O primeiro turno das eleições municipais de 2024, realizado em 8 de outubro, apresentou um panorama complexo e desafiador para a esquerda no Brasil, mesmo com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma das bases eleitorais do ex-presidente Jair Bolsonaro. Eduardo Paes, do PSD, venceu na cidade do Rio de Janeiro, mas a escolha de prefeitos e vereadores refletiu um avanço significativo da direita nos municípios brasileiros. Especialistas consultados indicam que a polarização política beneficiou apenas um dos lados, com a ascensão do bolsonarismo gerando tensões internas nas disputas eleitorais.
Durante a apuração dos votos na Avenida Paulista, a presença de apoiadores do candidato Pablo Marçal, do PRTB, despertou reminiscências da campanha de 2022, quando Bolsonaro não conseguiu se reeleger. Marçal não avançou para o segundo turno da disputa em São Paulo, que ocorrerá entre Ricardo Nunes, do MDB, e Guilherme Boulos, do PSOL. Contudo, ele mobilizou a extrema direita, o que gerou preocupações nas lideranças bolsonaristas, especialmente em meio a uma onda de críticas direcionadas ao ex-presidente nas redes sociais.
Os analistas políticos notam que, no início da campanha, Bolsonaro buscou uma aproximação com o centro político, ao se aliar a partidos tradicionais para apoiar o atual prefeito. No entanto, essa estratégia pode ter resultado na perda de eleitores que se sentiram atraídos pela retórica mais radical de Marçal, o qual, segundo o cientista político Leonardo Barreto, acabou por capturar o apoio de eleitores que anteriormente estavam alinhados ao ex-presidente.
Em contrapartida, a esquerda enfrenta desafios mais profundos, conforme demonstrado pelo crescimento do PL de Bolsonaro em vários estados, incluindo regiões historicamente favoráveis ao partido dos trabalhadores. A análise de Cláudio Couto, professor da FGV/EAESP, aponta que a esquerda ainda não se recuperou do impacto negativo das eleições de 2016, quando o PT perdeu uma parte significativa de sua representação municipal. Desde então, apesar de alguns avanços pontuais, o partido permanece distante de sua posição anterior, o que exige uma reavaliação de suas estratégias para reconquistar a confiança do eleitorado.
O resultado que garantiu a presença de Guilherme Boulos no segundo turno representa uma pequena vitória para o presidente Lula em meio a um contexto eleitoral desafiador, mas a concorrência com Ricardo Nunes apresenta um obstáculo significativo. Os especialistas destacam a necessidade urgente de a esquerda reestabelecer conexões com os eleitores, observando que a renovação não diz respeito apenas a novos nomes, mas também à adoção de novas agendas políticas.
O índice de abstenção nas eleições municipais de 2024 foi de 21,71%, o que supera a taxa registrada em 2016, mas é inferior àquela observada em 2020, durante a pandemia de Covid-19. Couto adverte que a interpretação do aumento da abstenção deve ser feita com cautela, especialmente considerando que a justificativa de ausência pôde ser realizada por meio do aplicativo e-título. A análise dos resultados indica um desencanto maior com a esquerda, que obteve desempenho inferior ao da direita nas eleições.
Os especialistas também mencionam a influência das emendas parlamentares nas disputas eleitorais, um ciclo que se retroalimenta. As emendas garantem recursos para as bases eleitorais, facilitando o apoio a candidatos a prefeito e vereador, enquanto deputados contribuem com a eleição de prefeitos e fortalecem sua base de apoio.
*Com informações da RFI.
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