Raimundo Falcão de Oliveira, conhecido como Raimundo de Oliveira, nasceu em 1930 em Feira de Santana e faleceu em 1966 em Salvador. Ele atou como gravador, pintor, desenhista e iniciou nas artes por intermédio da mãe, pintora de temática religiosa, que o encaminha para o desenho e a pintura, como também o orienta na religião.
Incentivado pela professora de desenho, expõe pela primeira vez no Ginásio Santanópolis, onde retrata os professores da escola. Após a conclusão do curso ginasial, em 1947, segue para Salvador, onde faz cursos regulares de pintura com Maria Célia Amado, na Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia, e conhece Mario Cravo Júnior e Jenner Augusto .
Ele realiza a primeira individual no hall da Prefeitura de Feira de Santana, em 1951, momento em que se liga a um grupo de artistas independentes, responsável pelos Cadernos da Bahia. Reside em São Paulo de 1958 a 1964, depois volta a morar na Bahia. Vive no Rio de Janeiro entre 1965 e 1966. No ano de seu suicídio, 1966, é editada a Pequena Bíblia de Raimundo de Oliveira. Xilogravuras, pela Galeria Bonino e Petite Galerie, organizada por Julio Pacello, com prefácio de Jorge Amado. Em 1982, é publicado o segundo álbum do artista, Via Crucis, pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, e é inaugurada a Galeria Raimundo de Oliveira, em Salvador.
Comentário Crítico
A obra de Raimundo de Oliveira – desenho, guache, óleo e gravura – se desenrola no universo religioso, com santos, imagens e cenas bíblicas representados de diversas formas. Os críticos tendem a distinguir duas fases em sua produção em função das variações observadas no tratamento dado ao tema. Nas décadas de 1950 e 1960 predominam as composições com cores sombrias e caráter expressionista – as figuras marcadas por traços dolorosos e dramáticos, definidas com nanquim e contornos negros, como Cabeça de Cristo, 1957, Crucificado, s.d., e Moisés, 1960 – e algumas leituras mostram afinidades com a pintura de Georges Rouault. Em outro momento, as telas aproximam-se dos pequenos enredos, elaborados com o auxílio de figuras apequenadas (mais humorísticas que trágicas, pelas deformações e desproporções), que se repetem por causa das situações apresentadas. Estruturadas geometricamente, por um equilíbrio de planos horizontais e verticais, as novas telas possuem dinamismo particular, obtido pelos espaços construídos com base em círculos. A energia das cores vibrantes e o dinamismo da tela são as marcas salientes dessa fase, visto em O Sonho de Jacob, s.d. Além das influências simbolistas e da arte naif de Henri Rousseau, são perceptíveis, nessa fase, ecos da arte popular nordestina brasileira. O universo religioso é lido da ótica das festas e da religiosidade popular, misturando-se frequentemente ao mundo profano – procissões, bumba-meu-boi, altares domésticos etc. Os enredos e modos de figuração, por sua vez, remetem à arte dos gravadores e ceramistas do Nordeste. Elementos retirados da paisagem nacional, como árvores e animais tropicais, são outra forma de articular o erudito e o popular, o universal e o nacional – Jesus no Horto das Oliveiras, 1962, e Chegada em Jerusalém, 1964.
Críticas
“E então todos se deram conta que o burel não era um burel, era uma velha capa contra a chuva, e o cajado não era cajado, eram pincéis de pintura. E havia uma tela e o cujo sujeito pintava. Alguns quiseram apedrejá-lo, considerando-o um vigarista vindo de fora, mas outros reconheceram o peregrino e a ele se dirigiram, tratando-o familiarmente de Mundinho. Pois era Raimundo de Oliveira, filho da terra, desde menino um vago, sem jeito para o trabalho, a não ser para riscar papel, se isso é trabalho que se considere. Tinha ido embora fazia tempo, dele não havia notícia. Apareceu agora de repente e em torno de sua grande cabeça pairava uma atmosfera mágica, como se o cercasse a luz da madrugada. (…)
Esse pintor, esse grande pintor da Bíblia e da Bahia, esse que passou a limpo a violência do Velho Testamento e o tornou de maciez de veludo, esse que encheu de flores a áspera tragédia antiga, esse moço de voz tímida e segura certeza, esse Raimundo de Oliveira é um profeta com alma de Francisco de Assis. Só a Bahia o podia produzir, nos caminhos da cidade onde nasce o sertão; só a Bahia o podia alimentar e o oferecer às galerias do sul, à glória e à fama, pois sua Bíblia tem uma respiração de candomblé (não fosse ele filho de mãe Senhora de Ôpo Afonjá e não houvesse aprendido a cozinhar com Olga do Aleketu). Mestre pintor, não sei de outro que tenha crescido tanto em sua arte, mantendo-se tão fiel aos sonhos de sua meninice, às esperanças de sua Mãe e ao seu tesouro escondido. (…)
Raimundo de Oliveira (…) não ficou na Bahia. Era um profeta e tinha de levar sua profecia mundo adentro. Tinha de correr os caminhos e demorar em terras distantes. Anda por aqui e por ali, mas é na Bahia que ele vem se alimentar de terra, de animais, de Deus e de amor, é na Bahia que ele vem, humilde e vitorioso, reapreender o mistério do homem e sua necessidade de paz e de fartura”.
Jorge Amado – 1966
AMADO, Jorge. [Palavras]. In: OLIVEIRA, Raimundo de. Pequena Bíblia de Raimundo de Oliveira. Xilogravuras. Prefácio Jorge Amado; organização Julio A. Pacello. São Paulo: Lia Cesar, 1966.
“Este livro (de xilogravuras) nasceu há mais de dois anos, quando Raimundo de Oliveira me procurou para que eu o ajudasse a distribuir convites para a sua exposição, na Galeria Astréia. Saímos juntos, nessa simples missão, e foi no caminho que nasceu a idéia de fazer uma pequena Bíblia. Daí em diante, durante muitos meses, trabalhamos em estreita colaboração. Levamos bastante tempo escolhendo as cenas bíblicas que nos pareciam mais representativas. Essa escolha levava em consideração tanto o aspecto bíblico como o artístico. Além disso, teve que sujeitar-se às limitações impostas pela técnica da xilogravura”.
Julio A. Pacello – 1966
PACELLO, Julio A. In: OLIVEIRA, Raimundo de. Pequena Bíblia de Raimundo de Oliveira. Xilogravuras. Prefácio Jorge Amado; organização Julio A. Pacello. São Paulo: Lia Cesar, 1966.
“Apesar da ingênua composição plástica de suas obras e de sua franca rebeldia em relação à disciplina escolar (…) jamais foi, como equivocadamente o apresentaram (…), um primitivo, um ‘naif’ (…) estava preocupado com a problemática estilística que lhe provocavam os temas e as narrativas religiosos, interpretando-os com cenas de extremo lirismo”.
Clarival do Prado Valadares
PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Apresentação de Antônio Houaiss. Textos de Mário Barata et al. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.
Exposições Individuais
- 1951 – Feira de Santana BA – Primeira individual, na Prefeitura Municipal
- 1951 – Salvador BA – Individual, na Galeria Oxumaré
- 1953 – Feira de Santana BA – Individual, na Prefeitura Municipal
- 1953 – Salvador BA – Individual, na Galeria Oxumaré
- 1956 – Salvador BA – O Drama do Calvário, no Belvedere da Sé
- 1957 – Buenos Aires (Argentina) – Individual, na Plástica Galeria de Arte
- 1958 – Salvador BA – Individual, na Galeria Oxumaré
- 1959 – Santos SP – Individual, no Hall do Edifício Indaiá
- 1959 – São Paulo SP – Individual, na Galeria Ambiente
- 1960 – São Paulo SP – Individual, no Teatro Novos Comediantes
- 1960 – São Paulo SP – Individual, no Teatro Oficina
- 1961 – Campinas SP – Individual, na Galeria Aremar
- 1961 – São Paulo SP- Individual, na Galeria Astréia
- 1962 – São Paulo SP – Individual, no Clubinho
- 1962 – São Paulo SP- Individual, na Galeria Astréia
- 1963 – Rio de Janeiro RJ – Individual, na Galeria Bonino
- 1964 – Buenos Aires (Argentina) – Individual, na Galeria Bonino
- 1964 – São Paulo SP – Individual, na Galeria Astréia
- 1965 – Rio de Janeiro RJ – Individual, na Galeria Bonino
- 1966 – Rio de Janeiro RJ – Individual, no MAM/RJ
Exposições Coletivas
- 1951 – Salvador BA – 1º Salão Universitário Baiano de Belas Artes
- 1952 – Feira de Santana BA – 1ª Exposição de Arte Moderna de Feira de Santana, no Banco Econômico da Bahia
- 1952 – Rio de Janeiro RJ – 1º Salão Nacional de Arte Moderna, no MAM/RJ
- 1952 – Salvador BA – 2º Salão Universitário Baiano de Belas Artes
- 1953 – Salvador BA – Poty, Carlos Bastos e Raimundo Oliveira, na Galeria Oxumaré
- 1953 – Salvador BA – 3º Salão Baiano de Belas Artes
- 1954 – Salvador BA – 4º Salão Baiano de Belas Artes, no Hotel Bahia
- 1955 – Salvador BA – 5º Salão Baiano de Belas Artes, na Galeria Belvedere da Sé – menção honrosa em desenho
- 1956 – Rio de Janeiro RJ – 5º Salão Nacional de Arte Moderna
- 1956 – Salvador BA – 6ª Salão Baiano de Belas Artes, na Galeria Oxumaré – menção honrosa em pintura
- 1956 – Salvador BA – Artistas Modernos da Bahia, na Galeria Oxumaré
- 1956 – Salvador BA – Exposição de Pintura Moderna, no Palácio Rio Branco
- 1957 – Rio de Janeiro RJ – 6º Salão Nacional de Arte Moderna
- 1957 – São Paulo SP – Artistas da Bahia, no MAM/SP
- 1959 – São Paulo SP – 47 Artistas, na Galeria de Arte das Folhas
- 1960 – São Paulo SP – 9º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia – medalha de bronze
- 1961 – Porto Alegre RS – Círculo dos Amigos da Arte, no Margs
- 1961 – São Paulo SP – Arte Sacra Contemporânea, na Sede do Movimento Graal
- 1961 – São Paulo SP – 10º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia – prêmio aquisição
- 1962 – São Paulo SP – 11º Salão Paulista de Arte Moderna – pequena medalha de prata
- 1963 – São Paulo SP – 12º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
- 1963 – São Paulo SP – 7ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
- 1964 – São Paulo SP – 13º Salão Paulista de Arte Moderna
- 1965 – Caracas (Venezuela) – Avaliação da Pintura Latino-Americana
- 1965 – Paris (França) – Salon Comparaisons, no Musée d’Art Moderne de La Ville de Paris
- 1965 – Paris (França) – Oito Pintores Ingênuos Brasileiros, na Galerie Jacques Massol
- 1965 – Rio de Janeiro RJ – 33 Artistas em Homenagem à Cidade do Rio de Janeiro – menção honrosa
- 1965 – São Paulo SP – 8ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal
- 1966 – Buenos Aires (Argentina) – Artistas Brasileiros Contemporâneos, no Museo de Arte Moderno
- 1966 – Lausanne (Suíça) – Artistas e Descobridores de Nosso Tempo
- 1966 – Nova York (Estados Unidos) – Brazilian Artists, na Amel Gallery
- 1966 – Montevidéu (Uruguai) – Artistas Brasileiros Contemporâneos, no Museo de Arte Moderno de Buenos Aires
- 1966 – Madri (Espanha) – Artistas da Bahia, no Instituto de Cultura Hispânica
- 1966 – Lausanne (Suíça) – Salão Internacional de Galerias – Piloto
- 1966 – Nova York (Estados Unidos) – Brazilian Artists, na Amel Gallery
- 1966 – Moscou (Rússia) – Pintores Primitivos Brasileiros
- 1966 – São Paulo SP – 15º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
- 1966 – Nova York (Estados Unidos) – The Emergent Decade, no Solomon R. Guggenheim Museum
Exposições Póstumas
- 1966 – Rio de Janeiro RJ – 4ª Resumo de Arte do JB, no MAM/RJ
- 1966 – Salvador BA – 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas
- 1966 – São Paulo SP – 15º Salão Paulista de Arte Moderna, na Galeria Prestes Maia
- 1967 – Salvador BA – Exposição Coletiva de Natal, na Panorama Galeria de Arte
- 1969 – Rio de Janeiro RJ – Via Crucis, no Gabinete de Arte de Botafogo
- 1976 – São Paulo SP – Individual, na Galeria de Arte Portal
- 1979 – São Paulo SP – Raimundo de Oliveira: pinturas, na Galeria de Arte Ipanema
- 1982 – Salvador BA – A Arte Brasileira da Coleção Odorico Tavares, no Museu Carlos Costa Pinto
- 1984 – São Paulo SP – Coleção Gilberto Chateaubriand: retrato e auto-retrato da arte brasileira, no MAM/SP
- 1984 – São Paulo SP – Tradição e Ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras, na Fundação Bienal
- 1986 – São Paulo SP – Individual, na Biblioteca Mário de Andrade
- 1988 – São Paulo SP – Pintura Ingênua Brasileira, no Espaço Quadros e Objetos de Arte
- 1990 – São Paulo SP – Figurativismo/Abstracionismo: o vermelho na pintura brasileira, na Itaugaleria
- 1992 – Belém PA – Décima Primeira Arte, na Fundação Romulo Maiorana
- 1992 – Rio de Janeiro RJ – Individual, na Galeria Bonino
- 1993 – João Pessoa PB – Xilogravura: do cordel à galeria, na Funesc
- 1993 – Rio de Janeiro RJ – Individual, na Galeria Ipanema
- 1994 – Poços de Caldas MG – Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos de Unibanco, na Casa da Cultura
- 1994 – São Paulo SP – Xilogravura: do cordel à galeria, no Metrô
- 1995 – Rio de Janeiro RJ – Coleção Unibanco: exposição comemorativa dos 70 anos de Unibanco, no MAM/RJ
- 1996 – Belém PA – 15º Salão Arte Pará, no Museu de Arte do Belém
- 1996 – São Paulo SP – Ex Libris/Home Page, no Paço das Artes
- 1997 – Porto Alegre RS – Exposição do Acervo da Caixa, no Conjunto Cultural da Caixa
- 1997 – São Paulo SP – Exposição do Acervo da Caixa, no Conjunto Cultural da Caixa
- 1998 – Curitiba PR – Exposição do Acervo da Caixa, no Conjunto Cultural da Caixa
- 1998 – Rio de Janeiro RJ – Exposição do Acervo da Caixa, no Conjunto Cultural da Caixa
- 1998 – São Paulo SP – Os Colecionadores – Guita e José Mindlin: matrizes e gravuras, na Galeria de Arte do Sesi
- 1999 – Salvador BA – 100 Artistas Plásticos da Bahia, no Museu de Arte Sacra
- 1999 – Salvador BA – 60 Anos de Arte Brasileira, no Espaço Cultural da Caixa Econômica Federal
- 2000 – São Paulo SP – Investigações. A Gravura Brasileira, no Itaú Cultural
- 2000 – São Paulo SP – Os Anjos Estão de Volta, na Pinacoteca do Estado
- 2001 – Brasília DF – Investigações. A Gravura Brasileira, na Itaú Galeria
- 2001 – Penápolis SP – Investigações. A Gravura Brasileira, na Galeria Itaú Cultural
- 2001 – São Paulo SP – Coleção Aldo Franco, na Pinacoteca do Estado
- 2002 – Rio de Janeiro RJ – Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
- 2002 – São Paulo SP – Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, no CCBB
- 2002 – São Paulo SP – Santa Ingenuidade, na Unifieo
Museu leva nome do artista
Criado em 1967, pelo empresário Assis Chateaubriand, o Museu Regional de Feira de Santana, conhecido como MAC Feira de Santana, foi instalado no prédio onde funcionava a administração e balança de animais da feira de gado – posterior Ginásio Municipal – e adaptado sob a orientação dos arquitetos Jader Tavares, Diocleciano Barreto, Fernando Frank e Oto Gomes. No final de 1995, a UEFS, que administra o Museu Regional, transferiu todo o acervo para o Centro Universitário de Cultura e Arte – CUCA. Consciente da importância histórica do edifício que durante quase trinta anos abrigou o Museu Regional, o Departamento de Cultura do Município dirigido na época por Juraci Dórea Falcão, na gestão do prefeito José Raimundo Pereira de Azevedo, desenvolveu um projeto visando a preservação do citado espaço para a área cultural, criando o Museu de Arte Contemporânea de Feira de Santana – Decreto 5.958, de 25 julho de 1996 – que através do Projeto de Lei 147/97, passou a denominar-se Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira.
O Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira está localizado na Rua Geminiano Costa, nº 255, no Centro de Feira de Santana. Para mais informações, os interessados podem entrar em contato pelo telefone (75) 3223-7033 ou pelo email macfeira@gmail.com. O museu também está presente no Facebook, através da página facebook.com/macfeira. O horário de funcionamento é de segunda a sexta, das 8h às 17h.
*Com informações do Itaú Cultural.


Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




