
“Nas redes sociais, o que circulam são afetos, são emoções. Essa é a moeda concreta nesses espaços”. A fala é do professor da Universidade de São Paulo Wagner Souza e Silva, palestrante convidado para abrir as atividades da semana de fotografia da Faculdade de Comunicação da UFBA, que aconteceu de 22 a 26 de outubro de 2018.
Para o pesquisador, quando se observa o excesso de informações que as redes são capazes de circular, na verdade, o que está em jogo é toda uma dimensão afetiva. “E quando eu falo afeto, estou me referindo às emoções em geral, amor e ódio. Eu estou pensando junto com o filósofo Espinoza (1632-1677), que vai colocar a alegria e a tristeza como balizes de nossos estados de ânimos”, fala o professor. Essa circulação de imagens, em sua opinião, diz também sobre povos e comunidades, espaços atravessados por esses afetos, e que são capazes de animar ou desanimar grupos de indivíduos.
As condições históricas do surgimento e desenvolvimento da fotografia desde 1826, com o francês Joseph Nicéphore Niépce – autor da imagem fotográfica mais antiga que se conhece, no qual uma imagem se fixa a uma placa de estanho coberta com betume branco da Judeia – até a inauguração da fotografia comercial com o daguerreótipo em 1839, cujo aparelho obtinha imagens a partir de uma câmara escura numa folha prata sobre uma placa de cobre, também foram mencionadas na cronologia tecnológica apresentada pelo pesquisador da Escola de Comunicação e Artes da USP, num passeio que pelas câmeras Kodak em 1888, e Leica, em 1924, até chegar ao iphone, em 2007, e o instagram, em 2010.“O instagram é um fenômeno fotográfico. Ele extrai dos grandes veículos a responsabilidade de fazer circular fotografia, o que antes presumia uma certa hierarquia e controle”, observou Silva.A palestra baseou-se em cinco pilares: fotografia, arte e comunicação, interfaceamento digital, a fotografia como tecnoimagem, rede de imagens e estética da afetividade.
“O título que dei a minha palestra [Da reprodutibilidade técnica à autonomia midiática] – faz uma alusão ao filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940), em seu texto clássico, a respeito não só da fotografia, mas da arte: A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, conta. No texto de 1936, Benjamin afirmou que a fotografia possibilita a politização e a democratização da arte, à medida que ela permite reproduzir tecnicamente a arte e retirá-la de seus rituais, fazendo-a circular de outras maneiras, assumindo assim mais peso político do que meramente estético e contemplativo.
“No meu paralelo, a fotografia, para exercer esse papel de reprodutibilidade técnica que Benjamin disse ser importante para a arte, de certa forma, também cria seus próprios rituais, sua própria tradição, se pauta em torno de uma certa autenticidade, que são aspectos que justamente Benjamin dizia que a fotografia seria capaz de derrubar em relação à obra de arte. Quando eu digo autonomia midiática da fotografia, estou querendo derrubar toda essa autoridade, toda essa ritualidade que, de alguma maneira, a fotografia construiu para si. É um movimento emancipador da fotografia que está emancipando a arte”, argumenta.
Ao considerar esse duplo movimento e a circulação de fotos não somente pelos grandes veículos, Silva entende que a fotografia garante para si uma certa autonomia. “Vivemos uma possibilidade muito mais concreta hoje de politização da arte, de fazer circular a arte. Talvez estejamos lidando de uma forma apressada, e não tenhamos entendido ainda a dimensão disso tudo que temos em mão, por isso que vivemos aflitos atualmente em relação a esse universo”, observa.Para o coordenador do evento, professor Rodrigo Rossoni, da Faculdade de Comunicação, a semana buscou discutir a fotografia pelos seus múltiplos processos de pesquisa, produção e exibição. “Eu acredito que a universidade tem um papel importante no fomento das discussões, de elevar o pensamento e responder demandas de diferentes públicos”, afirma.
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