Já há muito tempo, num rápido périplo por terras d’além-mar, não tive oportunidade de conhecer os pelourinhos das vilas portuguesas. No Brasil, sabia da existência do pelourinho de Alcântara-Maranhão.
O Largo do Pelourinho é o coração do Centro Histórico de Salvador (Bahia), Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. É também seu principal cartão postal. Sua imagem contribui para formar a designada ‘identidade baiana’ ou ‘baianidade’.
Este nome — Pelourinho — confunde-se hoje com o próprio Centro Histórico, sendo a sua marca e imagem.
Todavia, o bairro do Pelourinho é apenas uma parte do Centro Histórico, e a mais importante. Concentra o conjunto arquitetônico colonial de maior significado patrimonial, que corresponde a um total de 1.170 imóveis de caráter civil, político-administrativo, religioso e militar.
O vocábulo pelourinho é derivado do francês pilori, possivelmente do latim medieval pillorium, que corresponde a uma coluna de pedra ou madeira, situado em praça ou lugar publico, junto da qual se expunham e castigavam os criminosos.
O historiador Cid Teixeira não confirma essa função do pelourinho na capital da Bahia. Ele afirma que em Salvador o pelourinho sempre foi uma representação de poder simbólico, e não algo funcionalmente usado para castigo de escravos e criminosos. Porém, há controvérsias.
No urbanismo português, o pelourinho era o símbolo obrigatório do poder em todas as vilas e cidades. Em Salvador, quando da fundação da cidade (1549), foi erguido na Praça da Feira (atual Praça Municipal); transferido para o Terreiro de Jesus, no século XVII, e logo foi deslocado para o que é hoje a Praça Castro Alves – alegando-se que os gritos dos açoitados atrapalhavam as atividades religiosas na Igreja dos Jesuítas.
O alargamento da área no limite urbano das Portas do Carmo (Norte) permitiu que para ali fosse levada a feira da cidade, e com ela o pelourinho, em 1807, cuja coluna permaneceu neste sitio até 1835, quando foi abolido. Contudo este nome já identificava o largo da feira e seu entorno — o bairro do Pelourinho.
É dito que após os eventos da Abolição da Escravatura e a Proclamação da República houve ordem para destruir os vestígios materiais da monarquia e do lugar de suplício dos negros escravos — o Pelourinho.
No caso de Salvador, possivelmente o motivo da derrubada deste totem tenha sido eliminar os vestígios do domínio português no Brasil independente, devido à época de referência da sua extinção: 1835.
Salvador perdeu o seu pelourinho, e nada foi feito para reedificá-lo, mesmo que fosse numa versão fake (falso, postiço). Uma gestão municipal dos 1980 ergueu, no lugar onde supostamente localizava-se o pelourinho, uma escultura vertical do artista plástico Mestre Didi, em louvor aos orixás e egunguns. Permaneceu ali temporariamente.
Hoje, há uma bela escultura artística citando o pelourinho, nos jardins do Solar do Ferrão, na Rua Gregório de Matos, no Centro Histórico de Salvador.
Já há muito tempo, num rápido périplo por terras d’além-mar, não tive oportunidade de conhecer os pelourinhos das vilas portuguesas. No Brasil, sabia da existência do pelourinho de Alcântara-Maranhão.
Alcântara… talvez a primeira notícia que tive desta cidade histórica maranhense tenha sido em 1980, lendo “Entradas e bandeiras”, do escritor Fernando Gabeira, e desejei conhecê-la.
Longos 35 anos depois pude visitá-la, equilibrando-me num catamarã voador. Sim, a embarcação voava sobre as volumosas e altas ondas do mar bravio do litoral maranhense.
Quedo-me sabedor de que em Alcântara tal monumento também veio ao chão, enterrado no mesmo lugar onde se erigia. Quando se cogitou reergue-lo, setenta anos após a sua retirada, uma ex-escrava nonagenária indicou onde se achava “sepultada” a relíquia. O pelourinho foi restituído a Cidade de Alcântara, e é um dos seus principais atrativos, situado na Praça da Câmara e em frente à inacabada Matriz de São Matias, padroeiro do lugar.
Não sei por que, mas certamente será um indevido e inoportuno acréscimo, sobre o brasão monárquico foi esculpido um prosaico caju, fruta genuinamente nordestina.
Com caju e tudo, o pelourinho da antiga cidade colonial é uma das pérolas desta joia do Maranhão: Alcântara.

Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




