Multilateralismo e reformas: como a moeda do BRICS oferece um ‘melhor negócio para o Sul Global’

BRICS pode apresentar um melhor modelo de gestão da dívida em comparação com as nações do G7.
BRICS pode apresentar um melhor modelo de gestão da dívida em comparação com as nações do G7.

A turbulência econômica global dos últimos anos apenas ampliou as falhas do sistema financeiro ocidental em atender às necessidades do Sul Global, criando novo espaço para blocos como o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para oferecer alternativas, incluindo novas moedas para o comércio global, disse um especialista à Sputnik.

O pesquisador sênior associado do Instituto para o Diálogo Global e membro do think tank South Africa BRICS Network, Ashraf Patel, disse à Sputnik na terça-feira (11/07/2023) que “as fraturas geopolíticas estão se tornando cada vez mais pronunciadas. O mundo pós-COVID-19 e o conflito Ucrânia-Rússia viram uma espécie de ‘nova Guerra Fria’ e muitas nações optando pelo não alinhamento também”

“As ‘guerras comerciais’ dos EUA com a China, as sanções russas e o impulso do G7 [grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido] para ‘desvincular e reduzir riscos’ mostram uma política ocidental formal de ‘contenção, muito parecida com o período da Guerra Fria’. Caso os países do BRICS estabeleçam uma nova moeda de reserva, isso provavelmente afetaria significativamente o dólar americano, potencialmente levando a um declínio na demanda, pois isso significaria cestas de moedas regionais e negociações que podem ser desvinculadas do dólar. Por sua vez, isso teria implicações para os EUA e para as economias globais.”

Patel observou que o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva expressou recentemente seu apoio a uma moeda do BRICS, perguntando: “Por que uma instituição como o Banco do BRICS não pode ter uma moeda para financiar as relações comerciais entre o Brasil e a China, entre o Brasil e todos os outros países do BRICS?”

O funcionário afirmou que, atualmente, 89% do comércio e das finanças globais estão “dolarizados”, criando um enorme desequilíbrio.

“E esse modelo de comércio internacional é financeirizado. Isso significa que os mercados de ações e títulos, e instrumentos financeiros como derivativos, são ferramentas que dominam o comércio e o mercado de câmbio”, disse ele.

“Isto cria grandes problemas para o Sul em desenvolvimento – volatilidade e mais dívidas, por isso é essencialmente explorador. Portanto, o ouro é uma mercadoria sólida que tem sido usada há séculos para o comércio mundial e um ‘investimento seguro’ ao longo dos tempos. Portanto, o padrão ouro alinhado à moeda do BRICS+ é possível e potencialmente viável”, afirmou.

“Uma nova moeda do BRICS também fortaleceria a integração econômica dentro dos países do BRICS+; reduziria a influência dos EUA no cenário global; enfraqueceria a posição do dólar americano como moeda de reserva global; encorajaria outros países a formar alianças para desenvolver moedas regionais; e mitigaria os riscos associados à volatilidade global devido a medidas unilaterais e à diminuição da dependência do dólar”, explicou. “Mas o verdadeiro desafio para a África é a enorme crise da dívida atualmente.”

“A maioria dos países em desenvolvimento de baixa renda já está hoje em situação de superendividamento ou próximo a isso. Enquanto isso, espera-se que as duas grandes economias do mundo, os EUA e a China, vejam um salto em sua dívida pública em níveis mais altos do que antes da pandemia de COVID-19”, observou Patel. “Gana e Sri Lanka deixaram de pagar suas dívidas externas em 2022, dois anos depois da Zâmbia. Paquistão e Egito estão à beira da inadimplência. No dia 30 de junho, o Paquistão garantiu um acordo provisório de financiamento de US$ 3 bilhões [cerca de R$ 14,4 bilhões] com o Fundo Monetário Internacional [FMI] prometendo alívio potencial de curto prazo.”

“Os níveis de dívida pública global permanecem altos – em 92% do produto interno bruto [PIB] no final de 2022. As nações do BRICS podem vir com um modelo de gestão de dívida melhor em comparação com as nações do G7”, disse Patel. “No início deste ano, o FMI, o Banco Mundial e o G20 criaram a Mesa Redonda da Dívida Soberana Global [GSDR, na sigla em inglês] para corrigir a estrutura comum e acelerar a reestruturação da dívida que já enfrentava atrasos. É muito cedo para dizer se esta solução do G20 terá sucesso ou não.”

Patel acrescentou que, como “uma aliança político-militar enraizada na visão de mundo ocidental e no domínio da ordem neocolonial, e um pilar da Guerra Fria”, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) “deveria ter sido reduzida há muito tempo”.

“O atual conflito na Ucrânia viu mais membros da União Europeia [UE], como Finlândia e Suécia, buscarem a adesão e a Ucrânia, então o perigo é uma nova Guerra Fria”, disse ele. “O BRICS é muito diferente e o foco é a promoção do multilateralismo, o sistema da ONU e reformas sólidas das finanças, comércio e investimento globais. Busca uma ‘ordem de prioridades’ mais inclusiva e talvez alternativa e um acordo melhor para o Sul Global.”

*Com informações da Sputnik.


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