Despejo de 44 famílias em Porto Seguro gera preocupação com ocupações de longa data

A comunidade já havia enfrentado ameaças de despejo durante a pandemia de Covid-19.
A comunidade já havia enfrentado ameaças de despejo durante a pandemia de Covid-19.

Na manhã desta terça-feira (03/10/2023), 44 famílias, totalizando 348 pessoas, da Comunidade Novo Horizonte, em Porto Seguro, enfrentaram o despejo de um território que ocupam há mais de duas décadas. Esta área faz parte da chamada Gleba Roça do Povo – Mangabeira, que abriga diversas comunidades com um total de mais de 800 pessoas. A região é composta por terras devolutas do Estado da Bahia, reconhecidas pela Coordenação de Desenvolvimento Agrário (CDA) por meio da portaria nº 67 de 2015.

A ação de despejo tem gerado indignação e preocupação entre os membros da comunidade e organizações que lutam pelos direitos das comunidades tradicionais e agricultura familiar. Weldes Queiroz, presidente da Central de Associações das Comunidades Tradicionais, da Agricultura Familiar e Campesina da Bahia (Cecaf-BA), denunciou a situação, destacando a história das famílias na região.

“Essa ação de despejo é inadmissível. Ao longo de mais de 20 anos, a comunidade Novo Horizonte construiu 39 casas em alvenaria, 18 tanques para criação de peixes, cercas e realizou plantações, além de criar bovinos, suínos, aves e peixes. Em 2014, o próprio governo da Bahia iniciou um processo discriminatório da área, visando a titulação dessas famílias. No entanto, em 2022, surgiu um suposto proprietário, sem respaldo jurídico para reivindicar a área. São essas famílias que, por meio de moradia e produção, cumprem uma função social para a terra, conforme previsto na Constituição Federal de 1988”, destacou Queiroz.

Essas famílias já enfrentavam a ameaça de despejo mesmo durante o período de isolamento causado pela pandemia de Covid-19. Na época, uma decisão liminar emitida pelo juiz da Vara Cível do município de Porto Seguro, Fernando Paropat, para a reintegração de posse (processo nº 0300051-38.2019.805.0201), foi proferida em julho de 2020 pela Comarca de Porto Seguro.

A situação gerou preocupação com a atuação das autoridades locais, incluindo juízes e promotores de justiça. Weldes Queiroz denunciou o promotor de justiça, Wallace Carvalho de Mesquita Barros, que possui um “contrato de compra e venda dentro da área devoluta” e utiliza sua posição para promover ações de reintegração de posse. A comunidade acredita que essa situação esteja relacionada à especulação imobiliária, especialmente devido à valorização da área após a construção do anel de contorno pelo Governo da Bahia.

A Cecaf-BA tomou medidas para chamar a atenção das autoridades estaduais diante da iminência do despejo das famílias. A Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) sugeriu que se aguardasse a definição do perímetro discriminado antes de deliberar sobre a reintegração de posse, considerando que o assunto estava em processo de avaliação junto à Superintendência de Desenvolvimento Agrário (SDA/SDR), onde foi realizado o Procedimento Discriminatório Administrativo Rural da área (00074012344).


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.