O projeto “Sertão D’água”, financiado pelo fundo de cultura municipal e aprovado nos editais DEMAIS ARTES e PAUTA DA GALERIA CARLO CARBOSA, propõe a construção de uma exposição individual do artesão Matheus Guimarães. A abertura está marcada para o dia 18 de outubro de 2024, na Galeria Carlo Barbosa, localizada no Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA), em Feira de Santana. Este projeto utiliza o artesanato como linguagem artística base, com uma equipe de apoio composta por designer, oficineiros, profissionais de fotografia, transporte e montagem. A exposição visa ressaltar a importância de um Sertão e um agreste que possuem recursos abundantes, cultura e saberes tradicionais, além de lembrar das águas presentes neste território.
Os materiais utilizados na exposição são comuns nas produções artesanais de Feira de Santana e da região do Portal do Sertão, incluindo madeira, palha, cerâmica e couro. Em complemento à exposição, serão oferecidas oficinas gratuitas em escolas estaduais da região, abordando o artesanato em áreas como pintura de madeira, cabaça e cerâmica. As oficinas visam proporcionar uma experiência prática e educativa, além de visitas guiadas para turmas selecionadas que terão a oportunidade de acompanhar o artista Matheus Guimarães durante a apresentação das obras.
As obras apresentadas na exposição buscam compreender os impactos da colonização sobre o sertão, que resultaram na devastação da vegetação, rios e lagoas do estado, além das culturas indígenas e africanas que integravam as subjetividades locais. O projeto estabelece um contra discurso, propondo uma elaboração artística que desafia a visão reducionista de um sertão seco e carente de recursos. A reflexão sobre as condições de sobrevivência e abundância em um território colonizado é fundamental, especialmente em um contexto onde a cultura, a língua e os saberes populares foram influenciados por relações de poder coloniais. A obra de Denise Ferreira da Silva, no livro “A dívida impagável” (2019), destaca a importância de recriar a partir da colonialidade, evitando os caminhos que conduzem à morte.
O território de identidade do “Portal do Sertão”, especialmente Feira de Santana, possui diversas lagoas, muitas das quais foram aterradas por construtoras para a realização de obras. Embora muitas lagoas ainda existam, a exposição também pretende refletir sobre a atuação do mercado imobiliário e das construtoras locais, que exercem significativa influência sobre o uso e a ocupação do território. O exemplo do bairro Tanque da Nação ilustra essa questão, uma vez que uma lagoa que sustentava inúmeras lavadeiras agora deu lugar a condomínios residenciais que ameaçam contaminar as águas remanescentes.
A dinâmica de construção civil na cidade é um traço colonial, dado que as culturas indígenas e africanas não promovem a destruição da natureza em prol do desenvolvimento urbano. Antonio Bispo dos Santos, no texto “Somos da Terra” (2018), afirma que colonizar é subjugar e destruir as trajetórias de um povo com matriz cultural distinta. A proposta de Matheus Guimarães busca pensar em outras narrativas que distanciem-se das imposições coloniais, dialogando com grupos que não pertencem aos segmentos hegemônicos da sociedade local.
A exposição “Sertão D’água” propõe obras que subvertem a imagem de um sertão árido, ressaltando a presença das águas e da vegetação, não como uma ficção, mas como uma realidade frequentemente ocultada pelos discursos coloniais. Embora muitas cidades do interior da Bahia enfrentem problemas de seca, o território também abriga lagoas, rios e florestas que resistem à ação colonizadora. O nome da exposição faz referência a Feira de Santana, cidade natal do artista, situada no Portal do Sertão, um importante ponto de confluência no interior da Bahia.
Serão criadas obras utilizando madeiras, como pinus e compensado, que serão moldadas por técnicas de recorte, parte do repertório do artista. As obras, que representam peixes e seres imaginários, buscam promover uma reflexão sobre a presença da água na região, convidando os visitantes a ponderar sobre a escassez imposta pela colonialidade sobre o território e sobre as subjetividades.
Matheus Guimarães é artista, artesão e cordelista, graduado em Engenharia Civil. Sua formação instigou reflexões sobre a responsabilidade no ato de construir, levando-o a explorar temas que ligam suas produções visuais à cultura popular local e a pensadores contracoloniais. Desde 2024, Matheus conduz oficinas de arte em madeira no CUCA e participou de exposições coletivas na cidade, como “OCUPAÇÃO” e “CONEXÃO”. Também tem desenvolvido oficinas de artesanato em escolas, contribuindo para o diálogo sobre a história, cultura e desafios da comunidade feirense frente à imposição colonial.
Além da exposição e das oficinas, serão distribuídos cordéis produzidos pelo artista, que dialogam com o conceito da exposição e destacam artesãos que marcaram a história de Feira de Santana, como Crispina dos Santos. O projeto busca fomentar a valorização da cultura local e regional, contribuindo para o fortalecimento das técnicas de artesanato e dos saberes populares artísticos.
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