Baiana Jacira Mariete Berlowicz é destaque em programa de culinária na TV da Dinamarca

A baiana Jacira Mariete Berlowicz, proprietária do restaurante brasileiro do restaurante 'O Tempo', em Copenhague.
A baiana Jacira Mariete Berlowicz, proprietária do restaurante brasileiro do restaurante 'O Tempo', em Copenhague.
A baiana Jacira Mariete Berlowicz, proprietária do restaurante brasileiro do restaurante 'O Tempo', em Copenhague.
A baiana Jacira Mariete Berlowicz, proprietária do restaurante brasileiro do restaurante ‘O Tempo’, em Copenhague.

Moqueca, feijoada e acarajé são as grandes estrelas do menu de um restaurante brasileiro em Copenhague, mas num programa da televisão dinamarquesa quem brilhou foi a baiana Jacira Mariete Berlowicz, que mora há 35 anos na Dinamarca. Jacira é a dona do restaurante “O Tempo” e ficou conhecida pelo público do país depois de participar da versão local do programa de televisão ‘Pesadelos na Cozinha’.

O restaurante foi aberto há três anos numa área central da capital dinamarquesa e lá ela frequentemente promove tardes do acarajé, que atraem centenas de pessoas. O programa de televisão foi exibido pela primeira vez em novembro passado e tem ajudado a atrair novos clientes, inclusive pessoas que vivem no interior da Dinamarca e que aproveitam o passeio em Copenhague para provar a culinária brasileira pela primeira vez. Mas, como ela conta, o convite para participar da produção a pegou de surpresa.

“Foi o louco do meu marido que me inscreveu no programa. Só que ele não me falou nem me perguntou, só me inscreveu. Aí, de repente, alguém liga e diz: ‘Olha, você foi chamada para participar do programa, mas a gente tem que te entrevistar primeiro para saber se vale a pena ou não’. Aí eles gostaram de mim, gostaram da história da minha vida. E aí, pronto, aceitei. “

Jacira é casada com o engenheiro Robert Berlowicz e o casal tem uma filha. Robert foi a razão para Jacira deixar Salvador e se mudar para Copenhague, onde ela fez cursos de culinária e trabalhou por mais de vinte anos em cantinas de empresas e órgãos públicos. Durante todo esse tempo, ela sempre sonhou em ter seu próprio restaurante, mas a decisão de abrir o negócio só foi tomada depois de um incidente que a entristeceu muito.

Vítima de racismo

Ela conta que, antes de ter o restaurante, trabalhava na cantina de um estabelecimento, que ela prefere não citar o nome. Numa ocasião, depois de uma licença médica, ela percebeu que seus colegas dinamarqueses tinham esperado a volta dela ao trabalho para que ela fizesse a limpeza de um equipamento da cantina. Intrigada, Jacira perguntou o motivo ao chefe da cantina. Ao ouvir a resposta, ela não teve dúvidas de que estava sendo vítima de racismo.

“Eu perguntei a ele o porquê. Ele respondeu: ‘O pessoal da África está aqui para isso’”, conta.

Jacira pediu demissão imediatamente depois do incidente, mas decidiu não denunciar seu ex-chefe por achar que não tinha como provar a discriminação. Ainda hoje ela se emociona quando lembra o que aconteceu:

“Chorando, eu passei aqui [local onde fica o restaurante] e vi a placa do ponto à venda. Aí, pronto. A gente dá o que pode da gente num país estranho. Ser tratada de outra maneira porque sou preta, eu acho triste isso.”

Segundo Jacira, aquela não foi a primeira vez que ela sofreu racismo na Dinamarca, principalmente de pessoas que acham que ela é africana.  Apesar disso, ela é grata pelas oportunidades oferecidas pelo Estado dinamarquês, como os cursos de formação profissional a que teve acesso e que agora lhe dão condições de administrar o restaurante.

Clientela simpática e curiosa

No restaurante, a clientela é simpática e curiosa sobre a culinária brasileira. Cerca de 70% dos fregueses são dinamarqueses e o restante são principalmente brasileiros e portugueses. O restaurante ainda não dá lucro nem rende o suficiente para pagar o salário de Jacira, mas ela não pretende desistir do negócio sem antes lutar muito pelo seu sonho.

Aliás, lutar é algo que Jacira conhece muito bem. Ainda criança, aos nove anos de idade, ela perdeu a mãe e, três meses depois, o pai. A partir daí a vida de Jacira se tornou uma luta incessante. Ela foi separada dos oito irmãos e passou a viver no orfanato mantido por um convento de Salvador (BA).

“No convento eu aprendi muita coisa, mas foi uma vida bem, não vou nem dizer sofrida, mas cansativa, porque a gente trabalhava muito. Eu fui para lá com nove anos e saí com dezoito. A gente fazia caixa de sapato e caixa para chocolate no convento. Tinha que lavar a própria roupa, porque não tinha ninguém para fazer. Foi vida dura, bem dura mesmo”, ela relembra.

Para levar o restaurante adiante, Jacira está seguindo alguns dos conselhos do apresentador do programa de televisão, Thomas Castberg, que é um chefe de cozinha famoso na Dinamarca. No programa, ele fez algumas críticas à administração e à decoração do restaurante, mas elogiou o talento gastronômico de Jacira, como ela conta:

“Eu fiquei muito orgulhosa quando ele falou que gostou muito do meu tempero e que a comida brasileira era uma comida boa, cheia de sabor; também porque ele repetiu isso várias vezes. Não é que ele chegou disse: ‘eu gostei do seu tempero’. Ele falou isso muitas vezes, durante sete dias. E quando as câmaras estavam desligadas, ele estava na cozinha comendo. Significa que ele gostou mesmo, não é?”

*Com informações da RFI, por Margareth Marmori.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.