UNEBIAR | Por Paulo Nacif

Universidade do Estado da Bahia (UNEB) comemora 40 anos de fundação

A Bahia foi, nos primeiros séculos da história do Brasil, o lócus principal do encontro entre colonizadores, nativos e africanos escravizados. Nesse processo somos o palco do nascimento das primeiras instituições brasileiras e, indo além, de todas as Américas. Como diz nosso Gil: “Que Deus entendeu de dar/ Toda magia / Pro bem, pro mal / Primeiro chão da Bahia/ Primeiro carnaval / Primeiro pelourinho também /Que Deus deu…”

É compressível que a nossa Bahia tenha muitas instituições que no seu estado da arte, em cada momento histórico, expressam nossos encontros, desencontros, resistências, rebeliões, negociações e redimensionamentos culturais.

Cada instituição, cada política pública, cada espaço de cidadania tem uma história que merece ser reverenciada e contada para as novas gerações. A UNEB aguça a minha imaginação e sempre que visito ou passo por um dos seus campi Bahia afora, fico pensando quão dura e significativa foi aquela conquista.

Vale lembrar que ainda no século XVI, em Salvador, Porto Seguro e Ilhéus, já havia escolas para filhos de portugueses, onde os jovens recebiam aulas de gramática, latim, música, humanidades, retórica, filosofia e teologia. Com o tempo, os conteúdos formativos, a metodologia, as avaliações e o rigor do ensino conferiam um alto nível pedagógico e cultural a essas inciativas, fazendo com que, na prática, algumas funcionassem como ensino superior mesmo sem nunca ter sido oficializado como tal. A UNEB e outras instituições de ensino superior da Bahia vêm de longe e ainda precisamos escrever as trajetórias que nos levam a esse passado e como desafiamos os cânones europeus e escrevemos novas páginas a partir das matrizes culturais afroindígenas!

Fico a pensar nos desafios pioneiros. Primeiro, com escolas isoladas depois reunidas numa universidade. Campi sendo criados, as dúvidas administrativas e orçamentárias, a construção dos primeiros projetos pedagógicos, a necessidade de improvisação, as desconfianças, o imperativo de se diferenciar com altivez de projetos políticos menores que algumas vezes foram o motivo inicial para a implantação de um campus. As primeiras pesquisas, o início da extensão, a luta por merecer o título de universidade – ali, naquele lugar. O desafio de implantar um campus universitário – a política pública mais sofisticada que um lugar do mundo pode sonhar e que, naquele caso, chegou antes de tantas outras políticas.

Num Estado profundamente soteropocentrista, a história da UNEB impressiona. Ainda me lembro, criança em Itabuna ou Teodoro Sampaio, aprendendo noção de espaço e completamente confuso ao ouvir os adultos, preparando-se para viajar a Salvador, falarem: “Vou para a Bahia”. Muitas vezes a minha sensação é que eu não estava em lugar nenhum.

Considero a UNEB um grande exemplo de superação do povo baiano. Não o único. Seguramente cada instituição tem a sua história e suas singularidades não comparáveis. Ao afirmar isso, homenageio todos os esforços de tantas instituições públicas baianas, particularmente todas as nossas instituições públicas de ensino superior. Escolho a UNEB como símbolo pela radicalidade que o seu projeto apresenta na democratização da educação superior pública Baiana. Ela é um símbolo maravilhoso de uma Bahia que deu certo, independente dos “donos do poder” de plantão.

Lembro que no processo de implantação da UFRB, a cada novo campus havia sempre quem dissesse: “o senhor está querendo concorrer com a UNEB?” E eu, sem poder responder, pensava: “Quem me dera, quem me dera!”

Foi por isso que fui tomado de satisfação quando coube à UNEB ser a primeira instituição a se encaixar na nova diretriz do CEE-BA de transformar o momento de recredenciamento das instituições de nível superior da Bahia em um diálogo com a sociedade baiana sobre a importância e qualidade dessas organizações!

A atual geração de Conselheiros e Conselheiras decidiu realizar um esforço contributivo que possibilite a sociedade baiana vivenciar mais o dia a dia das atividades do nosso Conselho e assim entender, ainda mais, a complexidade do processo educacional brasileiro e como é importante a colaboração de todas essas instâncias para que, ao fim e ao cabo, se tenha sucesso na educação. É um caminhar duro e trabalhoso, mas precisamos enfrentá-lo. Em educação não existem atalhos, bala de prata ou soluções milagrosas.

Foi muito auspicioso presenciar, no dia 01 de junho último, a UNEB abrir e iluminar o seu auditório para receber a sua comunidade e sociedade de todo o Estado para a solenidade de seu recredenciamento pelo órgão que regula o sistema estadual de educação da Bahia.

Consideramos que essa foi uma importante oportunidade da UNEB mostrar a potência nas frentes de atuação das universidades: pesquisa, ensino de graduação e pós-graduação, extensão, inovações tecnológicas, gestão financeira e infraestrutural, direitos humanos, inclusão, políticas afirmativas, internacionalização, sustentabilidade, acessibilidade, tecnologia da informação e comunicação e sistema de bibliotecas, dentre outras.

Para além disso, ampliamos o alcance do debate sobre Avaliação Institucional.  É muito importante explicitar à sociedade que a universidade pública brasileira é, muito provavelmente, a instituição mais auditada da administração brasileira.

Nesses quarenta anos como universidade, nosso desejo é que a UNEB possa ser cada vez mais UNEB e assim consiga UNEBiar a Bahia, o Brasil e o mundo. Precisamos cada vez mais de técnicos, artistas, profissionais das artes, das letras, das humanidades, das ciências da terra e da natureza bem formados como intelectuais livres, intelectuais públicos e capazes de enfrentar debates na arena sociopolítica. Precisamos, cada vez mais de UNEB´s.

Nunca precisamos tanto de uma universidade. Ela é a principal matriz da intencionalidade pública de edificação de uma cultura das culturas. No momento em que a arena sociopolítica nacional e do mundo é cada vez mais tomada por disputas de narrativas que estabelecem que a criação e a modelagem da opinião pública, e mesmo de políticas públicas, devem ocorrer mais aos apelos e às emoções e às crenças pessoais do que aos fatos objetivos, é crucial não nos deixarmos contaminar por isso, ao contrário, precisamos contaminar o mundo com a nossa busca por uma cultura do saber, fortalecimento das artes e da solidariedade.

*Paulo Gabriel Soledade Nacif, presidente do Conselho Estadual de Educação da Bahia e professor associado da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), participa do Observatório Nacional de Inclusão e Diversidade na Educação (DIVERSIFIC), desenvolve estudos nas áreas de “Inclusão e Diversidade na Educação” e Meio Ambiente.

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