Bellintani, devolva nossa paixão! | Por Nestor Mendes Jr.

Cena do jogo do Grêmio x Bahia, durante Campeonato Brasileiro 2019.
Cena do jogo do Grêmio x Bahia, durante Campeonato Brasileiro 2019.

Acordei com uma mensagem de Dudy Silva na minha caixa de Whatsapp, com a sugestão para ouvir Stevie Wonder em “I Just Called To Say I Love You”, grande trilha da comédia “A Dama de Vermelho”.

Dudy reflete sobre a torcida estar se desapaixonando do Esporte Clube Bahia, reverberando os comentários que ouve – e para os quais a atual diretoria do clube faz ouvidos de mercador – do tipo “não vale a pena perder uma noite pra se aborrecer”, “tenho coisa mais importante pra pensar”, “minha saúde vale mais que o Bahêea”, “não quero mais assistir a jogos do Bahêea este ano”, “deixei de pagar o acesso garantido”, “deixarei de ser sócio”, “não vou deixar de sair ou viajar com a família por causa do Bahêea”.

Eu, torcedor apaixonado do ECB, sou um desses contaminados por mais este mal destes tempos pandêmicos de coronavírus. Não assisto a um jogo do Esquadrão desde 10 de julho de 2021, quando perdeu do São Paulo de 1×0, porque Nino Paraíba resolveu deixar o lateral são-paulino Reinaldo contar até 10.000 antes de alçar a bola na área pra Liziero marcar.

Antes que alguém rebarbe, aviso: sou sócio com as mensalidades pagas até o centenário, em 2031. Contudo, não sou masoquista.

Não se trata de querer só ganhar nem de “só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder”, como na música do Titãs, mas de ter a certeza que o Bahia de Bellintani é a “crônica de uma morte anunciada” – como no romance de Gabriel García Márquez.

Não precisa ser vidente ou cartomante para enxergar a hecatombe que é a política de futebol no CT Evaristo de Macedo, embora uma cigana tenha me dito que fui pitonisa, no Sudão, em vidas passadas.

Não pode dar certo a política desastrosa de “bolachas quebradas” usada na contratação de jogadores, ou pior, ex-jogadores em atividade, edulcorada com o argumento de que “vieram de graça”. Não, presidente Bellintani, o preço é altíssimo: salários astronômicos, encargos e a impossibilidade de usá-los em campo porque são imprestáveis. Contratar atletas em disponibilidade no mercado deve ser exceção, e não regra.

É muito estranho que o grupo precisasse de reforços, mas só chegaram jogadores para o “time de transição”. A conta já está em 132 atletas (informação não oficial), sem nenhum aproveitamento substancial, perdendo vergonhosamente até a disputa do Campeonato Baiano. Eliminados do Campeonato Brasileiro de Aspirantes, estão de maresia até o fim do ano, porque não resta nenhuma competição mais a disputar.

O Bahia quando entra em uma peleja, mesmo que seja em campeonato de cuspe à distância, tem que lutar pra vencer. Pode não ganhar, mas tem que combater, com sangue, suor e lágrimas, até o fim. E o que a gente vê em campo, hoje, é um Tricolor de almas mortas.

É também uma política sinistra em que os jogadores nascidos na Bahia não podem jogar mais no Bahia. Caso prevalecesse desde 1931 esta xenofobia aos baianos, não teríamos o orgulho campeão e a glória vencedora que nos deram Teixeira Gomes, Pedro Amorim, Gereco, Marito, Biriba, Baiaco, Piolho, Beijoca, Jorge Campos, Tarantini, Bobô, Charles, Uéslei, Daniel Alves e Talisca.

Sem esse DNA tricolor, sem o sangue da nossa baianidade nagô, o Bahia de Belintani & cia é um arremedo do clube que nasceu para vencer. Bom de propaganda, marketing, conversa fiada, mas desleixado com o nosso maior patrimônio: a paixão de nossa torcida. E ouso dizer que a relação entre a atual diretoria e a paixão do torcedor se quebrou de vez no incidente entre Gerson e Ramírez, quando Mano Menezes saiu e o mandatário tricolor tomou partido do jogador do Flamengo.

Na carta aberta que escrevi ao treinador argentino Diego Dabove sugeri que ele mudasse tudo. Ele provavelmente não leu a missiva e logo perdeu o emprego ao insistir com ex-jogadores em atividade como Nino Paraíba, Lucas Fonseca, Rodriguinho, Juninho Capixaba – este que Bellintani considerou o “melhor lateral-esquerdo” do Bahia de todos os tempos.

A referida carta de boas-vindas a Dabove foi alvo de uma mensagem de Whatsapp iracunda do vice-presidente do clube, Vitor Ferraz. Ele destacou o trecho em que disse que a atual diretoria nada entende de futebol e mandou um furibundo “jamais esquecerei”. Espero sinceramente, Vitor, que os sócios e os torcedores possam esquecer a desastrada gestão de vocês. Agora não mais só no futebol, mas também, comprovadamente, no setor administrativo-financeiro.

Não vou escrever uma nova carta para Guto Ferreira, porque ele conhece bem o ECB, depois de duas boas passagens pelo clube. Só vou reafirmar: mude radicalmente o rumo da prosa ou vai chorar uma queda para a Segunda Divisão, em dezembro.

Dudy Silva estava no grupo que fez o histórico adesivo “Maracajá, devolva meu Bahia!”. Está na hora de fazermos outro, antes que o tempo se esvaia: “Bellintani, devolva nossa paixão!”.

*Nestor Mendes Jr., jornalista.


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