O Outro é a culpa de tudo… | Por Ângelo Augusto Araújo

A pós-modernidade é um conceito da sociologia histórica que designa a condição sociocultural e estética dominante após a queda do Muro de Berlim (1989), o colapso da União Soviética e a crise das ideologias nas sociedades ocidentais no final do século XX, com a dissolução da referência à razão como uma garantia de possibilidade de compreensão do mundo através de esquemas totalizantes.
A pós-modernidade é caracterizada pela ruptura com os ideais iluministas que eram defendidos durante a era moderna, como os sonhos utópicos da construção de uma sociedade perfeita com base em princípios tidos como verdadeiros e únicos.

A história do nascimento do individualismo faz parte das reflexões, no mundo ocidental, provenientes dos questionamentos éticos socráticos, aos quais em um pensamento eudaimonista, referia-se em contrapontos as retóricas sofistas que: o homem seria feliz na busca pelo bom caráter e valores morais. Nessa visão rebatia aos sofistas de que: o homem é a medida de todas as coisas. No Período do renascimento esses valores antropocêntricos ressurgem, com força, motivado pelos interesses de uma classe nascente a “Burguesia”, a qual teria considerações em romper com a ordem dominante, “Absolutista e Clerical”. Nesse período filósofos, como Maquiavel e Hobbes, destacava a maldade humana e reforçava a necessidade de controle, político-social, do até então nascente Estado. Ainda durante esse período, a reforma protestante de Martinho Lutero empurra o homem ao individualismo, rompendo com as ideias coletivistas pregadas pela a igreja católica, e reforça o liberalismo. Coloca o homem com um ser dignificado pelo o trabalho e abre o caminho para a produtividade e consumismo. Nesse mesmo período, Descarte isola o sujeito do objeto e juntamente com Copérnico, Galileu, Newton, Kepler e Bacon, funda o experimentalismo e as ideias mecanicistas, as quais somadas ao positivismo, refletido também as ideias empiristas nascentes de J. Locke e D. Hume, impulsiona o homem para o novo salto cientificista. O iluminismo nasce como ondas de um movimento que já vinha acontecendo, criando ideias revolucionárias com grandes promessas para resolução dos problemas dos homens, impulsionando o liberalismo.

Diante de todo esse levantamento histórico filosófico, aparece o homem sociológico, o qual perdido no meio de questões causadas pela revolução industrial, mas com as bases fundadas dentro de um historicismo de esperanças, move-se em direção a falta de esperanças do pós-modernismo. Desnorteado no meio das promessas que não foram cumpridas, assim como, a desconstrução filosófica de todo um sistema de crenças, o homem encontra-se no meio do nada, em posse de uma liberdade que não sabe o que fazer. Em meio ao tempo que passa rápido, dos espaços que se encurtaram e modificam-se a todo momento, sem a segurança de um futuro previsível, o homem embute em si mesmo, enxergando o outro como um obstáculo, como opositor dos seus desejos e aspirações.

Portanto, esse homem, dito como pós-moderno, rompe com as questões culturais e sociais, estabelece como fronteira os seus próprios limites, culpabiliza-se pelas obrigações que não são suas, tal como, determina o diferente como estranho e algo a ser superado, pois as relações são amorfas, líquidas, e o outro é a culpa de tudo.

*Ângelo Augusto Araújo (angeloaugusto@me.com), médico, pesquisador, doutor em saúde pública e doutorando em Bioética pela Universidade do Porto.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.