Sem comida nem financiamento, entrega de alimentos na Etiópia está quase parando

Em apenas quatro meses, mais 6 milhões de pessoas precisaram começar a receber assistência humanitária.
Em apenas quatro meses, mais 6 milhões de pessoas precisaram começar a receber assistência humanitária.

A escalada do conflito no norte da Etiópia tem impedido, há um mês, que os comboios do Programa Mundial de Alimentos, PMA, cheguem a Mekelle.

Os estoques de comida fortificada para crianças desnutridas estão quase acabando e os últimos estoques de cereais, leguminosas e óleo serão distribuídos na próxima semana na capital de Tigray, a nordeste.

Sem comida nem combustível

O diretor regional do PMA para o Leste da África, Michael Dunford, declarou, nesta sexta-feira, que a agência está “precisando escolher quem fica com fome para evitar que uma outra pessoa vire faminta”.

Ele fez um apelo a todos os lados em conflito, para garantia de corredores humanitários seguros, por todas as rotas, pelo norte da Etiópia. Os suprimentos humanitários não estão sendo enviados com a rapidez e o volume necessários. Sem comida nem combustível, o PMA conseguiu apenas alcançar 20% da população necessitada em Tigray.

Dundford acrescentou que o norte da Etiópia está “à beira de um desastre humanitário”. A região enfrenta conflito há mais de um ano e 9,4 milhões de pessoas precisam receber assistência alimentar. Há quatro meses, eram 2,7 milhões de civis nesta situação.

O PMA explica que o grande aumento está ligado ao fato da distribuição de comida estar em um dos níveis mais baixos de sempre.

Financiamento urgente

A agência pretende distribuir alimentos para 2,1 milhões de pessoas em Tigray. Destas, 650 mil vivem em Amhara e 534 mil em Afar. Mas se não receber fundos, o PMA poderá ficar sem comida e suprimentos de nutrição para milhões de pessoas no próximo mês e por isso requer US$ 337 milhões de forma emergencial.

Em nota separada, o Escritório de Direitos Humanos da ONU confirmou que continua recebendo relatos de destruição e bombardeios na região de Tigray. Segundo a porta-voz da alta comissária para Direitos Humanos, ataques aéreos já mataram pelo menos 108 pessoas e deixaram 75 civis feridos desde que o ano começou.

Trabalhadores mortos por drone

Em Genebra, Liz Throssell explicou, nesta sexta-feira, que os ataques teriam sido realizados pela força aérea da Etiópia. Na quarta-feira, por exemplo, um senhor de 72 anos morreu, vítima de uma ofensiva aérea.

No dia anterior, um instituto de treinamento vocacional foi atingido, resultando na morte de três homens e deixando 21 pessoas feridas. A maioria delas eram mulheres.

A semana já havia começado com violência em Tigray: no dia 10, 17 civis morreram e 21 ficaram feridos após um ataque áereo com um drone atingir um moinho de farinha, onde os trabalhadores estavam moendo os grãos.

Possíveis crimes de guerra

A porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU revela que o ataque aéreo mais fatal até agora foi o que atingiu o acampamento para deslocados internos de Dedebit, matando 59 e ferindo 27 pessoas.

Liz Throssell fez um apelo para que as autoridades da Etiópia e aliados garantam a proteção dos civis, segundo a lei internacional. A porta-voz lembra que os lados em conflito devem fazer todo o possível para verificar que os alvos de ataques são objetivos militares e suspender as operações quando ficar aparente que o alvo não é militar.

Throssell destaca que não respeitar os princípios da distinção e da proporcionalidade podem ser considerados crimes de guerra. O Escritório de Direitos Humanos também está preocupado com detenções arbitrárias em meio ao estado de emergência na Etiópia.

Apesar de várias pessoas do alto-escalão terem sido libertadas recentemente, Liz Throssell explica que existem centenas de pessoas detidas em péssimas condições e sem data marcada para irem à tribunal.

*Com informações da ONU News.


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