Papa Francisco afirma que na Igreja há lugar para todos, mas não para abusos

O Pontífice realizou uma missa em Bruxelas e destacou a importância da revelação e do julgamento dos casos de abuso.
O Pontífice realizou uma missa em Bruxelas e destacou a importância da revelação e do julgamento dos casos de abuso.

O Papa Francisco presidiu uma Santa Missa no Estádio Rei Balduíno, em Bruxelas, no dia 29 de setembro de 2024, com a participação de milhares de fiéis. A celebração também marcou a beatificação da venerável serva de Deus, Ana de Jesus, uma religiosa carmelita descalça, reconhecida por seu papel na disseminação da reforma teresiana. Durante a homilia, o Pontífice refletiu sobre as palavras de Jesus, que alerta sobre os perigos de escandalizar os “pequeninos”, enfatizando a responsabilidade coletiva na promoção de uma fé inclusiva.

O Papa afirmou que na Igreja há espaço para todos, mas ressaltou que não há espaço para o abuso. Em um momento de forte impacto, Francisco citou a dor e a impotência das vítimas de abuso e o sofrimento de suas famílias. Ele exortou todos a não acobertar esses atos, pedindo aos bispos que condenem os abusadores e promovam a cura para aqueles que cometem tais crimes.

“O mal não deve ser escondido, mas revelado, que se saiba, como fizeram alguns abusados, e com coragem. Que se saiba. E que seja julgado o abusador, seja leigo, leiga, padre ou bispo”, declarou.

O Santo Padre destacou a necessidade de abertura e inclusão, citando episódios do Livro dos Números e do Evangelho de Marcos, que mostram a ação do Espírito Santo ao escolher pessoas à margem da sociedade. Francisco enfatizou que a Comunidade dos cristãos não é um círculo de privilegiados, mas uma família de salvos, e que o Batismo é um chamado que deve ser vivido com humildade, gratidão e alegria.

O Papa também abordou a falta de misericórdia, que considera um escândalo em sociedade, especialmente em relação aos mais pobres e marginalizados. Ele mencionou a situação dos imigrantes sem documentos, reconhecendo que esses indivíduos são frequentemente ignorados e se tornam vítimas de exploração.

Ao concluir sua homilia, o Santo Padre destacou a importância do testemunho autêntico na vida cristã, citando Ana de Jesus como um exemplo de simplicidade, oração e caridade em tempos de desafios. Ele encorajou os fiéis a seguir seu exemplo e renovar o compromisso com o Evangelho da misericórdia, vivendo a fé com abertura, comunhão e testemunho.

“Acolhamos, pois, com gratidão o modelo, simultaneamente delicado e forte, de ‘santidade feminina’ que ela nos deixou, renovando o compromisso de caminharmos juntos seguindo as pegadas do Senhor”, finalizou Francisco.

Papa Francisco encerra visita à Bélgica com apelo ao julgamento de abusadores

O papa Francisco concluiu sua viagem à Bélgica, marcada por intensas discussões sobre agressões sexuais cometidas por membros da Igreja Católica, com uma homilia que abordou abertamente o tabu das agressões sexuais perpetradas por líderes religiosos. Durante a missa final, realizada no Estádio Rei Balduíno, perante 40 mil pessoas e a presença de membros da família real belga, o Papa fez um apelo enfático para que os bispos da Igreja Católica não encubram os crimes de pedofilia.

“Não há lugar para os abusos, nem para cobrir os abusos”, afirmou Francisco, o que gerou aplausos entre os presentes.

O Papa refletiu sobre o impacto das agressões na vida de crianças que deveriam estar sob os cuidados da Igreja. Ele mencionou seu encontro recente com 17 vítimas de violência sexual em Bruxelas, ressaltando a dor e o sofrimento que essas pessoas enfrentaram ao longo dos anos.

“Com a mente e o coração, volto às histórias de algumas dessas crianças que conheci anteontem”, reiterou Francisco, destacando a importância de reconhecer o sofrimento das vítimas.

Durante a visita, o Papa também recebeu apelos por maior indenização da Igreja Católica belga, que, segundo as vítimas, encobriu casos de pedofilia por décadas. Annesophie Cardinal, uma das vítimas, expressou que “tudo o que foi feito e obtido até agora é totalmente insuficiente”. A frustração foi compartilhada por Jean-Marc Turine, que participou da reunião com o Papa e criticou a falta de ações concretas.

“Ele pede perdão, diz que tem vergonha e que se sente triste, mas isso não nos ajuda muito”, afirmou.

Embora a visita do Papa à Bélgica tenha sido oficialmente para celebrar o 600º aniversário da Universidade Católica de Louvain, o tema da pedofilia na Igreja se tornou central. O rei Philippe e o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, também pediram maior envolvimento do Papa na prevenção desses crimes e na responsabilização dos culpados. Francisco, visivelmente emocionado, reiterou seu apelo:

“Peço a todos: não encubram os abusos! Condenem os abusadores e nos ajudem a curar essa doença do abuso”. Ele enfatizou que “o mal não pode ser escondido”, pedindo que os abusadores, independentemente de seu cargo na Igreja, sejam julgados.

Durante a celebração, o Papa anunciou a abertura do processo de beatificação do rei Balduíno da Bélgica, falecido em 1993 e conhecido por sua oposição à legalização do aborto, que é permitido no país desde 1990. Francisco considerou o monarca um “exemplo de homem de fé”. Ao finalizar a missa, o Papa fez uma oração pela paz no Líbano, reiterando seu pedido por um cessar-fogo, e mencionou a situação na Faixa de Gaza, pedindo a libertação dos reféns mantidos pelo Hamas e a necessidade de ajuda humanitária para a população palestina.

*Com informações da Vatican News e RFI.


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