A imprensa francesa destaca os efeitos devastadores das enchentes na Espanha, retratando a situação em suas capas e analisando as causas climáticas do fenômeno. As enchentes, que resultaram em um elevado número de mortos e danos significativos, suscitam preocupações acerca da inação do governo da região de Valência em emitir alertas apropriados à população. Os jornais enfatizam a necessidade de investimentos em projetos que possam mitigar os impactos de eventos climáticos extremos e abordam a complexidade da busca por pessoas desaparecidas.
O jornal Le Figaro menciona que a região de Valência, sob a liderança do governo de direita, não transmitiu os alertas emitidos pela Agência Estatal de Meteorologia (Aemet). Na terça-feira (29/10/2024), às 9h41, a Aemet elevou o alerta para o nível vermelho na província, que enfrentava as chuvas torrenciais mais intensas e registrava o maior número de fatalidades. Os meteorologistas alertaram sobre o fenômeno da “gota fria”, que representava um risco extremo na área, o mais grave em seu sistema de alertas. Embora a Aemet tenha redobrado os alertas ao meio-dia, incluindo um vídeo do porta-voz da agência aconselhando a população a permanecer em casa, o governador da região, Carlos Mazon, do Partido Popular (PP), publicou uma mensagem nas redes sociais às 13h14, minimizando a gravidade da situação.
A falta de uma resposta rápida e eficaz por parte das autoridades competentes, que aguardaram mais de 10 horas para orientar a população a buscar abrigo, gerou severas críticas do Le Figaro. O jornal observa que, quando o governo regional finalmente reconheceu a gravidade da situação, a província já havia sofrido consideráveis danos. Muitos motoristas, que se encontravam presos em engarrafamentos e em estradas bloqueadas, poderiam ter evitado a situação se tivessem sido adequadamente informados dos riscos.
A análise do Le Figaro ressalta que o atraso na comunicação é incompreensível e questiona a razão pela qual as autoridades políticas optaram por ignorar os avisos científicos, colocando em risco a população. A reportagem apresenta entrevistas com especialistas que indicam que a inação governamental pode estar relacionada a receios de que as recomendações poderiam interromper atividades econômicas.
O fenômeno natural e suas implicações
O jornal Le Monde analisa o fenômeno da “gota fria” e entrevista o geólogo Antonio Aretxabala, especialista em catástrofes naturais. O especialista explica que a intensificação das chuvas torrenciais na região está relacionada ao aumento anômalo da temperatura do Mar Mediterrâneo, causado pelo aquecimento global, que estabeleceu novos recordes neste verão. Em um curto período, a região valenciana registrou quase 500 litros de chuva por metro quadrado, o que equivale à precipitação anual.
O Le Parisien aborda a necessidade de repensar os projetos urbanos para reduzir os riscos de inundações repentinas, citando o urbanista Clément Gaillard, que critica a canalização de rios realizada na década de 1950, enfatizando que essas ações tornaram as cidades mais vulneráveis a desastres naturais.
O jornal Libération concentra-se nas consequências trágicas das enchentes, com pelo menos 158 fatalidades registradas em Valência. As autoridades locais alocaram € 250 milhões para prosseguir com as operações de busca por desaparecidos.
Espanha intensifica buscas por desaparecidos
A Espanha enfrenta uma das piores crises climáticas de sua história, com as autoridades em busca de vítimas das enchentes que atingiram a região de Valência. O ministro da Política Territorial, Ángel Víctor Torres, informou que “dezenas e dezenas” de pessoas continuam desaparecidas após as chuvas intensas que causaram a morte de pelo menos 158 pessoas. A expectativa é que o número de vítimas aumente à medida que as operações de resgate progridem.
As operações de resgate mobilizam quase mil soldados, que trabalham em conjunto com mergulhadores, helicópteros e cães farejadores nas áreas mais afetadas. O governo espanhol destaca a importância de minimizar riscos e já realizou um apelo à população para que permaneça em suas residências. As condições climáticas adversas e a intensidade das chuvas dificultaram as atividades de busca e recuperação.
Os relatos de sobreviventes revelam a gravidade da situação. Mari Carmen Rodríguez, uma residente de Manises, compartilhou sua experiência angustiante durante a enchente, que a obrigou, junto com seu parceiro, a se refugiar em um centro de acolhimento. Eles enfrentaram a força das águas que subiam rapidamente em sua residência, levando-os a se abrigar no telhado por cerca de 12 horas antes de serem resgatados por um helicóptero. Segundo ela, o alerta oficial sobre as enchentes chegou tardiamente, quando já não havia alternativas.
As chuvas torrenciais que atingiram a região de Valência entre a noite de terça-feira (29) e a manhã de quarta-feira (30) resultaram na maioria das fatalidades. Das 158 mortes confirmadas, 155 ocorreram em Valência, enquanto duas ocorreram na província de Castilla-La Mancha e uma na Andaluzia. As autoridades regionais indicam que o cenário pode se agravar, mas não divulgaram informações detalhadas sobre o número exato de desaparecidos.
O chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, visitou o centro de coordenação das operações de emergência em Valência e reafirmou o compromisso de buscar todas as pessoas desaparecidas utilizando todos os recursos disponíveis. Ele enfatizou a necessidade de evitar deslocamentos nas áreas afetadas, uma vez que o fenômeno meteorológico permanece ativo.
Além da perda de vidas, milhares de pessoas continuam sem eletricidade, e diversas estradas permanecem bloqueadas devido a veículos arrastados pelas enchentes. O serviço ferroviário entre Madri e Valência deve permanecer suspenso por um período mínimo de três semanas, conforme anunciado pelo ministro dos Transportes. Em Paiporta, uma cidade nos arredores de Valência, a prefeita confirmou que pelo menos 62 pessoas perderam a vida, destacando o impacto devastador das enchentes.
Os moradores da região, ainda em estado de choque, tentam retomar a normalidade. David Romero, um jovem músico, descreveu o cenário de destruição, afirmando que “não existe mais um negócio em pé”, refletindo a magnitude da devastação causada pelas enchentes. As autoridades e a população se mobilizam para enfrentar as consequências deste evento climático sem precedentes.
*Com informações da RFI.
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