Atentado contra Donald Trump remete ao ‘Caso Kennedy’, diz analista

Donald Trump.

A pouco mais de quatro meses da possível reedição da disputa entre Joe Biden e Donald Trump pela presidência dos Estados Unidos, um atentado contra o ex-presidente republicano abalou o país no último sábado (13/07/2024). Especialistas consultados pela Sputnik Brasil discutiram os impactos dessa situação.

Um comício eleitoral realizado por Donald Trump na Pensilvânia ganhou destaque mundial após o ex-presidente sofrer um atentado. Um atirador de 20 anos, posicionado a cerca de 135 metros do palco, realizou os disparos e foi abatido segundos depois. O FBI classificou como “surpreendente” o fato de o Serviço Secreto não ter agido antes dos disparos.

Atentados contra figuras políticas nos Estados Unidos não são raros e aumentam os temores sobre a violência política no país. Quatro presidentes foram mortos em ataques na história dos EUA, sendo o caso mais emblemático o de John F. Kennedy em 1963, assassinado por Lee Harvey Oswald. O professor de história João Cláudio Pitillo, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), comparou o recente atentado ao caso de Kennedy, ressaltando que a página da violência política não foi virada nos EUA.

“As campanhas eleitorais nos Estados Unidos são sempre cercadas de tensões, justamente por conta dessa cultura de violência e atentados aos ex-presidentes e presidentes. Muitos aconteceram e não foram fatais, outros nem tanto. A questão do Lee Oswald […] ocorreu com investigações e perícias controversas, que andaram em zigue-zague durante muito tempo. Ele foi brutalmente assassinado, o que privou apurações mais objetivas. E vimos esse padrão se repetir ontem [no sábado]. O atirador foi morto, sem possibilidade de maiores esclarecimentos”, disse Pitillo.

O presidente Joe Biden repudiou a violência registrada durante o comício, mas evitou falar em “tentativa de homicídio” antes de obter todos os fatos. No domingo, 14 de julho de 2024, Biden reuniu-se com o Serviço Secreto e pediu união à população do país.

O pesquisador da UERJ acredita que o impacto será significativo nas eleições dos EUA.

“Terá implicações em ambos os partidos, tanto entre democratas quanto republicanos. Há um ambiente de perplexidade com esse tipo de constância de crimes políticos. A democracia dos EUA, que se diz ser a maior do planeta, é constantemente abalada por atentados que, em algumas situações, terminam em morte. Essa democracia não é tão plena quanto propagandeada”, argumentou Pitillo.

O ataque ocorreu a menos de dois dias das convenções republicanas que devem confirmar o nome de Trump na corrida eleitoral. A plataforma Polymarket indicou que a probabilidade de Trump vencer a disputa aumentou de 60% para 70% após o atentado.

“O atentado vai ser usado pelos republicanos para ampliar seu espectro eleitoral. Isso reafirma o nome de Trump diante do seu eleitorado como uma pessoa que, em tese, está ameaçando algum poder e que precisa ser eliminada por isso”, analisou Pitillo.

Apesar disso, o especialista lembrou que as eleições não estão tão próximas e os efeitos do caso podem ser atenuados.

“Isso pode influenciar muito [ou não] as urnas. Os democratas já enfrentam problemas com o nome do Biden, que terá um desafio maior de neutralizar o impacto eleitoral […]. Agora, repito, é importante que as investigações avancem. É lamentável que o atirador tenha sido morto, porque ele vivo poderia fornecer bastante informações do motivo desse ato bárbaro”, sublinhou.

A professora Isabela Gama, da Universidade de Abu Dhabi, alertou que o atentado pode polarizar ainda mais o país e provocar ondas de violência.

“Acredito que pode ter um impacto muito negativo, inclusive de violência física. Especialmente durante as eleições, há possibilidade de confrontos entre republicanos e democratas nas ruas”, afirmou.

Além disso, Gama destacou que a figura de Trump é sempre cercada por “teorias conspiratórias”, o que deve aumentar nos próximos meses.

“O Trump vai se utilizar muito disso, ainda mais diante do Biden, criticado pela mídia. […] O gesto que ele usou depois de ter sido baleado foi de levantar o punho e gritar ‘lute, lute, lute’. Isso afeta muito a mente do eleitorado”, comentou.


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