Israel intensifica ataques aéreos no Líbano e na Faixa de Gaza

Moradores do Líbano expressam medo após ondas de explosões de walkie-talkies em áreas do Hezbollah.
Moradores do Líbano expressam medo após ondas de explosões de walkie-talkies em áreas do Hezbollah.

Nesta quinta-feira (19/09/2024), caças israelenses realizaram mais de 50 bombardeios em diversas localidades no sul e sudeste do Líbano, conforme reportado pela emissora de televisão Al Manar, vinculada ao grupo xiita libanês Hezbollah. O canal informou que o número de ataques aéreos subiu para 52, atingindo regiões como al-Hargiya, al-Mahmudeya, os arredores de al-Aishiya, as colinas de Rihan e Nahr Barhaz. A Agência Nacional de Notícias do Líbano (ANN) confirmou a ocorrência de uma série de ataques aéreos nessas áreas, localizadas na região de Jezzine.

Este ataque aéreo representa a segunda onda de bombardeios israelenses contra o sul do Líbano no mesmo dia. Mais cedo, as Forças de Defesa de Israel anunciaram uma campanha destinada a neutralizar cerca de 30 plataformas de lançamento de mísseis, bem como outras infraestruturas associadas ao Hezbollah. Em comunicado, o Exército israelense informou que o objetivo da primeira onda de ataques era danificar e destruir as capacidades operacionais do grupo xiita, em uma tentativa de restaurar a segurança ao longo da faixa de fronteira entre os dois países.

As operações aéreas ocorreram poucas horas após declarações do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, que prometeu uma resposta severa contra Israel. Nasrallah acusou Israel de provocar uma série de explosões em dispositivos de comunicação do Hezbollah no Líbano, descrevendo os ataques como um “massacre” e um possível “ato de guerra”. Ele alertou que Israel enfrentaria “punição justa”, indicando que os confrontos se tornaram mais intensos e complexos após um ano de violência na fronteira.

Os ataques israelenses nesta semana foram precedidos por duas ondas de explosões simultâneas que afetaram milhares de dispositivos de comunicação, resultando na morte de 37 pessoas e ferindo quase 3 mil no Líbano. A tensão na região aumentou significativamente desde o início do conflito na Faixa de Gaza, em outubro do ano passado, que também desencadeou frequentes hostilidades na fronteira entre Israel e Líbano.

Na sexta-feira, 20 de setembro, forças israelenses realizaram novos ataques na Faixa de Gaza, resultando na morte de pelo menos 14 palestinos em bombardeios aéreos e ataques com tanques nas áreas norte e central do território. Médicos relataram que os tanques avançaram em direção ao noroeste de Rafah, perto da fronteira com o Egito. As hostilidades entre israelenses e militantes do Hamas persistem, mesmo com a intensificação do conflito paralelo na fronteira entre Líbano e Israel.

Os bombardeios israelenses em Gaza resultaram na morte de oito pessoas no campo de refugiados de Nuseirat, além de outras seis fatalidades em um ataque aéreo em uma residência na Cidade de Gaza. Além disso, palestinos deslocados por ataques anteriores expressaram preocupações quanto à possibilidade de suas habitações temporárias serem inundadas devido a altas ondas.

Mudanças na estratégia militar de Israel: Foco no Hezbollah e aumento da tensão regional

A atual semana no Oriente Médio tem sido marcada por um aumento significativo das operações militares de Israel, conforme anunciado pelo ministro da Defesa, Yoav Gallant. O país mudou o “centro de gravidade” do conflito para o norte, refletindo uma nova fase na guerra contra o Hezbollah. Nos últimos dois dias, ataques direcionados a dispositivos de comunicação do movimento paramilitar resultaram em quase 40 mortes e mais de 3 mil feridos no Líbano. As autoridades israelenses avaliam que a resposta do Hezbollah será iminente, o que resultou em um estado de prontidão nas forças militares de Israel, com relatos de deslocamento de tanques e efetivos para a região norte.

Os ataques israelenses afetaram pagers e rádios de comunicação do Hezbollah, causando repercussões em toda a região. A presença de militantes Houthis no Iémen foi impactada, levando-os a descartar aparelhos eletrônicos por receio de ações similares às observadas no Líbano. O xeque Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, fez um discurso em resposta, descrevendo os ataques como um “massacre sem precedentes” que violou “todas as linhas vermelhas”, considerando-os uma declaração de guerra. Ele declarou que a continuação dos ataques por Israel com mísseis, drones e foguetes é uma tentativa de “obter legitimidade internacional” para justificar a ofensiva contra Israel.

Nasrallah, em sua fala, se dirigiu diretamente ao governo israelense, afirmando que suas ações não terão sucesso. Ele expressou que a única solução para o conflito é a interrupção das hostilidades contra o povo de Gaza, ressaltando que a escalada militar não reverterá a situação na fronteira. A estrutura militar do Hezbollah, segundo o líder, permanece intacta, apesar dos recentes ataques.

Durante o discurso de Nasrallah, aviões israelenses sobrevoaram Beirute, violando a barreira do som, enquanto Israel prosseguia com bombardeios no sul do Líbano, focando em lançadores de foguetes do Hezbollah. Israel alegou ter atingido cerca de 100 lançadores e outras infraestruturas militares, com registros de pelo menos 52 bombardeios na região, tornando esses ataques os mais intensos na fronteira desde outubro de 2023.

As operações contra o Hezbollah coincidem com a declaração oficial de Israel sobre o retorno dos moradores ao norte do país como um dos objetivos da guerra. Historicamente, os objetivos incluíam a neutralização das capacidades militares do Hamas, a libertação de reféns e a criação de uma nova realidade de segurança na Faixa de Gaza. O chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, Herzi Halevi, aprovou planos de batalha para a frente norte, com uma fonte destacando que os ataques atuais são apenas uma parte do arsenal disponível.

O ministro da Defesa, Yoav Gallant, afirmou ao secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, que as opções diplomáticas estão se esgotando, dada a postura intransigente do Hezbollah desde o início do conflito. O grupo, que se alinha ao Irã, condiciona a interrupção dos ataques a um cessar-fogo entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. A posição de Nasrallah reflete esta mesma lógica, indicando que a relação entre Hezbollah e Hamas é fundamental para a continuidade das hostilidades.

Enquanto a situação se agrava, mais de 40% dos habitantes do extremo norte de Israel, que se tornaram refugiados internos, afirmam que não retornarão à região após o fim da guerra, citando a necessidade de mudanças fundamentais na segurança. O primeiro-ministro Netanyahu também reiterou a impossibilidade de reabitar a área sem uma solução duradoura para a segurança.

Internacionalmente, França e Estados Unidos têm buscado acalmar as tensões. Antony Blinken, após reunião com o ministro das Relações Exteriores da França, Stéphane Séjourné, fez um apelo para evitar a escalada de hostilidades. Blinken destacou a necessidade de um esforço conjunto para reduzir as tensões, com Washington disposto a intervir para moderar a situação, dependendo das ações do Hezbollah.

Recentemente, Israel anunciou a prisão de Moti Maman, um cidadão que teria sido recrutado pelo Irã para realizar atos terroristas. Maman, com um histórico de vida na Turquia, foi acusado de planejar assassinatos de figuras políticas israelenses, além de atividades de recrutamento para o regime iraniano.

Liderança do Hezbollah anuncia retaliação após ataques a comunicações no Líbano

O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, reconheceu, em discurso transmitido ao vivo nesta quinta-feira (18), que seu grupo enfrentou um “duro golpe” com as explosões de pagers e walkie-talkies, resultando em 37 mortes e quase 3.000 feridos nos dias 17 e 18 de outubro. Nasrallah afirmou que a ação israelense representou um ataque sem precedentes e declarou que a resposta do Hezbollah seria “terrível”. Ele acusou Israel de ter “ultrapassado todas as linhas vermelhas” e prometeu uma represália, embora tenha se recusado a fornecer detalhes sobre a natureza e o timing de sua resposta.

Durante o discurso, aviões israelenses realizaram sobrevoos a baixa altitude sobre Beirute, quebrando a barreira do som, conforme reportado por correspondentes da AFP e da agência de notícias oficial libanesa Ani. Nasrallah insinuou que o ataque israelense visava causar um grande número de vítimas e expressou que o Hezbollah está comprometido em continuar suas ações contra Israel em apoio ao Hamas, até que a agressão na Faixa de Gaza cesse. Ele desafiou os líderes israelenses, afirmando que não poderiam reabilitar os residentes do norte de Israel deslocados pelos confrontos enquanto a guerra em Gaza continuar.

Em resposta, o Hamas expressou gratidão pelo apoio do Hezbollah e reiterou a necessidade de pressão contínua sobre Israel para garantir um cessar-fogo na Faixa de Gaza. O general Hossein Salami, chefe da Guarda Revolucionária do Irã, também manifestou apoio ao Hezbollah, afirmando que os ataques representavam uma demonstração do desespero israelense e que a resposta da “frente de resistência” seria inevitável.

Paralelamente, o Exército de Israel confirmou ataques a alvos do Hezbollah no Líbano, com o objetivo de restaurar a segurança no norte de Israel. Durante essas operações, dois soldados israelenses foram mortos, um por um drone e outro por um míssil antitanque disparado do sul do Líbano. O Exército israelense declarou que o Hezbollah transformou a região em uma “zona de combate” e que novos planos foram aprovados pelo Estado-Maior para aumentar a presença militar na fronteira norte.

O governo dos Estados Unidos solicitou ao Hezbollah que interrompesse os “ataques terroristas” contra Israel. O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, enfatizou que, caso o Hezbollah cesse suas hostilidades, os Estados Unidos pressionariam Israel a manter a calma. Desde 1997, o Hezbollah figura na lista de organizações terroristas dos EUA, e a União Europeia também o classifica como tal desde 2013.

População libanesa enfrenta insegurança após explosões de dispositivos de comunicação

Após uma nova onda de explosões de walkie-talkies em áreas controladas pelo Hezbollah no Líbano, o clima de medo permeia a população. Os ataques, que ocorreram nesta quarta-feira (18), resultaram na morte de 20 integrantes do grupo islâmico desde o dia anterior, e deixaram cerca de 450 feridos. As explosões foram registradas nos subúrbios ao sul de Beirute, no Vale do Bekaa e no sul do país, sendo atribuídas ao Israel tanto pelo Hezbollah quanto pelas autoridades libanesas.

Hoda, uma residente de Beirute e mãe de dois filhos, descreveu a dificuldade de transmitir segurança a seus filhos enquanto vive em estado de pânico. “É difícil tentar tranquilizar os filhos quando você mesma está aterrorizada”, afirmou à correspondente da RFI, Sophie Guignon. A sensação de viver em um pesadelo ou em um filme de espionagem foi compartilhada por outros moradores, que relataram que a explosão dos dispositivos de comunicação causou uma onda de insegurança e incerteza sobre a origem das ameaças. Mona, proprietária de um café perto de um hospital que recebeu feridos, expressou sua preocupação em manusear seu telefone, relatando que planejava deixar o país por medo crescente.

Os ataques intensificaram o sentimento de vulnerabilidade entre os libaneses, especialmente desde o início da guerra em Gaza e os confrontos na fronteira com Israel. Durante as explosões, ocorreram funerais de membros do Hezbollah, exacerbando o clima de pânico entre os presentes. No Hospital Universitário Mont-Liban, famílias aguardavam notícias de parentes feridos, enquanto o diretor médico, Elie Gharios, denunciou a gravidade da situação, destacando o impacto dos ataques na saúde ocular de muitos feridos.

Com o aumento do número de feridos, a população mobilizou-se para doações de sangue, destacando a importância da solidariedade em tempos de crise. “Devemos estar lado a lado, deixar a política de lado, considerar a humanidade”, disse Dima Awad, um cidadão comum que decidiu doar sangue após os ataques. A expressão de união entre os libaneses reflete um desejo de enfrentar a situação juntos, independentemente das diferenças políticas.

Enquanto isso, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, sinalizou que o “centro de gravidade” da guerra se desloca em direção ao norte, onde os confrontos frequentes com o Hezbollah têm levado à deslocação de populações em ambos os lados da fronteira. A mídia israelense destacou as explosões, com analistas sugerindo que os eventos colocam o Hezbollah e Israel à beira de um conflito total. O ministro libanês das Relações Exteriores, Abdallah Bou Habib, advertiu que os ataques poderiam ser um sinal de uma guerra mais ampla na região, enquanto o chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, se preparava para um discurso sobre a situação.

O Conselho de Segurança da ONU agendou uma reunião de emergência para discutir a escalada de tensões. A origem das explosões gerou investigações, e uma fonte próxima ao Hezbollah afirmou que os dispositivos explosivos foram importados recentemente pelo grupo. O fabricante japonês de walkie-talkies, Icom, declarou que não produzia o modelo em questão há aproximadamente dez anos, ressaltando que não poderia confirmar a autenticidade dos aparelhos envolvidos nas explosões.

*Com informações da DW e RFI.


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