O tripé ensino, pesquisa e extensão, sobre o qual estão alicerçadas as universidades públicas brasileiras, foi tema de alguns dos debates mais assistidos pelo público durante o Congresso que celebrou os 75 anos da Universidade Federal da Bahia.
As várias mesas relacionadas aos temas contaram com as presenças de reitores, ex-reitores e pró-reitores dessas áreas da vida universitária, distribuídas em mesas como: “O Ensino de Pós-Graduação, a Pesquisa e a Inovação na UFBA no auge dos seus 75 Anos“; “Ciência, Tecnologia e Inovação na Pandemia“; “A Pesquisa, O Ensino e a Extensão” e “Pesquisa e Inovação na Universidade Pública“.
O caráter indissociável dessas três atividades-fim da vida universitária foi enfatizado pelo reitor João Carlos Salles logo na abertura da mesa “A Pesquisa, o Ensino e a Extensão” que reuniu os professores Fernando Cássio, da Universidade Federal do ABC; Custódio Almeida, da Universidade Federal do Ceará; e Thierry Petit Lobão, coordenador de pesquisa da Pró-reitoria de Pesquisa, Criação e Inovação da UFBA.
De acordo com Salles, “está na Constituição Federal Brasileira a indissociabilidade dessas dimensões. É um princípio que, de certa medida, autoriza a autonomia da Universidade. É o que torna a universidade pública um espaço de reflexão e afirmação da vontade coletiva”.
Concordando com ele, Custódio Almeida da UFC, enfatizou que “ao longo do tempo, o processo de busca da identidade da universidade sempre esteve ligado à sua autonomia e a esses três modos da vida acadêmica”. Assim, para o pesquisador, “não é possível pensar em ensino sem pesquisa e sem extensão, já que o ensino isolado seria apenas ‘instrutivismo’; a pesquisa isolada nos levaria ao risco de elitizar a pesquisa e torná-la distante da sociedade, do ato de aprender e de ensinar, sem compromisso com o público. Já a extensão, articula o ensino e a pesquisa de forma transformadora”, pontuou.
“É uma ação que exige pesquisa e na qual nós também aprendemos. É uma via de mão dupla em que a universidade vai em busca da sociedade de forma consciente e reflexiva”, disse Almeida. “Talvez tenha virado “clichê” afirmar a indissociabilidade dessas atividades. Precisamos mostrar como essa articulação de ensino, pesquisa e extensão funciona na prática.”
O professor da UFABC Fernando Cássio disse que faz parte de sua vida realizar as três atividades e reconheceu que nem sempre é fácil. Ele entende, contudo, que a universidade pública é o lugar que mais se aproxima da realização de um auditório universal com igualdade de direito entre as pessoas que argumentam” – por isso é importante realizar as três atividades.
Desse modo, ele acredita que “a ofensiva dos reacionários sobre as universidades tem a ver, precisamente, com essa inseparabilidade entre a forma da universidade pública e a democracia. Os ataques visam justamente a minar as liberdades que a universidade precisa, necessita, constrói, produz para justificar sua existência perante o mundo”.
Ciência, Tecnologia e Inovação na Pandemia
O pesquisador emérito da Fundação Oswlado Cruz Samuel Goldenberg assegurou que “é muito importante que estejamos mobilizados no momento em que a ciência e o ensino superior estão sendo ameaçados e a nossa mobilização é uma forma de resistência”, na mesa “Ciência, Tecnologia e Inovação na Pandemia”, em que participou com o também pesquisador emérito da fundação Oswaldo Cruz Renato Cordeiro, e o pesquisador da UFRJ Bruno Lourenço Diaz.
Goldenberg defendeu a pesquisa básica, ponto de partida para todas as inovações e aplicações. A função da ciência básica é, portanto, expandir o conhecimento, ativada pela curiosidade, não tem motivações mercadológicas e é essencialmente realizada nos centros de pesquisa e universidades.
Bruno Lourenço Diaz acredita que “é preciso haver planejamento de recursos para que as universidades façam planos para suas pesquisas em janeiro e [eles] durem o ano todo. E não como está acontecendo ultimamente, dos recursos findarem ainda no mês de julho”.
O pesquisador Renato Cordeiro, conselheiro titular da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e membro da Academia Brasileira de Ciências, enfatizou que “o período da pandemia foi de dias difíceis para a pesquisa científica, tecnologia e inovação e para o meio ambiente, ante o negacionismo, política de desmonte e promoção de cortes orçamentários e contingenciamentos”.
Cordeiro também lembrou de recente relatório das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Ciência e Cultura (Unesco), que mostra que o Brasil só está investindo 1,26% de seu PIB (Produto Interno Bruto) em atividades de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico.
Pesquisa e Inovação na Universidade Pública
“O que se espera de nós, nesse momento da vida nacional, é uma postura mais ativa, pois a nossa postura como pesquisador é aguardar a publicação dos editais. Precisamos ter uma postura mais ativa, no sentido de identificar os vazios tecnológicos e científicos e propor soluções com os nossos pesquisadores e estudantes”, disse o professor Valder Steffen, reitor da Universidade Federal de Uberlância (UFU), na mesa Pesquisa e Inovação na Universidade Pública, ao lado do reitor da Universidade Federal do Rio Grande, Danilo Giroldo, e do vice-reitor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Nelson Sass.
“Esse momento de negacionismo e profundas fake news tem muito a ver com a dificuldade da sociedade em fazer conexões com o pensamento científico. A aplicação do conhecimento científico é que dá sentido. É isso que desperta o desejo da formação cientista”, defendeu Steffen. “Sem ciência não há tecnologia nem inovação. As universidades públicas são responsáveis por mais de 90% da produção científica brasileira, acrescentou.
Para Danilo Giroldo, “é preciso avançar muito na valorização do conjunto de saberes da população brasileira e no letramento científico – desde a divulgação científica até o ensino nas escolas públicas”. E Sass completou, citando uma frase atribuída ao escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe: “Nada mais terrível que a ignorância em ação”.
O Ensino de Pós-Graduação, a Pesquisa e a Inovação na UFBA no auge dos seus 75 Anos
Dados do início do mês de dezembro mostram que a pandemia já “está impactando negativamente no andamento dos programas de pós-graduação da UFBA”. De acordo com o pró-reitor de pós-graduação, Sérgio Luís Costa Ferreira, a tendência pode ser vista, mediante comparação entre os números dos cursos de mestrado e doutorado. Em 2019, foram 1.079 defesa de dissertações e 528 teses; já em 2021, houve 615 defesas de dissertações e de 325 teses, até o dia 06 de dezembro de 2021.
De acordo com Ferreira, na mesa “O Ensino de Pós-Graduação, a Pesquisa e a Inovação na UFBA no auge dos seus 75 Anos”, com outros integrantes da mesma pró-reitoria – os professores, Thierry Petit Lobão, Joice Neves Reis Pedreira e André Garcez Ghirardi – “a pandemia impactou muito algumas ações de trabalho e produção científica e isso vai impactar negativamente em questões de alcance de metas e objetivos estabelecidos no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da UFBA”.
Conforme o balanço feito por Thierry Lobão sobre as realizações na área da pesquisa, durante o cenário impactado pela pandemia em meio a cortes orçamentários, houve uma acentuada queda de recursos para a pesquisa, desde o ano de 2015 e consequente diminuição anual nos orçamentos das pró-reitorias de Pesquisa e de Pós-Graduação da UFBA.
Mas, de 2014 a 2021, houve um crescimento na quantidade de artigos publicados, de acordo com dados da plataforma Web of Science. “Isso mostra que mantemos o ritmo das publicações, com um aumento devido à necessidade no período da pandemia”, disse Lobão. Atualmente na UFBA, são 85 programas de pós-graduação, sendo que mais de 54% deles possuem conceitos de “bom” para cima. Dos 8.120 discentes da pós-graduação, apenas 25% (2.058) são custeados com bolsas.
*Com informações do Universidade Federal da Bahia (UFBA).
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