A Discolândia, a mais antiga loja de discos de Feira de Santana, completa seis décadas de atividade, sendo 54 anos sob a administração de Enoque Calazans Coelho, conhecido como “Coelho”. Ex-jogador de futebol e especialista no mercado musical, Coelho representa uma memória viva das mudanças na indústria fonográfica e na cultura popular da cidade. Sua transição dos campos para o universo da música começou após uma lesão no joelho direito, em um confronto entre Colo-Colo e Bahia de Feira em 1967. Com 21 anos, o atacante promissor foi atingido duramente pelo zagueiro Messias, o que resultou em quatro cirurgias e o afastou do futebol profissional.
A loja, localizada na Galeria Caribé, resiste às mudanças tecnológicas que transformaram o consumo de música ao longo das décadas, como o surgimento de plataformas digitais e a obsolescência dos LPs, CDs e fitas cassete. Coelho, no entanto, encontrou na venda de discos e fitas uma nova forma de se destacar. Com conhecimento profundo de estilos musicais e artistas, ele tornou a Discolândia uma referência para colecionadores e amantes da música na Bahia.
A relação entre Coelho e a música remonta à época em que Roberto Carlos era um dos principais vendedores de discos do Brasil. Os lançamentos de fim de ano do cantor se tornaram tradição, atraindo compradores ansiosos, muitos deles colecionadores dedicados, como Hélio Oliveira, um dos clientes mais fiéis da loja. Coelho recorda que, naqueles tempos, a venda de discos era garantida, e a loja recebia encomendas até mesmo antes do lançamento oficial.
Sua preferência musical inclui artistas como Barry White, Frank Sinatra e Roberto Carlos, mas Coelho não se limita a nomes específicos, prezando pela qualidade das composições. Observador atento das tendências musicais, ele acompanha a evolução dos gêneros e acredita que a música reflete o espírito da época. Segundo ele, o mercado atual é marcado pela rapidez e pela volatilidade, com canções que muitas vezes são rapidamente substituídas por novos sucessos.
A visão de Coelho sobre o futebol também se relaciona com essas transformações. Ele aponta que, tal como a música, o esporte perdeu o espaço para a técnica refinada e para o romantismo de outrora. No futebol atual, a pressão física e a competitividade intensa reduzem as oportunidades para lances habilidosos. No entanto, Coelho permanece fiel a seus clubes de coração: o Fluminense de Feira e o Flamengo do Rio de Janeiro.
Aposentado dos campos, ele ainda pratica futebol recreativo, mesmo com as limitações decorrentes de sua lesão, e se lembra com saudade da época em que jogava profissionalmente. Sua rotina tranquila, focada na família e no trabalho na Discolândia, mantém a loja ativa, oferecendo uma opção cultural única em Feira de Santana. Coelho ressalta que, embora as inovações tecnológicas tenham transformado a forma de consumir música, a Discolândia mantém viva a essência de um tempo em que a música e o futebol eram mais lentos, mas repletos de significado.
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