Sem governo, a vacina está longe de chegar ao povo brasileiro, diz ex-ministro Aloizio Mercadante

Aloizio Mercadante: a fila vai ser longa e o tempo de espera também muito longo, portanto, não há expectativa de otimista em relação à vacina para o povo brasileiro.
Aloizio Mercadante: a fila vai ser longa e o tempo de espera também muito longo, portanto, não há expectativa de otimista em relação à vacina para o povo brasileiro.

Em entrevista ao programa DCM Ao Meio-Dia desta terça-feira (19/01/2021), o ex-ministro e presidente da Fundação Perseu Abramo Aloizio Mercadante, fez uma análise detalhada sobre a situação da vacina contra a Covid-19 no Brasil. Segundo Mercadante, há um abismo entre o início da vacinação e o povo vir a ter acesso à vacina.

“Nós estamos diante de um cenário da pandemia grave, retornando ainda mais agressiva e estamos sem governo, sem planejamento, sem calendário e a vacina, que é a única forma de evitar o distanciamento social, está longe de chegar”, afirmou. “A fila vai ser longa e o tempo de espera também muito longo, portanto, não há expectativa de otimista em relação à vacina para o povo brasileiro”, disse.

O ex-ministro explicou que as 6 milhões de doses autorizadas pela Anvisa não são suficientes para vacinar sequer metade dos profissionais de saúde do Brasil. “O que a Anvisa autorizou, 4 milhões da CoronaVac e 2 milhões da AstraZeneca, que são 6 milhões de doses e como são duas doses são 3 milhões de pessoas, não chega à metade dos profissionais de saúde. Então, metade dos profissionais da saúde não tem ainda direito à vacina”, explicou.

Em sua análise, o ex-ministro apontou que o Brasil tem 2,7% da população mundial, mas tem mais de 9% das pessoas contaminadas e mais de 10% das mortes. “Ou seja, nós temos quatro vezes mais mortes por Covid do que a média mundial e temos mais de três vezes a contaminação do que a média mundial”, explicitou.

Falta de vacinas e de planejamento

Para o ex-ministro, pelo tamanho da população brasileira, pela importância da economia e pelo nível de contaminação havia um grande interesse dos laboratórios e das empresas que produzem vacina em fazerem parecerias com o Brasil. “Agora, como nós temos um governo negacionista, que sempre negou a gravidade da crise, que obstruiu as iniciativas da medicina, inclusive a vacina, porque eles nunca acreditaram na vacina e fizeram até manifestações contra a vacina, o Brasil não fez nenhuma parceria e os convênios indispensáveis para poder ter um acesso acelerado às vacinas”, pontou.

Para exemplificar o despreparo do governo Bolsonaro, Mercadante relembrou o acordo da Organização Mundial da Saúde e com a OPAS, segundo o qual o Brasil poderia ter acesso privilegiado à metade da sua população, cerca de 212 milhões de vacinas, uma vez que são duas doses por pessoa. “Com muita pressão, o general, que se diz especialista em logística e tem mostrado que nem isso faz com competência, nós tivemos 44 milhões de doses, assinado o acordo”, lamentou.

CoronaVac

Mercadante relembrou a obstrução do governo Bolsonaro à CoronaVac, vacina chinesa contra a Covid-19. “O Governo Federal não apoiou, o presidente subestimou a vacina chinesa, agrediu e objetivamente nós não temos os insumos para produzir as vacinas chinesas”, disse.

O ex-ministro apontou ainda que a China não liberou os insumos, o IFA, para poder produzir a vacina no Brasil. “Então, se forem liberados todos os insumos para que o Butantan produza e o Butantan tem uma capacidade que eles anunciaram de produzir 1 milhão de doses por dia, o governo do PT faz muito investimento na Farmanguinhos da FioCruz e no Instituto Butantan, nós precisaríamos de 424 dias para vacinar a população, já que são duas doses, ou seja, nós precisaríamos de um ano e meio, se for a vacina chinesa e se os insumos chegarem, o que não está assegurado”, prosseguiu.

AstraZeneca

Sobre a vacina da AstraZeneca, Mercadante disse que a situação é ainda mais complexa. “A Índia é um país com mais de 1,3 bilhão de pessoas que está começando a vacinação e o seus parceiros do entorno são prioridade, inclusive pela contaminação da população”, afirmou.

“Então, também eles correram atrás agora de forma humilhante de 2 milhões de doses para tentar entrar nessa vacinação originária, porque objetivamente para vacina da FioCruz com a Oxford e a AstraZeneca não foram liberados os insumos para o envasamento. Ela não conseguiu produzir até agora nenhuma vacina, nenhuma vacina está pronta. Além disso, eles não compraram as injeções”, explicou.

Sputnik

Mercadante relembrou que o consórcio do Nordeste pactuou 50 milhões de vacinas da Sputnik com a Rússia, mas a Anvisa não liberou. “A Sputnik está fazendo uma parceria com Oxford/AstraZeneca, então eles vão testar essa nova vacina, mas eles alegam que os dados não foram encaminhados, não houve testagem no Brasil e a Anvisa não liberou”, argumentou.

Balanço geral

“Então, você tem 50 milhões de vacinas Sputnik paradas, você tem direito a 44 milhões de vacinas da OPAS e da Organização Mundial da Saúde, não temos previsão de quando as vacinas indianas poderão vir e o volume e não temos capacidade de produção, menos de um ano e meio, se for a vacina chinesa”, avaliou. “Portanto, nós não abrimos os leques, algumas vacinas chegaram a ser ofertadas, a Pfizer ofereceu 70 milhões de doses e o Brasil descartou, é verdade que a logística é difícil em razão da temperatura de armazenamento, mas objetivamente não temos um programa de vacinação”, lamentou.

O ex-ministro avaliou que a luta pela vacina vai gerar um movimento cada vez mais forte, a população vai ficar cada vez mais incomodada, principalmente porque a nova cepa do vírus também ataca a juventude e o índice de mortalidade é muito alto. “Nós estamos realmente em um quadro dramático, mesmo com todos os alertas que nós fizemos de que haveria uma segunda onda, que o Brasil precisava fazer a vacina, que tinha que liberar recursos, que tinha que dar prioridade”, relembrou.

Por fim, Mercadante explicitou o isolamento política internacional de Bolsonaro, que agrediu a China, o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, a União Europeia e o presidente da argentina, Alberto Fernandez. “Então, o Brasil está completamente isolado, não fez as parcerias necessárias, não houve planejamento, não houve coordenação e é isso: essa tragédia. Por tudo isso, a melhor vacina para o Brasil é o impeachment de Bolsonaro”, finalizou.


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