Força-tarefa do Caso Lava Jato em Curitiba deixa de existir, diz MPF; Diálogos captados na Operação Spoofing revelaram indícios de crimes praticados no esquema entre juiz e procuradores da República

Vista parcial da cidade de Curitiba. Operação foi transferida para o Gaeco do Estado do Paraná.
Vista parcial da cidade de Curitiba. Operação foi transferida para o Gaeco do Estado do Paraná.

O Ministério Público Federal (MPF) do Paraná informou hoje (03/02/2021), por meio de nota, que a força-tarefa da Lava Jato “deixa de existir”. Desde o primeiro dia de fevereiro, passou a vigorar uma nova estrutura, em que a responsabilidade por tocar a operação foi transferida para o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do estado, criado no ano passado.

As mudanças já estavam previstas em uma portaria publicada em dezembro pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e fazem parte de um rearranjo institucional no combate à corrupção promovido pelo atual procurador-geral da República, Augusto Aras, um defensor dos Gaecos.

Dos 14 procuradores da República que atuavam na força-tarefa da Lava Jato, quatro passam a integrar o Gaeco do Paraná, com mandato até agosto de 2022. Os outros dez membros da força-tarefa continuam a atuar na operação até 1º de outubro, porém sem dedicação exclusiva e a partir de suas lotações de origem.

Com a mudança, o Gaeco do Paraná passa a contar com nove procuradores no total, dos quais cinco se dedicarão exclusivamente à Lava Jato, sendo os responsáveis diretos por dar continuidade aos trabalhos da operação.

Rio de Janeiro

Na última sexta-feira (29), Aras prorrogou até 31 de março a designação de 11 procuradores que atuam no núcleo da Lava Jato no Rio de Janeiro. A dedicação deles à operação vencia em 31 de janeiro.

A prorrogação se deu para que possa ser feita a transição da operação para o Gaeco do Rio de Janeiro, que ainda se encontra em fase de implantação. Segundo a PGR, a medida faz “parte de um esforço para institucionalizar o trabalho de procuradores que atuam em investigações de grande porte e complexidade”.

Números

Nos últimos sete anos, a Operação Lava Jato deflagrou 79 fases, nas quais foram executados 1.450 mandados de busca e apreensão, 211 conduções coercitivas, 163 prisões temporárias e 132 prisões preventivas.

As investigações, que se iniciaram apurando desvios em contratos da Petrobras, resultaram em 130 denúncias contra 533 acusados, dos quais 174 foram condenados. A operação fechou ainda 209 acordos de colaboração premiada e 17 acordos de leniência com empresas, nos quais foi negociada a devolução de R$ 15 bilhões aos cofres públicos.


Referência

[1] Operação Spoofing

Em 23 de julho de 2019, a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Spoofing objetivando investigar as invasões às contas de Telegram de autoridades brasileiras e de pessoas relacionadas ao Caso Lava Jato. À época da investigação federal, o ex-juiz Sérgio Moro ocupava o cargo de ministro da Justiça do Governo Bolsonaro. Ele, em conjunto com os procuradores da República que atuavam na força-tarefa do Caso Lava Jato em Curitiba, tiveram os diálogos revelados a partir de reportagens exclusivas do The Intercept Brasil.

Os diálogos captados por hackers, a partir de trocas de mensagens pelo aplicativo de mensagens Telegram, foram entregues ao jornalista Glenn Greenwald, editor do The Intercept. As conversas indicam uso de linguagem vulgar e possível conluio com adoção de práticas criminosas que se materializaram com as evidencias da atuação combinada entre o então juiz Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, procurador da República, à época, chefe da força-tarefa do Caso Lava Jato em Curitiba e outros membros da força-tarefa, em atos persecutórios contra o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, além de outras personalidades.

Em síntese, a tese que se manifesta é de que uma organização criminosa se estruturou em setores do Poder Judiciário, Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF) para agir com a finalidade de acumulação de riqueza pessoal e poder.

Com o tempo, ficou demonstrando o desejo de Sérgio Moro em se tornar ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e, no período que atuou como ministro do Governo Bolsonaro, o mesmo fez gestões para nomear Deltan Dallagnol procurador-geral da República.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.