
O longo embate judicial entre João Gilberto e a gravadora EMI-Odeon, que perdurou por 27 anos, tornou-se um exemplo clássico da ineficiência do Sistema de Justiça do Brasil. A briga, iniciada pelo próprio João Gilberto Prado Pereira de Oliveira (João Gilberto), teve seu desfecho no dia 17 de outubro de 2023 (terça-feira), quando os herdeiros do músico obtiveram uma vitória histórica. A gravadora, hoje pertencente ao grupo Universal Music, foi condenada a indenizar o espólio do artista em 150 milhões de reais, conforme homologado pelo desembargador Adolpho Mello Júnior, da 14ª Câmara de Direito Privado do Rio de Janeiro. O artista faleceu aos 88 anos, em 6 de julho de 2019, sem que a Justiça lhe fosse feita no caso reivindicado e os herdeiros ativeram que esperar mais 4 anos para que a sentença fosse proferida.
A disputa judicial entre João Gilberto e a gravadora EMI-Odeon
A origem do conflito remonta à decisão da EMI de relançar os primeiros discos de João Gilberto, marcos do início da Bossa Nova. O artista, conhecido como o mestre do banquinho e violão, opôs-se à remasterização de suas obras e acusou a gravadora de adulterar suas canções originais. Essa disputa levou à interrupção dos direitos autorais do músico sobre sua própria obra durante o período da batalha judicial.
O advogado Leonardo Amarante, que representou a família de João Gilberto, destaca que a vitória recente praticamente encerra um processo judicial extremamente longo. Desde o início da ação em 1996, foram realizados três laudos periciais para estimar o valor da dívida da EMI com o artista. O último laudo, produzido em janeiro passado, fixou a indenização em 150 milhões, contrastando fortemente com um cálculo anterior de apenas 13 milhões.
A demora na resolução do caso torna-se ainda mais gritante quando se observa que a defesa da família de João Gilberto denunciou à Justiça, pouco antes da morte do músico em julho de 2019, que o cálculo anterior, significativamente menor, teria sido sugerido pela própria gravadora. Essa denúncia levanta questionamentos sobre a eficiência do Sistema de Justiça brasileiro, evidenciando a possibilidade de manipulação e interesses obscuros que podem prolongar indefinidamente litígios dessa natureza.
Os 150 milhões de reais, reconhecidos pela Justiça como indenização, serão destinados ao inventário de João Gilberto, beneficiando seus três filhos e a moçambicana Maria do Céu Harris, que reivindica o reconhecimento de uma união estável. No entanto, um fator peculiar revela uma faceta adicional da complexidade jurídica brasileira: 60% desse montante, conforme contrato assinado em 2013 com o Banco Opportunity, ficarão com a instituição financeira.
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