As eleições municipais de 2024 suscitaram análises distintas entre especialistas políticos sobre os resultados e seu impacto no cenário nacional. Embora portais de notícias tenham afirmado que o centro político emergiu como vencedor, divergências no meio acadêmico questionam a simplicidade dessa análise e argumentaram que a classificação de “vitória do centro” não traduz com precisão as dinâmicas locais e nacionais das eleições no Brasil.
O Brasil, com suas 5.570 cidades, apresentou um quadro eleitoral fragmentado. Partidos de esquerda, como PT, PV, Rede, PCdoB, PDT, PSB, PSOL e PSTU, conquistaram um total de 752 prefeituras, enquanto os outros 4.817 municípios foram vencidos por partidos considerados de centro e direita. Essa distribuição reforça a continuidade de uma tendência política vista desde 2016, quando o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em meio ao contexto da Lava Jato, resultou em um movimento de avanço do conservadorismo no país. Vale lembrar que Brasília, sendo uma unidade federativa e não um município, não tem prefeito, o que explica a contagem total de 5.569 prefeituras.
A categorização dos partidos em espectros políticos diferentes gera divergências. Poder360 e UOL, por exemplo, classificam partidos como PP, Avante, Rede e Cidadania de forma distinta, o que leva a conclusões variadas sobre quem são os reais vitoriosos e derrotados no espectro político.
Para Rosemary Segurado, cientista política e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a definição de centro no Brasil é imprecisa. Segundo ela, o Partido Social Democrático (PSD), de Gilberto Kassab, é frequentemente considerado de centro devido à participação no “centrão” — um bloco de partidos no Congresso que negocia apoio com o Executivo.
“Ideologicamente, essas legendas tendem à direita”, pontua Segurado.
A análise de Robson Carvalho, pesquisador do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), observa uma significativa derrota do bolsonarismo nas urnas, em detrimento de uma eventual vitória do centro. Segundo Carvalho, candidatos que usaram retórica extremista foram rejeitados, salvo exceções como Abilio Brunini (PL) em Cuiabá.
“Em Fortaleza, por exemplo, Eduardo Leitão (PT) venceu pela rejeição ao discurso radical e à violência política expressada pelo adversário”, afirma Carvalho.
Ainda no contexto das eleições municipais, a reeleição de Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo também ilustra a tentativa de moderação. Nunes, que buscava se afastar da imagem direitista, usou a figura de Pablo Marçal (PRTB) para se posicionar como moderado em relação a Marçal e Guilherme Boulos (PSOL). A disputa na capital paulista também revelou limitações no impacto dos apoios presidenciais. A campanha de Boulos em 2024 obteve 40,65% dos votos válidos, praticamente o mesmo percentual que em 2020, apesar de contar com apoio mais amplo.
Carvalho também sugere que o resultado das eleições municipais deve ser visto com cautela em relação a projeções para 2026.
“A escolha local reflete interesses específicos e não pode ser diretamente associada ao cenário presidencial,” comenta.
Entretanto, ele aponta que o Congresso pode sofrer influência desses resultados, especialmente na composição de deputados federais, estaduais e senadores.
*Com informações da Sputnik News.
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