Durante a convenção nacional do Partido Liberal (PL) ocorrida neste domingo (24/07/2022), que oficializou Jair Bolsonaro como candidato à reeleição, o presidente criticou adversários e a justiça, fez um balanço de seu governo, defendeu sua postura na pandemia do coronavírus, mostrou preocupação com o jovem que hoje vota com a esquerda e convocou eleitores a irem às ruas e mostrar força política no dia 7 de setembro. “Convoco todos vocês para o 7 de setembro. Vamos às ruas pela última vez”.
Os discursos de Jair Bolsonaro e da primeira-dama Michelle Bolsonaro foram marcados pelo uso abusivo do nome e da palavra de Deus, fato que sou como blasfêmia e deixou a impressão de agirem como anticristãos.
No artigo ‘Teologia e Política: uso e abuso do nome de Deus’, Roberto Ervino Zwetsch e Hans Alfred Trein alertam que “o caso do Brasil atual serve para um vigoroso alerta à teologia prática, às igrejas e especialmente aos governantes. Não se usa impunemente o nome de Deus. A perversão do uso do nome de Deus tem um preço histórico. O deus do ódio, como escreveu a jornalista Eliane Brum (2019), não é definitivamente o Deus de Jesus, dos profetas, da cruz e da ressurreição. O abuso desse nome pode nos levar a uma tragédia maior do que aquela que já vivemos neste grande e pobre país”.
A convenção
Com integrantes de seu governo e do Congresso no palanque, como o presidente da Câmara Arthur Lira (PP/AL), Bolsonaro atacou com mais moderação o Supremo Tribunal Federal, dando a deixa para que a plateia entoasse gritos de “Supremo é o povo”. Bolsonaro disse que “esses poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo. Têm que entender que quem faz as leis é o Poder Executivo e o Legislativo. Todos têm que jogar dentro das quatro linhas da constituição. Isso interessa a todos nós”.
Bolsonaro desta vez não focou seu discurso em ataques ao sistema eleitoral, como tem feito nos últimos dias. Embora tenha falado em ‘fraudes’ e ‘eleições limpas’, ele não citou urnas eletrônicas, tampouco demonstrou confiança no modelo brasileiro. Falou sim que, daqui a quatro anos, gostaria de passar a faixa para seu sucessor. “O que eu mais quero é lá na frente, bem lá na frente, entregar o poder de forma democrática e transparente para quem vier me suceder. Mas quero entregar um país muito melhor do que o que a gente recebeu em 2019.”
Na convenção, o presidente confirmou que seu vice na chapa à reeleição será o general e ex-ministro Braga Netto, dizendo que ‘vice tem que ajudar e não conspirar contra’. Bolsonaro afirmou que seu maior “exército é o povo”. “Esse é o nosso exército, o exército do povo, o exército que está do nosso lado, que não admite corrupção, não admite fraude. Esse é o exército que quer transparência, quer respeito. Quer, não. Merece e vai ter”.
Voto jovem
Em segundo lugar nas intenções de voto, com o objetivo primeiro de levar a disputa ao segundo turno, Bolsonaro por vários momentos não escondeu o desconforto com o apoio do eleitor jovem à esquerda. “Precisamos falar com nosso jovem. Temos que trazer o jovem de esquerda para nosso lado. Olha só como está a Venezuela, a Argentina, para onde está indo o Chile”.
O presidente também mencionou que “a maioria dos jovens que gosta de ficar mexendo no celular” deve ficar atenta a seus adversários que defendem o “controle social da mídia”.
Ele também usou a estratégia de se ancorar na pandemia e no clima para rebater críticas de que sua gestão tem poucos programas e projetos a apresentar. “Compare meus três anos e meio com os três anos e meio de outros governos. Mas eu enfrentei uma pandemia. Eu enfrentei uma seca”. Também não deu o braço a torcer quanto à postura negacionista que adotou durante a crise sanitária e que dificultou o início da vacinação no Brasil. “Eu fui contra essa política do desemprego. A ditadura do fique em casa na pandemia”, declarou.
Primeira-dama
Antes do discurso do presidente, ele deu a palavra à primeira-dama Michelle, de olho no voto feminino, nicho que tem resistido a apoiar Bolsonaro na reeleição.
Michelle falou muito de Deus e concedeu ao marido a aura messiânica que a campanha, mais uma vez, tenta emplacar. “A reeleição não é por um projeto de poder, como muitos pensam, não é por status, porque é muito difícil estar desse lado, é por um propósito de libertação, é um propósito de cura para o nosso Brasil. Declaramos que o Brasil é do Senhor”, disse.
“Vocês estão aqui apoiando um projeto de libertação da nação. Há quatro anos, passamos por essa experiência e não tínhamos ideia do que íamos enfrentar, não tínhamos ideia do que estava por vir. Como falei ontem, quando eu cheguei na Santa Casa e vi meu marido na maca, eu olhei para o teto do hospital e falei ‘o senhor tem controle de todas as coisas’. Essa nação é rica, é próspera. Ela só foi mal administrada. Deus ama essa nação”, discursou a primeira-dama.
“A reeleição não é por um projeto de poder, como muitos pensam, não é por status, porque é muito difícil estar desse lado. A reeleição é por um projeto de libertação”, disse Michelle, numa fala carregada de tom religioso. “Declaramos que o Brasil é do Senhor. (…) Ele [Bolsonaro] é o escolhido de Deus.”
Falando pouco depois, Jair Bolsonaro também fez uso de linguagem religiosa, adicionando ainda retórica anticomunista e elogios às Forças Armadas. “Esse é um país cristão, de valores, do presente e do futuro.”
Na sequência, Bolsonaro passou a repetir falas golpistas e incitou seus apoiadores contra o STF. “Nós temos que respeitar a Constituição”, disse Bolsonaro, em um primeiro momento. Pouco depois, uma primeira menção ao STF feita por Bolsonaro provocou fortes vaias e gritos entre os apoiadores. “Supremo é o povo”, gritou o público.
Bolsonaro começou e terminou seu discurso citando a Bíblia, com vários apelos ao setor conservador da sociedade, dizendo que seus rivais querem legalizar o aborto, liberar as drogas e que crianças “sejam introduzidas ao sexo” na escola com cinco anos de idade. Ao falar de Lula, com a plateia gritando “Lula ladrão, seu lugar é na prisão”, usou várias alcunhas como “nove dedos”, “cachaceiro” e “bandido”.
*Com informações de Raquel Miura, da RFI.
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