Na Grécia antiga, quando uma pessoa devia ser enviada para o exílio, a votação era feita colocando-se o nome do exilado em um pedaço de cerâmica chamado ostrakon. O voto era denominado ostrakizein, de onde se derivou a palavra “ostracismo”. No exilio político de um homem público, esse ostracismo acontece quando ele se encontra sem perspectivas de dias melhores, mormente diante da perda do poder.
Depois de quase trinta anos sem eleição presidencial, o Brasil foi às urnas para eleger um novo presidente, nos idos de 1989. O eleito foi Fernando Collor de Mello, candidato da direita com apoio da imprensa e do empresariado. O derrotado foi o sindicalista Lula da Silva, mais tarde presidente da República e ex-presidiário, ocupando, atualmente, o cargo de presidente do Brasil.
Com discurso liberal e em sintonia com o ideário pregado por Margaret Thatcher, ex-primeira ministra Britânica e por Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos, Collor dizia que iria deixar “a direita indignada e a esquerda perplexa”, anunciando, logo no início do seu governo, um plano anti-inflacionário que congelava parte dos ativos financeiros nacionais.
Esse plano foi um fracasso. Collor tentou o segundo, que também fracassou. Denunciado pelo irmão Pedro, viu-se diante de uma situação constrangedora: tornou-se público seu esquema de corrupção em associação com o seu tesoureiro de campanha, Paulo Cesar Farias, revelado por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) aberta na Câmara dos Deputados.
Isolado e sem base política de apoio, Collor renunciou ao poder depois de condenado por um impeachment que cassou os seus direitos políticos por oito anos. Passado esse período, foi eleito senador por Alagoas, cargo no qual permaneceu até ser derrotado nas urnas como candidato ao governo do seu estado. Hoje deve viver a solidão dos derrotados. Avesso aos holofotes e sem perspectivas de retorno à sua até então prodigiosa carreira, Collor vive o seu ostracismo político, sem poder sair da vida subjetiva intra-psiquica para voltar o mundo das relações políticas com a liderança que já teve.
*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.
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