José Raimundo, o perfil do jornalista da Globo

Jornalista José Raimundo Carneiro de Oliveira.
Jornalista José Raimundo Carneiro de Oliveira.

José Raimundo Carneiro de Oliveira, um dos principais jornalistas investigativos do Brasil, construiu uma carreira de quase quatro décadas, consolidando seu nome na televisão brasileira por meio de suas reportagens incisivas e abordagens sobre temas de interesse público. Natural de Riachão do Jacuípe, na Bahia, José Raimundo desenvolveu uma forte ligação com o Nordeste e suas questões sociais e ambientais, tornando-se uma das vozes mais respeitadas na cobertura dos impactos da degradação ambiental, corrupção política e desastres ecológicos.

A sua trajetória é marcada por um profundo envolvimento com a realidade nordestina, especialmente em torno do Rio São Francisco, um dos maiores cursos d’água do Brasil. José Raimundo fez de suas reportagens uma ferramenta para expor os desafios enfrentados pelas populações ribeirinhas e os impactos da degradação ambiental. Entre as inúmeras reportagens sobre o rio, três ganharam destaque pela profundidade e repercussão, retratando desde os acidentes ecológicos até as ameaças à sobrevivência do São Francisco, um rio que cruza cinco estados e é vital para o abastecimento de milhões de pessoas e para o funcionamento de hidrelétricas.

Início da Carreira

Nascido em 29 de setembro de 1955, José Raimundo teve sua formação inicial no interior baiano, em uma região onde o sertão predomina. O forte vínculo com o ambiente rural seria uma constante em sua vida e carreira, sobretudo ao abordar o Vale do Rio São Francisco e outras áreas vulneráveis do Nordeste. Sua inserção no jornalismo começou na rádio, ainda jovem, e logo ele se mudou para Salvador, onde conciliava os estudos em Sociologia com o trabalho na comunicação.

Nos anos 1970, sua carreira deu um passo importante ao ingressar na TV Itapoã, então pertencente aos Diários Associados. Mesmo diante das dificuldades financeiras da emissora, que frequentemente pagava os funcionários com produtos obtidos por meio de permutas, José Raimundo permaneceu determinado a seguir na profissão. Ele conciliava o trabalho na televisão com sua função como caixa no Banco do Estado da Bahia, posição que lhe garantia o sustento enquanto avançava no jornalismo por pura paixão. A convivência com as condições precárias da TV Itapoã, inclusive com equipamentos sucateados, moldou sua resiliência profissional.

Consolidação na TV Aratu

O próximo grande passo de José Raimundo foi sua entrada na TV Aratu, então afiliada da Rede Globo e uma das líderes de audiência na Bahia, onde aprimorou seu trabalho e ampliou sua visibilidade. A TV Aratu, embora tecnologicamente limitada, já oferecia uma estrutura mais robusta em relação à sua experiência anterior. Na época, ainda se utilizavam câmeras de filme, exigindo alta precisão dos jornalistas, que contavam com pouca margem para erros devido à limitação de material e à ausência de ilhas de edição.

Foi na TV Aratu que José Raimundo teve a oportunidade de se desenvolver como repórter e atrair a atenção de diretores de grandes redes. Em 1987, a TV Aratu perdeu sua afiliação com a Globo, e José Raimundo, que já havia se destacado em diversas coberturas, foi convidado a se transferir para Recife, onde integrou a equipe da Globo Nordeste. Ali, ele ampliou suas coberturas regionais, explorando pautas sobre corrupção, políticas públicas e meio ambiente. Recife funcionava como um ponto de articulação para as coberturas em todo o Nordeste, o que fez com que José Raimundo viajasse frequentemente por toda a região, incluindo retornos frequentes à Bahia.

Ascensão na Rede Globo

Ao retornar à Bahia no final dos anos 1980, José Raimundo passou a integrar a TV Bahia, afiliada da Rede Globo, onde permaneceu e consolidou sua carreira. O convite veio por meio de Alberico Souza Cruz, então diretor da Central Globo de Jornalismo, e Carlos Libório, diretor da TV Bahia. Desde então, José Raimundo participou de grandes coberturas nacionais e internacionais, com destaque para eventos como a Copa do Mundo de 2014 e a Copa das Confederações de 2013, ambas realizadas na Bahia, além das tradicionais coberturas do Carnaval de Salvador, em que chegou a participar de mais de 35 edições.

Sua primeira grande reportagem para o Jornal Nacional, sobre uma mina de cobre no interior da Bahia, foi um divisor de águas. A matéria expunha as condições insalubres e arriscadas enfrentadas pelos trabalhadores, que precisavam descer a quase mil metros de profundidade. Essa reportagem foi amplamente elogiada e marcou a entrada definitiva de José Raimundo no quadro de repórteres nacionais da Globo. A partir desse momento, ele passou a ser chamado para realizar matérias de grande repercussão, muitas delas relacionadas ao meio ambiente e à corrupção.

Coberturas Ecológicas e Denúncias

Entre os temas mais recorrentes na carreira de José Raimundo, a questão ambiental se destacou. O repórter acompanhou de perto a degradação do Rio São Francisco, tendo realizado diversas reportagens sobre o tema para o Jornal Nacional e o Globo Repórter. Suas reportagens sobre o rio, transmitidas ao longo de décadas, alertavam para a contaminação das águas e o impacto ambiental causado pela ação humana, como o despejo de resíduos industriais, que provocou desastres ecológicos. Uma dessas matérias, sobre o despejo de vinhoto por uma usina de cana-de-açúcar no leito do rio, gerou repercussão nacional e ameaças de morte ao jornalista.

Além das reportagens sobre o São Francisco, José Raimundo também cobriu a destruição da Mata Atlântica, tema que lhe rendeu dois importantes prêmios: o Embratel e o Conservação Internacional. As reportagens, transmitidas no Jornal Nacional, mostravam como a devastação poderia ser evitada e as consequências da destruição para o meio ambiente e a população.

O Legado Jornalístico

Com uma carreira consolidada na Globo, José Raimundo teve a oportunidade de realizar coberturas que foram além do factual, permitindo uma análise mais profunda dos temas abordados. Sua participação no Globo Repórter foi um dos pontos altos de sua trajetória, permitindo que ele explorasse temas como a Amazônia, o trabalho infantil, a mortalidade infantil e as fraudes na Previdência Social. A série sobre a Guerra de Canudos e o centenário de Antônio Conselheiro também foi um marco importante em sua carreira.

José Raimundo é reconhecido não apenas pela qualidade de suas reportagens, mas pelo comprometimento com a verdade e a ética jornalística. Para ele, o jornalismo tem a função de dar voz aos que não têm e mostrar a realidade dos fatos, sempre com respeito e responsabilidade.

*Com informações do Núcleo de Memória da Rede Globo.


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