituto de Relações Internacionais da PUC do Rio de Janeiro.

Na lista de dificuldades estão o custo de captação de um banco só com países emergentes e a demora de um processo que envolveria a criação de uma sede e o treinamento de funcionários especializados. Thakur prefere ressaltar as vantagens: “Um banco do Brics forçaria um maior envolvimento do grupo na economia do próprio grupo. A Índia já criou até um centro de estudo para avaliar as possibilidades de um maior engajamento econômico entre os países do Brics.”

Entre brasileiros e indianos

À parte da cúpula, Brasil e Índia reservaram um tempo para discutir interesses mútuos. Uma missão empresarial acompanha a presidente Dilma Rousseff, que desembarcou no país oriental já nesta terça-feira. As trocas comerciais entre os dois países foram de 9,2 bilhões de dólares em 2011, um pouco abaixo da meta estabelecida de 10 bilhões. Até 2015, os dois parceiros querem chegar à cifra de 15 bilhões.

Mas nem todas as conversas giram em torno de negócios. A Índia será o primeiro país em desenvolvimento a receber estudantes brasileiros pelo programa Ciência sem Fronteiras. E o Brasil pode exportar para o país os modelos considerados bem-sucedidos de combate à pobreza, como os programas Brasil Sem Miséria e Bolsa Família.

Na visão de Thakur, Brasil e Índia podem se aproximar ainda mais. “Os dois países nunca tiveram qualquer problema no passado. O que não é regra dentro do Brics: Índia, China e Rússia têm manchas em seu passado comum. E isso pode ser uma barreira algumas vezes”, lembrou a pesquisadora, em referência a disputas territoriais entre Índia e China e também entre China e Rússia.

*Com informação : Deutsche Welle


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