Uma cara nova para o Brasil | Por Petrônio Souza Gonçalves

Era o início do governo Lula. O presidente queria mostrar que o Brasil estava mudando, de cara nova, levando o primeiro ministro negro ao Supremo Tribunal Federal. Frei Betto, assessor especial do presidente, sabia disso. Um dia, enquanto esperava um avião no aeroporto de Brasília, o assessor sentou-se ao lado de um homem que conhecia de vista e começaram a conversar. Descobriram que eram mineiros. O avião atrasou, a conversa se alongou. Ao final, trocaram cartões, quando Frei Betto se surpreendeu com as credenciais do até então anônimo Joaquim Barbosa, Procurador da República. Frei Betto retornou a Lula, que encaminhou para o ministro da Justiça Márcio Thomas Bastos o achado e Joaquim Barbosa realizou e transcendeu o sonho de Lula, dando uma nova cara ao Brasil e ao Supremo Tribuna Federal.

Agora, o eminente presidente do STF começa a influenciar o país, dando uma esperança de justiça à nação de milhões de injustiçados. Joaquim Barbosa começa a dar uma cara institucional brasileira ao Supremo, com menos perfumaria e com mais cheiro de gente. Deixou isso claro em seu discurso, depois de muitas ações.

Enquanto a Justiça brasileira seguia de olhos bem abertos para ver quem deveria julgar e até mesmo condenar, Joaquim Barbosa abriu seus olhos mais ainda, indo contra e apontando a visão viciada da justiça nacional. E contra ela se indispôs, se expôs, fato que ainda não havíamos testemunhados no Supremo Tribunal Federal. Ele demonstrou, desde o primeiro instante, que tinha lado: o da Justiça. Assim se tornou referência nacional, sendo reverenciado pelo Brasil afora. Em 2009, no centro do Rio de Janeiro – depois de diálogo áspero com o então presidente do Supremo, em Brasília – foi aplaudido pelas ruas históricas do Rio, espontaneamente. Ali teve a certeza de que trilhava o caminho certo, o caminho que o povo sempre esperou de alguém que se senta em uma das cadeiras do Supremo Tribunal Federal. É preciso independência para poder julgar, é preciso comprometimento para condenar.

Joaquim Barbosa é o “Brasil” que deu certo, que superou todas as adversidades, que rompeu com as injustiças, que venceu as atrocidades. Somos um povo que se acostumou com a omissão, uma gente que não gosta de se indispor, que prefere compor. Ele não, não se escondeu atrás de sua cor, não se rendeu às atrocidades de um mundo que o queria rendido diante de sua realidade, que não compactuou com uma verdade velada, tão discriminatória que mais de século depois da Abolição da Escravatura ainda impõe a milhões de brasileiros sua escravidão moderna, customizada e tão bem disfarçada. Para Barbosa a cor não foi um fim, mas o início de tudo…

Em um país de tantos vencidos, ascende ao posto de presidente do STF um vencedor, revelando a todos o milagre da educação e da superação. Ele representa a mais perfeita encarnação do sonho brasileiro. Como bem definiu o poeta, outro mineiro, “o que a vida exige de nós é coragem”!

Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor. (petroniosouzag@gmail.com | www.petroniosouzagoncalves.blogspot.com)


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