Instituto Cultiva lança série digital para desmistificar a obra de Paulo Freire

Paulo Freire, nascido em Recife em 1921, é uma figura controversa no cenário educacional brasileiro.
Paulo Freire, nascido em Recife em 1921, é uma figura controversa no cenário educacional brasileiro.

Na quinta-feira (19/09/2024), o Instituto Cultiva lançou a série digital “Os 7 Mitos sobre Paulo Freire”, com a finalidade de esclarecer equívocos comuns acerca dos princípios de sua filosofia educacional. Paulo Freire, nascido em Recife em 1921, é uma figura polarizadora no debate educacional brasileiro, sendo alvo tanto de críticas quanto de aclamações. O evento busca refutar distorções que cercam a obra de Freire, permitindo uma discussão mais ampla sobre a Educação de Jovens e Adultos e a pedagogia crítica.

Rudá Ricci, cientista político e ex-aluno de Freire, atuando atualmente como presidente do Instituto Cultiva, compartilhou suas experiências com o educador, revelando a profundidade de sua influência na formação de sua carreira. Desde cedo, Ricci se envolveu com movimentos sociais no Nordeste e teve seu primeiro contato com a obra de Freire aos 16 anos. Durante sua graduação em direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ele fez um esforço para assistir às aulas de Freire, muitas vezes faltando às suas próprias aulas para participar das aulas na Pós-Graduação. Ricci recorda que as aulas de Freire atraíam pessoas de diferentes partes do mundo, evidenciando o alcance internacional do educador.

Ricci descreve as aulas de Freire como inovadoras, ressaltando que o educador utilizava uma abordagem pouco convencional, lendo apenas um parágrafo de um livro e comentando sobre suas experiências na Europa e na África. Essa metodologia despertou um interesse maior pela educação em Ricci, que se tornou amigo de Freire e atuou como subsecretário durante a gestão de Luiza Erundina, reforçando o vínculo teórico e afetivo com o educador.

O presidente do Instituto Cultiva enfatiza que Paulo Freire compreendia a relação política inerente ao ato de educar. Freire acreditava que o educador não deve impor uma visão de mundo ao aluno, mas, sim, promover uma educação que respeite a autonomia do educando. Ricci observa que Freire alertava sobre a necessidade de uma transformação verdadeira, contrastando com a vontade de alguns revolucionários que buscam apenas substituir quem está no poder. O educador exigia autocontrole do educador, questionando a necessidade de agir de forma impetuosa.

Ricci também apresentou um exemplo prático da pedagogia freiriana, relatando o caso de uma aluna que havia testemunhado o assassinato do irmão e, devido ao trauma, não conseguia frequentar as aulas. A direção da escola decidiu alterar o horário das aulas para ajudar a aluna a superar essa experiência traumática. Esse ajuste resultou em um progresso significativo na vida acadêmica da estudante.

Além disso, Ricci questiona a redução da educação a indicadores de desempenho, ressaltando a necessidade de um diagnóstico social que leve em conta as realidades dos alunos. Para Freire, a técnica deve servir à sala de aula apenas após uma avaliação do contexto social do estudante. Ele afirmava que as dificuldades enfrentadas pelos alunos, como fome ou traumas, precisam ser abordadas de maneira integrada, envolvendo não apenas o professor, mas também as esferas da saúde e assistência social.

A pedagogia de Freire, que prioriza a humanização e a emancipação, transforma também os educadores. Ricci menciona a exaustão que sente após as aulas, dada a constante vigilância sobre suas reações e as dos alunos, buscando sempre criar um espaço de diálogo genuíno. Ele introduziu o conceito de “silêncio tático”, uma estratégia que promove o diálogo ao conter as reações do educador em situações de discordância, estabelecendo um ambiente de confiança.

Ricci conclui afirmando que Paulo Freire enfatizava a importância de observar as expressões e o envolvimento dos alunos, reconhecendo a necessidade de um espaço em sala de aula que permita dúvidas e questionamentos. Freire defendia que, embora o educador possua uma autoridade inerente, a forma como se apresenta deve ser democrática, respeitando a individualidade e a voz do aluno.

*Com informações da Agência Brasil.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.