Sertão e Mundo

João Baptista Herkenhoff é Juiz de Direito aposentado no Espírito Santo, professor e escritor.
João Baptista Herkenhoff é Juiz de Direito aposentado no Espírito Santo, professor e escritor.

Por curiosa coincidência foram lançados em Vitória, dois livros que se completam levando o leitor a uma viagem dos sertões ao mundo.

Podemos começar o périplo a partir dos sertões para depois alcançar o mundo, ou podemos optar pelo caminho inverso: vir do mundo para os sertões.

Vou optar pelo caminho que se inicia nos sertões – “Ecos do sertão: sertões – Vozes do árido, do semiárido e das veredas”, título do livro de Jô Drummond, minha confrade na Academia Espírito-Santense de Letras. Confreira, palavra estranha, não é? Mais estranha que confreira, só mesmo confrada. Prefiro confrade: o confrade, a confrade, como também o poeta, a poeta, e jamais poetisa. Mas o tema desta página não são as questões gramaticais, a respeito das quais ouça-se José Augusto Carvalho.

O livro da Jô Drummond é simplesmente fenomenal. Jô viaja por Euclides (Os sertões), Graciliano (Vidas secas) e Guimarães Rosa (Grande sertão). Estuda, com olhar percuciente, as personagens criadas pelos geniais autores: Coronel Moreira César, Baleia, Riobaldo. Tão diversas, mas tão semelhantes, sob o olhar da arte: Moreira César é militar do Exército, Riobaldo é jagunço, os dois são gente, Baleia é bicho. Jô ultrapassa o espaço simplesmente literário para voar por rotas tão ousadas quanto às do trio citado e assim bate à porta da Linguística, da Psicologia, da Sociologia, da Antropologia, da Filosofia, da Mitologia, da Poética, da História e Histeriografia, da Geografia e Cartografia, do Folclore. É incrível como a autora conseguiu penetrar em tantos universos num livro de apenas um cento e meio de páginas.

O mundo que, ao lado do sertão, serve de título para este texto, é o mundo de Francisco Aurélio Ribeiro: “Viajando pelo mundo – em fotos e crônicas”. Francisco Aurélio é também colega de Academia. Mesmo quem não tenha a oportunidade de realizar concretamente as viagens que o livro conta, vai com toda certeza viajar na imaginação, tão inspirada é a narrativa, tão belas são as fotos. O autor conduz o leitor à Albânia, à Romênia, a Anguilla, Saint-Berthèlemy e Saint-Maarten, à Austrália e à Nova Zelândia, a Dubai, à Palestina e à Terra Santa inteira, ao Líbano, à Macedônia e a Kosovo, a Madagascar, a Moçambique, a Montenegro, à Ilha Maurício, à Polinésia Francesa, a Dublin, ao Taiti, ao Egito, à Bósnia, à Indochina, à Argentina. Estranha o leitor que os lugares estejam embaralhados, sem começar, por exemplo, pela Argentina, que fica aqui, tão perto do Brasil? Estranha o leitor que no livro os capítulos de Moçambique e Terra Santa sejam vizinhos? Mas foram assim mesmo as viagens do Francisco Aurélio – anárquicas, libertárias, sem rótulos. Se viajar é romper amarras, um livro de viagens não pode aprisionar.

*João Baptista Herkenhoff é magistrado aposentado, Livre-Docente da Universidade Federal do Espírito Santo e escritor.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.