A palavra presidenta pertence à língua portuguesa. Podemos fazer esta afirmação, por um lado, porque a palavra tem indesmentivelmente curso na língua (o que é possível aferir através da pesquisa em corpora e em motores de busca) e, por outro lado, porque está registada em todos os dicionários e vocabulários contemporâneos consultados, nomeadamente nas principais obras de referência da lexicografia portuguesa e brasileira, como o Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves (1966) ou o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (5.ª edição, 2009). Não sabemos ao certo desde quando é que este registo lexicográfico é feito, mas a palavra constava já do Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo (1913) ou do Vocabulário Ortográfico e Remissivo da Língua Portuguesa de Gonçalves Viana (1914).
Refira-se ainda que Cândido de Figueiredo regista este vocábulo como neologismo (em 1913, pelo menos) e abona o seu verbete com uma referência à obra As Sabichonas, de António Feliciano de Castilho (1872), versão livre da comédia de Molière Les Femmes Savantes, onde a personagem Pancrácio se dirige várias vezes à personagem Teodora como “presidenta”.
No entanto, como na maioria das questões linguísticas, o problema não se esgota aqui e inclui variáveis de ordem social, cultural ou mesmo política que têm de ser analisadas ou pelo menos ponderadas, o que origina a impossibilidade de respostas peremptórias neste campo.
Os dicionários veiculam frequentemente informações relativas ao uso das palavras, por vezes baseadas em critérios estatísticos (que é cada vez mais o caminho da lexicografia contemporânea), outras vezes baseadas no conhecimento linguístico dos lexicógrafos ou numa combinação de ambos. O registo encontrado nos dicionários para a palavra presidenta não é uniforme, e esta palavra ora surge sem qualquer indicação de uso (é o caso do Dicionário Houaiss ou do Dicionário Aurélio), ora é apresentada como fazendo parte de um registo de língua familiar (Dicionário Aulete), informal (Dicionário Priberam) ou popular (Infopédia). Nestes últimos casos, os registos do dicionário indicam-nos que o uso da palavra em situações de formalidade ou em que se pretende um discurso irrepreensível é desaconselhado, mas esta informação não é consensual.
Os cargos de presidência e de chefia têm sido, durante muitos anos, maioritariamente desempenhados por pessoas do sexo masculino e os substantivos correspondentes foram sendo registados na tradição lexicográfica como substantivos masculinos, refletindo esse facto. À medida que a sociedade se vai alterando, torna-se necessário designar novas realidades, como seja o caso da feminização de alguns cargos, decorrente do acesso da população feminina a tais lugares.
A palavra presidente, durante muito tempo apenas substantivo masculino, passou a ser usada e registada nos dicionários como substantivo de dois gêneros ou comum de dois (ex.: o presidente, a presidente). O uso de presidenta como feminino de presidente corresponde a um padrão raro em português, podendo ser encontrado em formas como giganta, infanta ou parenta, mas este uso tem sido feito ultimamente também como afirmação política, social ou cultural, nomeadamente de cariz feminista, são exemplos Dilma Rousseff, na presidência do Brasil, ou, a um nível mais restrito, Pilar del Rio, na presidência da Fundação Saramago.
*Texto de Helena Figueira, publicado em 17 de agosto de 2011.
*Publicado originalmente em dúvidas linguísticas do Flip de Portugal

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