Presidente Jair Bolsonaro põe em risco combate à pandemia, diz Financial Times

Negacionismo do extremista Jair Bolsonaro coloca Brasil em primeiro lugar no ranking de casos na América Latina, aponta jornal. ‘Le Monde’ descreve país à beira da barbárie: a “gripezinha” deixou o sistema de saúde incapaz de enfrentar a crise.
Negacionismo do extremista Jair Bolsonaro coloca Brasil em primeiro lugar no ranking de casos na América Latina, aponta jornal. ‘Le Monde’ descreve país à beira da barbárie: a “gripezinha” deixou o sistema de saúde incapaz de enfrentar a crise.

Negacionismo do presidente coloca Brasil em primeiro lugar no ranking de casos na América Latina, aponta jornal. ‘Le Monde’ descreve país à beira da barbárie: a “gripezinha” deixou o sistema de saúde incapaz de enfrentar a crise

A tática de menosprezar a letalidade do coronavírus adotada pelo presidente Jair Bolsonaro continua a receber chuvas de críticas por todo o planeta. Semeador de crises em plena pandemia, Bolsonaro ocupa espaço quase diário na imprensa internacional como um dos piores líderes mundiais no enfrentamento da doença. Em seu canal pelo YouTube, o jornal Financial Times noticia que o presidente coloca em risco o combate à Covid-19 na América Latina. O diário apresentou, na quinta-feira (23/04/2020), uma reportagem na qual expõe como a falta de reação à chegada da pandemia colocou o Brasil em primeiro lugar no ranking de casos na região.

Já o francês Le Monde publica relatos de que o país está “à beira da barbárie” e que “a gripezinha descrita por Bolsonaro se intensifica, deixando o sistema de saúde incapaz de responder a esse desafio”. O governador de Nova York Andrew Cuomo, por sua vez, citou, nesta semana, Brasil e Suécia como exemplos a não serem seguidos no combate ao coronavírus. “Quem foi contaminado, foi contaminado e quem morreu, morreu. Fica por isso (…) Não queremos o mesmo para nossos cidadãos”, disse ele, sobre as medidas mais adequadas de enfrentamento.

A reportagem do Financial Times aponta que, mesmo depois de o Brasil ter sido o primeiro país a registrar mais de mil mortes por infecção da doença, Bolsonaro não mudou de opinião, insistindo pelo fim do isolamento social como a melhor maneira de lutar contra a pandemia. O jornal assinala que o presidente foi ao encontro de correligionários e simpatizantes diversas vezes, desrespeitando as recomendações internacionais de segurança e que sua atitude contrasta com a de presidentes de países vizinhos, como a Argentina do presidente Alberto Fernandéz.

Enquanto o Brasil assiste ao colapso do sistema de saúde, registrando mais de 51 mil casos e 3.407 mortos, a Argentina possui 3.435 infectados e 167 óbitos. O diário abordou ainda o comportamento de outro negacionista latino-americano, o presidente do México, Andrés López.

Segundo o veículo, a demissão do ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta, aumentou ainda mais o desgaste de Bolsonaro, com panelaços explodindo nas cidades brasileiras. “Alguns manifestantes chegaram a chamar Bolsonaro de assassino”, destaca o Financial Times.

O jornal aponta para o fato de que o Brasil, com mais de 210 milhões de habitantes, ainda precisa lidar com a situação nas favelas, que concentram mais de 11 milhões de brasileiros, muitos sem acesso à água potável. A reportagem do Financial Times também informa que o país, que já se encontrava em frágil situação econômica antes da pandemia, agora convive com projeções de queda de 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020.

Testar para conhecer a realidade

O FT ressalta ainda que as subnotificações escondem um quadro mais grave: sem ter atingido o pico da curva de contágio, o país já pode ter 12 vezes mais casos do que o reportado oficialmente, segundo pesquisadores. Já o Le Monde se debruça sobre o baixa disponibilidade de testes no Brasil, chamando a atenção para o alarmante aumento de óbitos nos últimos dias. “Quem ainda acredita em números oficiais? Oprimidas, as autoridades não testaram os vivos ou os mortos, e algumas mortes devido ao Covid-19 foram registradas vinte dias depois”, observa o diário francês.

Os testes em massa permitiram a países como a Coreia do Sul controlar a propagação do vírus e adotar as medidas adequadas de isolamento e eventual relaxamento social. Nos Estados Unidos, como no Brasil, o governo não aplicou testes em quantidade suficiente para mapear a trajetória de disseminação do coronavírus em território americano. Apesar disso, os americanos testam cerca de 15 mil pessoas por milhão de habitantes. Já o Brasil patina em 600 testes por milhão de habitantes, em média.

As subnotificações preocupam a comunidade científica no continente americano. Os Estados Unidos se aproximam rapidamente da marca de um milhão de casos e já contabilizam mais de 50 mil mortos. O presidente Donald Trump, que demonstra um comportamento negacionista semelhante ao de Bolsonaro, vem sendo duramente criticado.  O jornal americano The New York Times cobrou esta semana a aplicação de testes em massa pelo governo. “Testes em massa são críticos para permitir uma retomada sustentável da atividade econômica”, opinou o jornal, em editorial publicado na terça-feira (21). Para o diário, Donald Trump prefere fingir que o desafio não existe.

“Os testes permitem a substituição de quarentenas direcionadas por paralisações gerais, dando às autoridades de saúde pública a oportunidade de identificar as pessoas que ficam doentes e, por sua vez, as que foram expostas ao vírus”, argumenta o Times. “E permite que as pessoas voltem com segurança ao trabalho, à escola e às lojas”.

Proteger as pessoas e a economia

Trump, assim como Bolsonaro, um árduo defensor do fim do isolamento social, convive diariamente com a voz ríspida da imprensa.  Mas também vem colecionando ataques e críticas disparados tanto pela comunidade científica quanto por acadêmicos da área econômica. No mesmo Financial Times, o colunista Martin Wolf rebate o argumento do presidente americano de que a a cura não pode ser pior do que o problema, uma referência ao definhamento da economia em razão da prática de quarentena.

Para Wolf, com o fim do confinamento, a economia não voltará o ponto onde estava antes da crise, como se supõe. “A verdadeira questão é o que aconteceria à economia de hoje na ausência do isolamento social”, afirma. “A resposta é que, se o vírus voltasse a galopar mais uma vez, grande parte da atividade econômica do dia-a-dia deixaria de existir”.

Ainda de acordo com o colunista, não é apenas improvável que a suspensão da quarentena traga a economia de volta. “Pior ainda, uma reabertura seguida por uma onda de infecções crescentes e um confinamento, ou mesmo um ciclo de reabertura e bloqueio, devastaria a economia – além da credibilidade dos formuladores de políticas”, diz.

“Não é uma questão de tratar de proteger as pessoas ‘ou’ a economia, mas de proteger as pessoas ‘e’ a economia, conclui.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.