A voz do cantor do trio não se cala | Por Nestor Mendes Jr

Moraes Moreira apresenta show durante Carnaval 2017 de Salvador.
Moraes Moreira apresenta show durante Carnaval 2017 de Salvador.

Havia combinado com Aroldo Macedo pra organizarmos um happening pelos 70 anos do Trio Elétrico Dodô & Osmar, em um grande concerto ao ar livre em Salvador, na frente da pirâmide da Assembleia Legislativa da Bahia. E fui, então, assistir, em fevereiro deste ano, ao show dos Irmãos Macedo. E depois de muita insistência de Armandinho, Betinho, Aroldo e André, finalmente Moraes Moreira deixou o Rio de Janeiro e veio aportar, para delírio nosso e de toda a plateia, no palco que justamente contava a história da invenção genial de Dodô & Osmar, o trio elétrico.

E se o pau elétrico – depois, guitarra baiana – foi a alma do trio, Moraes emprestou-lhe o corpo, sendo o primeiro a botar voz naquela parafernália de guitarras, metais e sopros amplificados em bocas-de-alto-falante. O próprio Moraes é quem conta isso na letra de “Cantor do Trio”: “Eu sou um cantor do Brasil, que canta em cima do trio, jogando através do fio, uma energia pra massa”.

Aroldo Macedo relembra que foi Moraes quem ajudou para que a gravadora Continental gravasse o disco do Armandinho, Dodô & Osmar, “Jubileu de Prata”, no final de 1974, no qual o próprio Moraes interpretou o frevo do mesmo nome, composição de Dodô e Osmar.

No Carnaval do Jubileu, em 1975, Moraes, hospedado na casa de Osmar, sobe no trio, pega o microfone e entoa: “Jubileu de Prata, luz em cascata, explosão de alegria, multidão na folia.” Era a primeira voz do trio elétrico, até então, instrumental.

No disco de 1974, já há uma gravação instrumental de “Double Morse”, também da dupla Dodô e Osmar – até os anos 1980, o repertório do trio era 20% sem voz – e que, em 1977, viraria “Pombo Correio”, com letra inspiradíssima do menino de Ituaçu, na Chapada Diamantina: “Pombo correio voa depressa, e esta carta leva para o meu amor”.

Moraes nos deixou ontem, aos 72 anos, mas a voz do cantor do trio não se calará jamais, porque ele embalou os nossos sonhos delirantes da mocidade e nos legou, no seu grande bazar brasileiro, algumas das pérolas mais preciosas do nosso cancioneiro, como “Meninas do Brasil”, “Sintonia”, “Acabou Chorare”, “Vassourinha Elétrica” “Bloco do Prazer”, “Alto Falante” e “Pão e Poesia”.

Evoé, Moraes!

*Nestor Mendes Jr. é jornalista, autor de “Nunca Mais! 25 Anos de Luta Pela Liberdade no Esporte Clube Bahia”.


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