Com Lula presidente, isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil finalmente sairá do papel, dizem aliados do futuro governo

“A prioridade é qualquer projeto que volte a tributar lucros e dividendos e que reduza a cobrança de IR sobre os mais pobres”, defende o deputado Enio Verri (PT-PR). Reforma pode redefinir limites de isenção.
“A prioridade é qualquer projeto que volte a tributar lucros e dividendos e que reduza a cobrança de IR sobre os mais pobres”, defende o deputado Enio Verri (PT-PR). Reforma pode redefinir limites de isenção.

Uma das principais propostas da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, a correção da tabela do Imposto de Renda, com isenção para quem ganha até R$ 5 mil, é uma necessidade urgente e integra a lista de medidas que serão implementadas em 2023. Além da correção do IR, a equipe de transição trabalha para viabilizar o novo Bolsa Família, de R$ 600, e o aumento real do salário-mínimo, que precisam entrar em vigor já no primeiro dia do próximo ano.

“A prioridade é qualquer projeto que volte a tributar lucros e dividendos e que reduza a cobrança de IR sobre os mais pobres”, explica o deputado Enio Verri (PT-PR), coordenador do PT na Comissão Mista de Orçamento (CMO), em entrevista à Folha de São Paulo.

Ao longo de toda a campanha eleitoral, Lula defendeu a medida como forma de desafogar as classes C, D e E, revertendo a redução da cobrança em mais renda para as famílias brasileiras.

Débora Freire, professora de economia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG), ressalta que a correção precisa mesmo ser “bem pesada”.

“Em condições ideais, a gente poderia ter tributação de lucros e dividendos efetiva, que utilizasse alíquotas progressivas, para que a gente conseguisse aumentar a arrecadação via Imposto de Renda, corrigir distorções, como a tendência à pejotização, e ao mesmo tempo, dar uma boa isenção como essa que tem sido proposta”, finalizou.

Defasagem da tabela do IR aumentou no primeiro semestre

A correção da tabela do IR foi uma das várias promessas de campanha do então candidato Jair Bolsonaro em 2018. Ele se comprometeu a garantir isenção para todos os que recebessem até R$ 5 mil. A promessa foi repetida várias vezes ao longo dos anos, mas jamais cumprida. Hoje, a faixa de isenção do IR é para quem ganha até R$ 1.903,98.

Além disso, a inflação de Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes fez a defasagem da tabela do Imposto de Renda (IR) disparar no primeiro semestre. Se em três anos de desgoverno a disparidade já era a maior desde a criação do Plano Real (24%), até junho deste ano saltou 2,6 pontos percentuais e chegou a 26,6%. Na prática, quem ganha menos está pagando quase 2.000% a mais.

Os dados fazem parte de um levantamento do Sindicato dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional). “A defasagem da tabela do IR nunca foi tão grande quanto no governo atual”, afirmou o presidente da entidade, Isac Falcão, em julho. Segundo ele, 15 milhões de pessoas foram prejudicadas neste ano por conta da falta de reajuste.

“Quando não temos a correção da tabela, o tributo acaba atingindo em cheio os mais pobres, que perderam seu poder de compra ao longo do período”, ressalta Falcão. “Não corrigir a tabela é uma forma de aumentar o imposto para essa numerosa parcela da população que, além de arcar com o IR, precisa também lidar com os tributos indiretos, que incidem sobre o consumo.”

Os dados do Sindifisco apontam que nos primeiros quatro anos de Governo Lula a defasagem do IR ficou em 7,5%. Lula, então, estabeleceu um reajuste fixo anual da tabela de 4,5%, e no segundo mandato a defasagem foi de 2,48%, a menor da era pós-Plano Real. Dilma Rousseff manteve as correções e fechou o primeiro mandato com defasagem de 6,53% e o segundo, até o impeachment, de 4,8%.

Última correção da tabela ocorreu no governo Dilma

A tabela de cobrança do IR é a mesma há sete anos, quando o salário-mínimo era de R$ 788. A última correção ocorreu em 2015, no começo do segundo mandato de Dilma Rousseff, quando o reajuste foi escalonado para distintas faixas de renda.

A defasagem acumulada desde 1996 é de 147,37%. Com a correção integral, apenas quem ganha acima de R$ 4.670,23 pagaria IR, aponta simulação dos técnicos do Sindifisco. Seriam mais 12,75 milhões de pessoas isentas de pagamento, chegando a 23,84 milhões de trabalhadores e trabalhadoras.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.