Laudato Si: sobre o cuidado da casa comum; Proposta para renovação dos valores – Parte I | Por Ângelo Augusto

Ativista pelo clima Michael Haddad é abençoado pelo Papa Francisco. Libanês, paralisado desde os seis anos de idade, é embaixador para questões ambientais do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. "Decidi caminhar porque a terra está em uma cadeira de rodas", diz.
Ativista pelo clima Michael Haddad é abençoado pelo Papa Francisco. Libanês, paralisado desde os seis anos de idade, é embaixador para questões ambientais do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. "Decidi caminhar porque a terra está em uma cadeira de rodas", diz.

A vida em sociedade na contemporaneidade, voltado ao pensamento comunal, na qual a identidade e a sensação de pertencimento passam por profundas transformações, põe a humanidade a refletir sobre o sonho da liberdade proposta pelas ideias liberalistas, modernismo, fomentada pela revolução burguesa de 1789 (Revolução Francesa), destacando o esquecimento dos pressupostos da fraternidade e igualdade. Hodiernamente, observa-se o processo de isolamento, individualismo, imposto por um sistema econômico que conduz a ética e moral na construção solipsista da realidade, levando ao aumento da desigualdade e insegurança. No livro de Zigmunt Bauman (2001), “Comunidade: A busca por segurança no mundo atual”, o autor idealiza uma relação interpessoal, comunitária, onde os valores que relaciona a identidade, pertencimento, cruza, de forma direta, com os ideais propostos na Encíclica Papal, “Laudato Si: sobre o cuidado da casa comum” (ALVES, 2015; SUESS, 2019). Apesar da não ocorrência de citação direta da encíclica Papal, “Laudato Si”, no livro de Bauman (2001), considerando a diferença de temporalidade, em uma análise anacrônica, a comunidade ideal, a qual poderia estabelecer equilíbrio entre a segurança e a liberdade, os caminhos apontados pela encíclica Papal norteiam a solução fundadas nos princípios da sustentabilidade e justiça em uma visão macro, planetária.

Portanto, em meio a ética da irracionalidade (Hinkelammert, 2003), que nos conduz e nos afasta de uma vivência comunitária ideal, destacado e demonstrado pelo contraste  descrito por Bauman, resta-nos refletir sobre os diferentes caminhos disponíveis para a escolha dos possíveis futuros: A continuação de uma vivência solo, solipsista, perdido nos ideais da auto regulação econômica-social, aumento da desigualdade, e destruição do planeta; ou  repensar na mudança de rumo que reconduza aos ideais esquecidos, fraternidade e igualdade, em equilíbrio com a liberdade, equação que deve ser ponderada a diversidade. Nesse caminho que contempla a ética coletiva, ecológica integral, destaca-se a importância de cada ser, cada individuo, ao qual ninguém poderá ser esquecido, deixado para trás, assim como, a relação de todos com o planeta. A ética da sustentabilidade e justiça engrandece o sentimento de identidade e, consequente, pertencimento, aumentando a segurança, diminuindo a desigualdade e preservando o planeta e suas diferentes formas de vida.

*Ângelo Augusto Araújo, MD, MBA, PhD (angeloaugusto@me.com).


Referências

ALVES, José Eustáquio Diniz. A encíclica Laudato Si’: ecologia integral, gênero e ecologia profunda/The Encyclical Laudato Si’: integral ecology, gender and deep ecology. Horizonte, v. 13, n. 39, p. 1315, 2015.

BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Zahar, 2003

HINKELAMMERT, Franz Josef. Por una economía orientada hacia la vida. Economía y sociedad (2003), no. 22-23, 2003

SUESS, Paulo. A proposta do Papa Francisco para o Sínodo Pan-amazônico de 2019: sinodalidade, missão, ecologia integral. Perspectiva Teologica, v. 51, n. 1, p. 15-15, 2019.

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