Prisão do presidente Pedro Castillo resulta em crise política e protestos no Peru; Dina Boluarte pede antecipação das Eleições

Dina Boluarte, ao lado de ministros empossados, após deposição (impeachment) do presidente Pedro Castilho.
Dina Boluarte, ao lado de ministros empossados, após deposição (impeachment) do presidente Pedro Castilho.

A Corporação Peruana de Aeroportos e Aviação Comercial (CORPAC) informou na tarde deste domingo (11/12/2022) o fechamento do Aeroporto de Andahuaylas, no departamento de Apurímac, no sul do país, devido a “ataques e atos de vandalismo”.

Em comunicado, a corporação disse que os protestos começaram na tarde do último sábado (10) e “afetaram seriamente a pista de aterrisagem e equipamentos indispensáveis para operar serviços de navegação aérea”. Segundo informado, os manifestantes incendiaram a sala do transmissor e a casa de combustível.

O comunicado pede “apoio da Polícia Nacional do Peru para resguardar a vida de pessoas que se encontram em condição de reféns”. O comunicado da CORPAC afirma que 50 pessoas, entre trabalhadores e integrantes da Polícia Nacional do Peru, estão detidos no Aeroporto de Andahuaylas.

A Polícia Nacional do Peru se manifestou por meio de sua conta no Twitter, e pediu calma aos manifestantes.

Apelamos à calma face aos acontecimentos registados em #Andahuaylas . Pedimos respeito e tranquilidade à população que faz uso de seu direito de protesto. Rejeitamos qualquer ato de violência que coloque em risco a integridade do ser humano.

Os protestos são realizados por manifestantes apoiadores do ex-presidente peruano Pedro Castillo, deposto do cargo e detido na última quarta-feira (7), após uma tentativa de golpe de Estado ao anunciar a dissolução do Congresso e a implementação de um Estado de exceção no país, com toque de recolher, em pleno dia que o Congresso votaria um pedido de impeachment contra seu governo.

O Congresso peruano ignorou o anúncio de Castillo e deu andamento à votação, que resultou em sua deposição, sendo substituído no cargo pela vice, Dina Boluarte. Posteriormente, Castillo foi detido em prisão preventiva.

Os protestos ocorrem poucos dias após aliados de Castillo levantarem suspeita de que o ex-presidente foi induzido a anunciar a dissolução do Congresso, possivelmente sob efeito de drogas.

Na última sexta-feira (9), manifestantes foram às ruas em várias partes do Peru para se manifestar contra o Congresso e a presidente Boluarte e exigir a soltura de Castillo.

Nova presidente do Peru pedirá ao Congresso que antecipe eleições

A nova presidente do Peru, Dina Boluarte, disse nas primeiras horas desta segunda-feira (12/12) que apresentará um projeto de lei ao Congresso para antecipar em dois anos as eleições gerais – para abril de 2024. O anúncio foi feito meio a tensões no país andino após a deposição do ex-líder Pedro Castillo.

Peru normalizou a crise no Poder Executivo, diz especialista

Em entrevista, especialista destaca que a atual crise política no Peru tem entre seus fatores um sistema político pós-Fujimori frágil, sem uma liderança forte, e uma tendência de criminalização da política.

A destituição de Pedro Castillo da presidência do Peru e sua posterior prisão nesta semana jogaram luz sobre a turbulência política que assola o país vizinho.

Eleito em 2021, Castillo foi o quinto a ocupar a presidência do Peru em um período de cinco anos. Antes dele, passaram pela Casa de Pizarro, a sede do Poder Executivo peruano, Pedro Pablo Kuczynski (julho de 2016 a março de 2018); Martín Vizcarra (março de 2018 a novembro de 2020); Manuel Merino (10 a 15 de novembro de 2020); e Francisco Sagasti (novembro de 2020 a julho de 2021).

Em entrevista, o cientista político e professor de relações internacionais Bruno Lima Rocha explicou a raiz da crise política que leva os mandatos presidenciais no Peru a ter uma duração tão curta.

Segundo Lima, “a crise peruana é reflexo do sistema político atual do Peru, que é herdeiro de dois processos”.

“Um remonta às eleições peruanas de 1989, quando [Alberto] Fujimori, um arrivista e engenheiro agrônomo, concorre com o literato também oligarca Vargas Llosa. Fujimori ganha, e a partir daí há no Peru o arrefecimento da insurgência armada. Depois, há o autogolpe de Fujimori [em 1992]. Quando acaba a ditadura fujimorista, que foi em parceria com as Forças Armadas, e assume Alejandro Toledo, na virada de 2000 para 2001, simplesmente o país já não tem um partido político que represente algum grau de estabilidade”, explica o especialista.

Lima explica que “o sistema político pós-Fujimori é muito frágil, muito pulverizado”. “Tem a presença permanente de uma possibilidade ou não de intervenção militar. Nesse caso, ainda bem que não teve, mas poderia ter ocorrido”, destaca Lima.

Ele acrescenta que, somado a essa fragilidade, está a cultura de criminalização da política que se instaurou no Peru. “Na maior parte das vezes, realmente, há fatos importantes de corrupção, mas também a autonomia da chamada Fiscalía, o ministério público peruano, vai deitar e rolar em cima do que é a Lava Jato em escala latino-americana.”

Lima considera que Castillo, de fato, tentou um golpe ao anunciar a dissolução do Congresso, em pleno dia em que haveria uma votação sobre sua deposição. Porém, ele destaca que a empreitada não foi bem-sucedida porque Castillo não tinha o suporte necessário para ir adiante.

“Se Castillo tivesse mais apoio popular, especificamente em escala nacional, e tivesse o apoio mobilizado em Lima, com canais de comunicação nas Forças Armadas, ele teria chance [de golpe], é preciso reforçar isso.”

Segundo o especialista, há chances de Dina Boluarte, ex-vice de Castillo que assumiu a presidência do Peru, alcançar alguma estabilidade política, mas não será fácil.

“A presidenta que assumiu era uma vice rompida com o titular, o que facilitou a derrubada dele. Porque foi mais ou menos uma situação em que ela rompeu primeiro, e depois entrou como alternativa de poder. Ela convocou um gabinete de unidade nacional, que foi montado hoje. Se esse gabinete de unidade durar pelo menos até o final do mandato, e sobreviver às investidas do fujimorismo, pode ser que o Peru tenha um mínimo de estabilidade”, diz o especialista.

Porém, ele acrescenta que o último vice-presidente que assumiu após o eleito ser deposto, Martín Vizcarra, também acabou sendo afastado.

“Creio que o Peru entrou em um grau de normalidade, onde é normal para a política peruana a crise no Poder Executivo. E com isso, ganha uma autonomização do campo econômico, o que é muito perigoso. Porque o capital não está subordinado às regras do jogo do poder do país. Por isso, os tratados de livre comércio com China, com EUA, a presença de capital estrangeiro abundante fragiliza aquela sociedade e fragiliza os anteparos políticos”, destaca Lima.

*Com informações da Sputnik Brasil.


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