Os incêndios que devastam o bioma amazônico são identificados como parte do processo de exploração econômica da região, segundo o professor de economia Gilberto de Souza Marques, da Universidade Federal do Pará (UFPA). Marques, autor do livro Amazônia: riqueza, degradação e saque, argumenta que a exploração da floresta é impulsionada pela demanda global por alimentos e matérias-primas baratas, o que contribui para a manutenção dos baixos salários nos países desenvolvidos e para o aumento dos lucros em uma escala global. O especialista ressalta que as atividades de agropecuária, mineração e exploração madeireira são os principais fatores que impulsionam o desmatamento na Amazônia, e a grilagem de terras intensifica essa exploração.
Marques questiona o modelo econômico que demanda a exploração intensa da Amazônia, observando que a produção de matérias-primas baratas para economias centrais, como ferro e soja, reduz os custos de produção e, consequentemente, mantém os salários baixos nos países desenvolvidos. Em contraste, a Amazônia também tem a função crucial de mitigar os efeitos do aquecimento global, especialmente na redução das emissões de gases de efeito estufa. Contudo, essas duas funções são atualmente incompatíveis, pois o ritmo de apropriação da natureza, impulsionado pela busca incessante de lucro, impede a recuperação natural da região.
A análise do professor indica que as principais atividades responsáveis pela degradação da Amazônia incluem a mineração e o agronegócio, ambos associados à exploração madeireira. Marques destaca que o setor pecuarista, frequentemente associado ao trabalho escravo e à apropriação ilegal de terras públicas, alimenta as grandes cadeias de comercialização, incluindo mercados regionais e internacionais. Além disso, o ouro exportado pelo município de São Paulo é frequentemente originário de circuitos ilegais que contribuem para a destruição da floresta.
A apropriação ilegal de terras ocorre quando grileiros desmatam áreas públicas ou reservas, vendem-nas a terceiros e, posteriormente, utilizam a argumentação de boa-fé para regularizar as propriedades. Esta prática é incentivada por políticas que visam a segurança jurídica e acabam por estimular a grilagem.
Marques também destaca a crescente pressão sobre a Amazônia devido à soja, cujos custos de transporte diminuem significativamente quando a produção ocorre próximo a portos ou rios, elevando a rentabilidade e a competitividade. A Lei Kandir, que isenta a exportação de ICMS, contribui ainda mais para a transferência de valor para economias centrais e reduz a arrecadação do estado brasileiro.
Os incêndios na Amazônia, segundo o professor, são uma etapa do processo de exploração econômica. Durante a estação chuvosa, a floresta é desmatada para a retirada de madeira, e, no verão, os resíduos são queimados para abrir espaço para pastagens ou cultivos. O incêndio, muitas vezes atribuído a causas naturais, é uma estratégia para transformar áreas de floresta em terrenos para o agronegócio, com uma concentração maior de fogo em municípios com intensa atividade agropecuária.
Por fim, Marques critica a internacionalização da Amazônia, destacando que grandes multinacionais do agronegócio e da mineração controlam a economia da região. Ele defende que alternativas sustentáveis, como a produção agroecológica e as práticas comunitárias de manejo sustentável, devem ser promovidas para garantir que a riqueza da Amazônia beneficie a população local e contribua para a preservação ambiental.
*Com informações da Agência Brasil.
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