
No reino vegetal encontram-se verdadeiras dádivas de Deus: sementes, folhas, flores, frutos, raízes e cipós com surpreendentes propriedades transcendentais, levando o usuário das beberagens preparadas com tais substâncias a estados elevados de consciência, despertando o Divino que existe em cada um de nós.
Por Juarez Duarte Bomfim
Por que somos tão fascinados por estados alterados de consciência? Por que a nossa ânsia, como indivíduos, da incessante busca de estados não ordinários de consciência?
Muitas vezes, essa busca pode levar alguns — ou muitos — ao abuso do álcool e das drogas, a um caminho equivocado que conduz à dependência química, à morte ou completa deterioração da dignidade humana, trazendo malefícios para si e aos que o cercam.
Por outro lado, o impulso do individuo a utilizar substancias que alteram a consciência pode ser visto, mesmo de maneira difusa, como um desejo sincero de experimentar o transcendente, o extraordinário.
Existe um mal-estar que acomete os indivíduos na contemporaneidade, o que os leva a buscar soluções e fuga das suas vidas ordinárias, numa tentativa de retorno ao Paraíso, isto é, à felicidade. Boa parte da psicopatologia humana surge de uma tentativa de retorno ao Éden — a Casa do Pai.
Também difusamente, muitos procuram dar um sentido para as suas vidas. E qual o sentido da vida?
A questão ontológica central da existência humana pode ser resumida a esta indagação: qual o sentido da vida?
— Buscar a felicidade, responderíamos.
Alçada a categoria de verdade autoevidente e direito inalienável, esta condição humana chamada felicidade tem sido ansiosamente buscada por muitos.
E essa procura — às vezes desenfreada — induz parte considerável da humanidade a comportamentos autodestrutivos.
Daí que a busca arcaica e universal de estados não ordinários de consciência, por diversos meios, leva alguns indivíduos ao abuso de drogas e álcool — como já mencionamos.
Relembremos a célebre Declaração: todos os homens são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, e entre estes estão o direito a vida, a liberdade e a busca da felicidade.
Caminhante, o caminho se faz ao caminhar… A alguns se revela o caminho enteogênico: o uso de substancias visando a experimentar o transcendental e o sagrado.
A busca universal por estados de consciência elevados se alicerça em uma “sede de plenitude”, no anseio por estados de consciência mais amplos e íntegros.
Ah e tanto tempo que perdemos… e quanto que ofendemos o nosso corpo físico e mental, nos afundando no vício e no pecado (adharma), até o despertar da aventura enteogênica…
No reino vegetal encontram-se verdadeiras dádivas de Deus: sementes, folhas, flores, frutos, raízes e cipós com surpreendentes propriedades transcendentais, levando o usuário das beberagens preparadas com tais substâncias a estados elevados de consciência, despertando o Divino que existe em cada um de nós. “Vós sois deuses, todos vós sois Filhos do Altíssimo” (Salmos 82: 6).
Enteógeno significa o advento de Deus e do sagrado dentro de nós. A experiência mística que se revela ao beber o Divino. Porém, a experiência do sagrado em cada um só se dá pela graça: é a planta sagrada que lhe escolhe, e não o contrário.
Existem muitas variedades de plantas sagradas, plantas professoras. Por circunscrição experiencial eu só posso testificar de uma: a milenar bebida ayahuasca, também chamada de Daime ou Vegetal — entre outras denominações.
Na tradição ayahuasqueira distinguem-se dois momentos experienciais do uso da bebida: “força” e “luz”. A “força” corresponde a atuação da ayahuasca dentro do corpo físico e mental de cada um, enquanto energia e manifestação da energia. Já o momento de “luz” é a visão extática ou o êxtase visionário, uma lembrança que a ayahuasca traz da centelha divina que habita em nós.
Para nós ayahuasqueiros, esta bebida de “poder inacreditável” — cipó dos mortos, liana de los espiritus… que já foi chamada de “cinema de índio”, “Deus engarrafado”, “Deus alcalóide” — é a maior das dádivas que a biodiversidade da floresta amazônica proporcionou ao mundo Terra.
Faço essas breves considerações para apresentar o livro de Philippe Bandeira de Mello, “A nova aurora de uma antiga manhã”, estudos sobre o universo enteogênico e, particularmente, as múltiplas possibilidades de uso da ayahuasca: como sacramento religioso, no combate as drogadicções, para a psicoterapia etc.
Philippe Bandeira é psicólogo junguiano e transpessoal, dirigente de um centro ayahuasqueiro no Rio de Janeiro, onde se empenha em manter viva e acesa esta luz, esta CHAMA: Círculo Holístico Arca da Montanha Azul.
Eu e Philippe temos muito em comum de vivência na grande escola espiritual que é para nós o adorável Planeta Acre. Tivemos e continuamos a ter a oportunidade de aprender com nossos queridos mestres ayahuasqueiros e o privilégio de gozar de suas amizades.
Quando, já há muitos anos, num bailado comemorativo em uma das casas da Barquinha (Rio Branco-Acre), pedi ao seu filho Mickael que nos apresentasse, surgiu ali uma amizade à primeira vista, diria até que nascia naquele momento uma relação de cumplicidade. Cumplicidade esta só existente entre iniciados em grandes mistérios — e este grande mistério é o maravilhoso mundo do Daime.
Philippe nos presenteia com este erudito e bem fundamentado livro, que traz uma enorme gama de assuntos de seu interesse, que generosamente compartilha com o leitor.
Leiam. Entre os inúmeros assuntos tratados destaco, com admiração, a maneira como ele descreve a linha daimista da “Barquinha” e seus grandes expoentes: o mestre fundador, Frei Daniel e o velho pastor Frei Manuel, que “canalizaram” esta linda, misteriosa e pouco conhecida doutrina.
E tem mais… Leiam. Os surpreenderá. Leiam.
Livro: A nova aurora de uma antiga manhã, Philippe Bandeira de Mello.
Contato: http://arcadamontanha.blogspot.com.br/
Confira o vídeo: Aya2014 um novo Sol para a humanidade Amanhecer
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